«O pai de duas filhas não podia esperar o dia todo pelo treino das sete da tarde». Quando Luís Castro deixou de ser jogador profissional encarou o mundo com toda a naturalidade possível e fez-se à vida como qualquer outro. «Era comercial e andava na minha carrinha de embalagens de cartão. Era feliz, feliz da minha vida». O ritual repetia-se sempre: no Águeda, no Mealhada e no Estarreja saía de manhã em direcção à empresa e só regressava a casa, à noite, depois do treino.
A felicidade explica-se em poucas palavras. «Fazia aquilo que mais gostava depois de um dia de trabalho, que era treinar uma equipa de futebol, mostrava às minhas filhas que o pai delas tinha capacidade e humildade para trabalhar durante o dia». Quando estava no Águeda, na II Divisão B, levou a única chicotada da carreira por causa dos resultados e a sua ocupação como comercial salvou-o de cair no vazio total do desemprego. «Trabalhar nunca deve ser vergonha para ninguém, apenas um motivo de honra. Foi uma experiência de vida de que me orgulho muito».
A saga só terminou quando deixou o Estarreja e aceitou o convite da Sanjoananse, da II Divisão B, que exigia outro tipo de dedicação. Luís Castro recorda o passado sem vacilar nos gestos e num tom de voz sereno e descontraído. È aqui que chega a um dos pontos-chave: «Digo sempre aos meus jogadores que devemos dedicar o nosso trabalho a quem nos abre a porta depois de uma derrota como se tivéssemos vencido o jogo. Temos de dedicar o trabalho à nossa família. A relação humana que tenho com os meus jogadores é fruto da educação que tive, agradeço-a aos meus pais. Sou um líder, mas um líder sem chicote, estou sempre próximo da minha equipa».
Nesta altura evoluía como treinador, aprendia e absorvia conceitos, ia dando passos pelos seus próprios pés até chegar ao Penafiel. «Nos meus primeiros anos tinha estruturas tácticas muito rígidas, era tudo muito mecânico e tirava a criatividade aos jogadores. Hoje não, hoje dou liberdade à criação, porque é isso que dá beleza ao jogo». E hoje recorda alguns treinadores que teve: Mário Wilson, António Morais, Marinho Peres, Paulo Autuori, Fernando Peres, Tomé, Carlos Cardoso, António Fidalgo, Vieira Nunes, Pedro Gomes. «Se calhar, esqueci-me de algum». Referências? «Não tenho. Há treinadores que admiro, mas procuro ser muito eu. Leio jornais, vou à Internet, leio livros sobre futebol, sobre psicologia. Sigo o meu caminho e nunca me guiei por aquilo que os outros fazem».