Esteve dez anos no FC Porto, entre 2006 e 2016 (depois de treinar o Penafiel e antes do experiência na época passada no Rio Ave): foi coordenador da formação e o treinador que levou a equipa B à conquista da II Liga.

Pelo meio, foi chamado para uma missão de serviço no final da época 2013/14, após a saída de Paulo Fonseca. A experiência durou três meses.

Soube a pouco? “Soube bem”, responde o atual técnico do Desp. Chaves nesta parte da entrevista ao Maisfutebol em que recorda a sua passagem pelo Olival e pelo Dragão.

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Falemos agora sobre a sua passagem sobre o FC Porto. Esteve no clube cerca de dez anos.

Sete como diretor técnico da formação e três como treinador.

Foi o tempo necessário?

Foi o tempo que o tempo me permitiu estar.

São funções absolutamente distintas, não?

Sim, como diretor técnico todos os dias discutia treino. Tinha vinte e tal treinadores para liderar. Tinha de falar de treino, de análise de jogadores, sobre o que valia cada um... Era um processo dinâmico de erro e acerto. Aí é que o futebol está presente de manhã à noite. Muitas vezes entrava no Olival às 8h30 e saía 19h30 ou 20h30. Com 12 horas de trabalho em cima. Muitas reuniões, muitas saídas ao estrangeiro. Foram anos enriquecedores. Ter estado numa organização daquelas deu-me a consciência clara do que é uma estrutura, que departamentos são necessários e como se comunica entre eles e com o exterior.

Há uma abrangência de conhecimento que o enriqueceu.

Não é por acaso que em determinado momento eu tinha convites para ser diretor desportivo, diretor técnico…

Mas prefere treinar, não?

Adoro treinar... [risos]. Treinador é a melhor profissão do mundo quando se ganha e a pior quando se perde. Mas no treino não se ganha ou perde e eu adoro treinar. Melhor do que um treininho, só dois treininhos.

Que principais diferenças encontrou, em relação à equipa B, nos três meses em que treinou a equipa principal do FC Porto, no final da época 2013/14, após a saída de Paulo Fonseca?

A proposta de trabalho é desenvolvida no topo. Os jogadores são de uma capacidade incrível. Diferenciam-se pela humildade para o trabalho e pelo talento. São jogadores de uma capacidade mental fantástica. Foi isso que me surpreendeu e eu sou um apaixonado por esse nível competitivo.

Soube-lhe a pouco essa experiência na equipa principal do FC Porto?

Soube-me bem. [risos] Não sou saudosista. Gostaria que tivesse sido mais tempo, mas desenvolvi trabalho, fi-lo da melhor forma que soube. Hoje, certamente teria feito de outra forma. Estava no treino há sete meses, depois de sete anos parado. Não foi o timing ideal para mim, mas para o clube sim, porque estava numa grande instabilidade na altura e era preciso paz. Havia muita contestação. Eu não resolvi nada. Só ajudei a que o tempo passasse para que depois começassem outro caminho.

Apaziguou aquele período conturbado após a saída de Paulo Fonseca?

Ganhámos todos os jogos em casa, eliminámos logo de entrada o Nápoles na Liga Europa… A comunicação também chegou onde eu queria que ela chegasse.

Ser um homem da casa facilitou?

Era um profissional do clube há muitos anos. É engraçado como somos conotados com este ou aquele clube. Eu sou um profissional. Sou do clube que represento. Fui do FC Porto. No ano passado era do Rio Ave. Agora sou do Chaves. E no futuro posso ser da instituição que representar. Quem vive neste clima de guerrilha permanente pensa: “o que é que eu posso descobrir nele para armar aqui um caso para podermos discutir mais umas horinhas e ganhar mais um dinheirinho?” Eu quero é ser conotado com a minha competência ou incompetência.

No FC Porto venceu a II Liga com a equipa B. Acha que esse feito foi devidamente valorizado?

Foi muito valorizado por mim e pela estrutura que me acompanhava. Isso é o que me interessava. Quero é que seja importante para mim.

Considera que os clubes têm aproveitado bem os talentos das equipas B?

O que interessa é o mundo do futebol aproveitá-los. Como treinadores não os preparamos só para determinado clube, mas para o futebol. Na altura, o meu ideal era “formar jogadores universais”: que entendessem bem o jogo, que jogassem em qualquer sistema e que pudessem jogar em qualquer parte do mundo.

É mais fácil a perceção da sua mensagem enquanto treinador por parte desses jovens da formação ou por parte de jogadores já feitos, como aqueles que treina agora?

É fácil de um lado e de outro. Quando trabalhamos com jogadores jovens, temos de ensinar o jogo e a vida. Focar aspetos do que deve ser um jogador profissional, relações com os amigos, com a comunicação social. Isso fica para trás quando passamos para o patamar profissional. Aí, abordamos sobretudo o jogo, as dinâmicas e tudo aquilo que gira à volta.

No entanto, também apela também ao lado psicológico nos seniores?

A forma como abordamos as questões táticas também tem que ver com isso. Se eu disser: “Para termos sucesso temos de entrar neste corredor e aparecer com três na área…” estou a abordar uma questão tática, mas falo em sucesso para motivar esse lado psicológico.

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artigo atualizado: hora original 23:56, 17-05-2018