Jorge Amaral está satisfeito com os primeiros meses no comando técnico do South China, actual 3º classificado da liga de futebol de Hong-Kong. Três jogos, duas vitórias e um empate no início da caminhada da comitiva lusa em território desconhecido. O treinador português levou consigo João Festas, como adjunto, e os jogadores Marco Almeida, Correia, Carlos Oliveira e Hugo Coelho. Juntos, procuram contornar os obstáculos e potenciar o espectáculo do futebol na zona asiática.
O diálogo com os jogadores locais é uma das principais dificuldades para Jorge Amaral, conforme explicou o treinador, em conversa com o Maisfutebol. Plíneo Sousa, natural de Macau, era uma importante ajuda, mas as qualidades futebolísticas do atleta não eram suficientes para convenceram a equipa técnica portuguesa e, há algumas semanas, perdeu-se o único elo de ligação com a maioria dos jogadores: «Já nem tenho tradutor¿. Era um rapaz de Macau, que veio para cá e ajudava, mas quando viu que não ia ter hipóteses de jogar, foi-se embora. Temos utilizado algumas palavras em chinês e procuramos contactar com eles por gestos, na linguagem universal do desporto.»
«É uma delícia viver aqui, mas o futebol é bastante amador. As condições de treino são uma desgraça e a maioria dos estádios também. O único clube que tem campo para treinar é o nosso. Mesmo assim, às 16h45, temos obrigatoriamente de sair do campo, porque a seguir surgem os praticantes de golfe. O clube é bastante eclético, tem cerca de trezentos sócios a praticar diversas modalidades, como o tiro, o atletismo. Tudo concentrado num edifício enorme. Basta ver que os nossos balneários são no 13º andar. Isto está aberto 24 horas por dia», relata Jorge Amaral.
A hipótese de desbravar terreno e alargar horizontes motivaram o treinador português a aceitar o convite, apesar das condições financeiras e logísticas estarem longe do nível do que poderia encontrar em Portugal. «Não temos massagista, não há vitaminas para os jogadores, mas o trabalho acaba por ser mais aliciante. Estamos a conseguir algumas coisas, mas a exigência é muito grande. Exigem muito, mas o pagamento não é nada de extraordinário. Aliás, não foi por dinheiro que viemos. Foi pelo aliciante de descobrirmos uma nova realidade. Esta é a segunda capital financeira do Mundo, e temos a possibilidade de fazer nome na Ásia e agarrar novos desafios», explicou.
Jorge Amaral revela que o futebol ocupa uma posição modesta no ranking de popularidade, em Hong-Kong. «Este é o clube com mais títulos em Hong-Kong, mas nos últimos anos não tem estado bem. O presidente é um magnata, uma pessoa espectacular, e que fazer de nós estrelas. Mas é difícil. O futebol, aqui, é um desporto menor. As pessoas gostam mais de jogos de azar, por causa das apostas. Gostam de corridas de cavalo, de basquetebol, atletismo e vários outros desportos antes do futebol. O futebol não é bem jogado aqui e, como a televisão está sempre a passar jogos do campeonato inglês, as pessoas comparam e perdem o interesse. Costumamos ter cerca de 2 mil pessoas nas bancadas», explica.
O treinador do South China não conta com a presença da sua família, ao contrário dos restantes representantes lusos, procurando enquadrar-se rapidamente a uma nova realidade, desportiva e social. «Viemos à descoberta, infelizmente ainda não pude trazer a minha família. Os jogadores trouxeram. Estamos numa cidade com 7 milhões de habitantes, em permanente ebulição. Atravessar a rua às 18 horas é uma aventura, o movimento é descomunal. A comida? Quem não gosta, não come. Posso dizer, por exemplo, que a comida chinesa é divinal, nada tem a ver com a dos restaurantes chineses em Portugal. A principal dificuldade é o nível de humidade, sempre muito alto», concluiu.