Gilberto Madail, em nome da FPF, pediu desculpas a todos os portugueses pela campanha horribilis de Portugal nos Jogos Olímpicos. Fez bem, porque foi mau de mais. Mas, ao acrescentar-lhe que quem devia ter estado à frente da equipa seria Scolari e não Romão, caiu no descrédito e numa tentativa fracassada de escapar às responsabilidades. Às duras responsabilidades. Afinal, é legítimo perguntar-se, quem manda na federação portuguesa?
1. José Romão está em final de contrato e chegou ao fim do seu percurso como treinador nacional. Gilberto Madail puxou-lhe o tapete com força a mais, depois de ter confiado que este levaria a selecção olímpica a uma boa prestação. É legítimo pedir a cabeça do técnico - por aquilo que não conseguiu fazer em terras gregas -, mas, como em muitas outras coisas da vida, Romão não é nem nunca pode ser o único responsável. O treinador e seleccionador olímpico não se nomeou a si mesmo para o cargo e por isso são injustificáveis as declarações do dirigente no que se refere a Scolari.
2. Ao anúncio de que o treinador terá remetido para mais tarde um balanço sobre o que foi a presença olímpica, o presidente federativo voltou a mostrar que não consegue lidar de forma serena com o fracasso, seu e das pessoas que o rodeiam. Ao reivindicar que Romão, nessa declaração, diga «tudo», «até as condições em que está na Federação», Madail reconhece que o processo que levou à entrada (e talvez continuidade) do técnico nos «quadros» nacionais não foi pacífico e muito menos natural. Mas essas «condições» foram acordadas, de forma mais ou menos passiva, pelas duas partes.
3. Madail não se pode esquecer de que é presidente da FPF e de que qualquer «lavagem de roupa suja» desprestigia o futebol português. Depois do Mundial 2002 com António Oliveira, o responsável volta a entrar num conflito público com um seleccionador. Apesar de se poder admitir alguma infelicidade nas escolhas, mais uma vez o dirigente não as herdou de uma direcção anterior, foi parte activa nas mesmas. Logo...

P.S. Paulo Sousa será, ao que tudo indica, assessor de Madail. Nada contra o facto de ex-futebolistas assumirem cargos de importância no futebol português, até porque são eles que melhor conhecem o jogo. Mas não se percebe ao certo o que o antigo internacional vai fazer na Federação. Mais uma vez, a FPF começou pelo fim: geralmente cria-se primeiro o cargo e depois escolhe-se alguém para o ocupar. Não foi isso o que aconteceu, o que dá a entender que o nome é mais importante do que o que vai fazer.