Cristiano Ronaldo defendeu, na última quarta-feira, que a Liga saudita é superior à portuguesa. Luís Castro ainda não considera que o campeonato da Arábia Saudita seja melhor que a Liga nacional, mas acredita que «poderá passar para um patamar superior» se continuar a evoluir como o que se espera.

«A Liga saudita tem qualidade, tem associados os melhores jogadores do mundo e está a crescer. Vão já dizer-me que, no início de época, levámos cinco [4-1] do Benfica, em que perdemos bem e devíamos até ter perdido por mais, mas, projetando o que fomos na altura e o que somos hoje, talvez agora fosse um jogo muito equilibrado. Portanto, podemos dizer que as Ligas estão num nível bom, embora a Liga saudita poderá passar para um patamar superior, se evoluir para o que se espera», referiu o técnico aos jornalistas antes da partida de Lisboa para Riade.

O treinador, que passou uns dias em Portugal durante a paragem para os compromissos das seleções, refletiu ainda sobre a cultura desportiva nacional.

«Apoiar um clube não é necessariamente estar contra outro clube. É fundamental nós todos percebermos isto. Se todos tivermos esta atitude, vamos num caminho melhor do que o caminho do confronto. Devemos olhar para as situações com respeito e, de forma harmoniosa, tentar levar as coisas para onde nós queremos», disse.

Luís Castro entende que Portugal «tem muito a ganhar» se se mantiver «no caminho da evolução de jogadores jovens e das academias, em contratar os melhores jogadores que conseguir com o seu poder financeiro e se puder, olhar para dentro de si próprio e recrutar os melhores jogadores que vão emergindo neste ou naquele clube».

«São três vetores de crescimento que acho que serão determinantes no crescimento da Liga. Se todos estivermos convencidos de que isto é viável, acho que poderemos ter um crescimento acentuado. Nos últimos anos, temos tido uma seleção nacional a entregar troféus e os clubes podem muito bem acompanhar o crescimento da seleção», realçou.

O técnico do Al Nassr usou como exemplo a visibilidade da Liga saudita em países como Brasil ou Espanha, que transmitem a competição, ao contrário da Liga portuguesa e pediu colaboração entre todos.

«Sei que é uma preocupação dos responsáveis portugueses fazer uma Liga melhor, mas só há possibilidade de isso acontecer quando todos se sentarem à mesa e, de maneira frontal e respeitosa, perceberem qual o caminho a percorrer. Agora, se cada um olhar para dentro de si e quiser percorrer o próprio caminho, independentemente do que os outros clubes estão a fazer, é impossível melhorar. Não digo que todos têm de pensar de forma igual, mas, ao emitir opiniões, todos têm de perceber qual é o resultado das reflexões que os outros fazem das opiniões e, depois, chegar a um consenso», defendeu.

Luís Castro passou em revista o mercado de transferências do Al Nassr, um dos clubes sauditas que mostrou enorme capacidade financeira nesta última janela, e disse que o dinheiro tem fim. «[O dinheiro] Parece não ter fim, mas tem, porque eu tive dificuldade em contratar e perdi jogadores que queria. O clube contratou outros que queria, mas, pelo caminho, perdemos alguns», revelou, em relação ao mercado de transferências que vai terminar.

O treinador de 62 anos deixou elogios a Cristiano Ronaldo, capitão da seleção nacional que foi um dos pioneiros na aventura saudita. «O Cristiano, assim como todos os jogadores que estão dentro do plantel, tem dado o melhor dele. Será sempre uma referência pela forma diária como trabalha e recupera, como se alimenta, como descansa e como olha para a sua profissão, que o apaixonou desde miúdo e que continua dentro dele essa paixão, nota-se diariamente», expressou.

Já em relação a Otávio, contratado ao FC Porto por 60 milhões de euros, Luís Castro apontou a necessidade de ter jogadores com «personalidade e caráter muito fortes» para aguentar as condições de jogo na Arábia Saudita.

«Para além de contratarmos jogadores bons, têm de ser jogadores com personalidade e caráter muito forte. Só um caráter forte consegue aguentar temperaturas tão altas. Temos jogado entre os 35 e os 40ºC e temos dado muito de nós. O Otávio entrou na caracterização do jogador para a posição e tem sido uma adaptação muito boa. É um jogador que se entrega muito ao jogo e tem no meio-campo colegas também com um andamento muito forte. É mais um a ajudar-nos a tentar conquistar títulos», concluiu.