28 de fevereiro de 2016 é uma data que ficará na história da Liga grega de futebol. É verdade que um título do Olympiakos está longe de ser uma surpresa (são 18 nos últimos 20 anos), mas nunca tinha acontecido em fase tão madrugadora da época. Obra e graça de Marco Silva, o líder para o hexacampeonato.

Depois da saída do Sporting que tanta tinta fez correr, foi em Atenas que Marco Silva encontrou refúgio para voltar a focar-se apenas em futebol e os resultados mostram que a aposta foi certeira. Se, como se disse, vencer no Olympiakos não é novidade, fazê-lo como Marco Silva merece relevo. A data do título é um pormenor importante claro (é o mais rápido de sempre), mas há outros dados a ter em conta.

Neste que foi o 43º título da história do emblema helénico (mais do que os rivais todos juntos), destacou-se a saga impressionante de vitórias que constituiu novo recorde no campeonato: foram 17 jogos seguidos sempre a vencer, nas primeiras jornadas, ou seja, mais de uma volta inteira do campeonato.

Foi já em janeiro, na deslocação ao terreno do Platanias Chania que o Olympiakos cedeu os primeiros pontos, com um empate. De lá para cá, sofreu a única derrota da época na Liga, frente ao rival AEK, e venceu os restantes jogos.

A diferença atual para o segundo classificado é de 18 pontos (o AEK bateu o Panathinaikos nesta ronda) e constitui a maior de sempre do campeão para o segundo. Segurá-la ou aumentá-la é o desafio para Marco Silva nas seis jornadas que faltam, além da Taça da Grécia.

Mais um homem de sucesso no país de Fernando Santos

Marco Silva é mais um treinador português a ser feliz na Grécia. Tal como Leonardo Jardim ou Vítor Pereira conseguiu-o debaixo da alçada do clube que dá mais garantias. Já outros falharam noutras paragens, mas há um nome que é, ainda hoje, uma espécie de Deus grego, respeitado por todos, sem nunca ter treinado o Olympiakos. Fernando Santos, o atual selecionador nacional, claro.

Fernando Santos nos tempos da seleção grega

O técnico ganhou estatuto de referência depois do trabalho que fez no AEK Atenas onde chegou em 2001, depois de três anos no FC Porto. E nem precisou ser campeão. Venceu a Taça da Grécia nesse ano, mudou-se para o Panathinaikos, que na altura tinha estatuto bem mais elevado, mas não correu bem.

Intervalado com passagens pelos dois grandes de Lisboa, voltou ao AEK de Atenas, liderou o PAOK e chegou à seleção grega. Não é exagero dizer que foi Fernando Santos a abrir caminhos para outros treinadores portugueses no país.

Como se disse, os casos de maior sucesso, à parte de Santos, foram os anteriores técnicos do Olympiakos. Vítor Pereira, que entrou em janeiro do ano passado e foi campeão. Leonardo Jardim que iniciou a temporada 2012/13 e saiu com a equipa em primeiro, mas antes de ser consumada a vitória no campeonato.

Menos feliz foi a experiência de Jesualdo Ferreira no Panathinaikos, mesmo terminando a época 2011/12 em segundo, a sete pontos do Olympiakos. Também José Peseiro tinha passado pelos «verdes» de Atenas, em 2007/08, acabando a época em terceiro, num dos anos mais competitivos da última década: o Olympiakos foi campeão, com mais dois pontos que o AEK e quatro que o Panathinaikos.

Fora dos grandes emblemas gregos, há a salientar a passagem de Carlos Carvalhal pelo Asteras Tripolis em 2008/09, ficando ligado a um ano menos positivo da equipa que tinha sido sétima na temporada anterior e foi 12ª nessa, com menos 11 pontos somados.

Mais recentemente, Ricardo Sá Pinto fez um trabalho muito bom no OFI Creta em 2013/14, ficando às portas da Europa, um ano após o clube ter sido salvo no limite da despromoção. No ano seguinte mudou-se para o Atromitos mas o cenário foi bem diferente: apenas quatro vitórias em 17 encontros.

Para terminar o capítulo das aventuras portuguesas na Grécia, pode ainda lembrar-se a efémera passagem de Augusto Inácio pelo Ionikos. Durou dois meses: o clube lutava para não descer, desceu mesmo e o técnico luso saiu antes do fim da época por não ter interesse em treinar na II Divisão grega.

Grécia: o país onde os treinadores portugueses são mais felizes

Esta conquista de Marco Silva reforça ainda a importância do campeonato grego na afirmação do treinador português na Europa do futebol. É a Liga europeia que mais treinadores portugueses campeões teve, excetuando, como é óbvio, a Liga nacional.

O tal trio de campeões no Olympiakos constitui um cenário à parte. É verdade que o treinador português tem vindo, nas últimas duas décadas, a ganhar força no plano europeu, mas os títulos não são uma realidade simples de atingir.

É por isso que a temporada transata foi deveras positiva nesse quesito, com quatro técnicos portugueses campeões no estrangeiro: Vítor Pereira na Grécia; André Villas-Boas na Rússia, pelo Zenit; Paulo Sousa na Suíça, pelo Basileia; e José Mourinho em Inglaterra, pelo Chelsea.

Mourinho continua a ser, claro está, o principal caso de sucesso, tendo já festejado títulos em Inglaterra, Espanha e Itália.

Antes do emergir de Mourinho, o caso de maior sucesso luso fora de portas, no que a treinadores diz respeito, tinha sido Artur Jorge, bicampeão ao serviço do Paris Saint-Germain. Venceu o primeiro título em 1992/93, pela via administrativa depois da suspensão aplicada ao Marselha, e o segundo, no ano seguinte, agora em campo.

Treinadores portugueses campeões nas Ligas Europeias:

Espanha: José Mourinho (Real Madrid)

Inglaterra: José Mourinho (Chelsea)

Itália: José Mourinho (Inter de Milão)

França: Artur Jorge (PSG)

Rússia: André Villas-Boas (Zenit)

Suíça: Paulo Sousa (Basileia)

Roménia: Jorge Costa (Cluj)*

Grécia: Leonardo Jardim*, Vítor Pereira** e Marco Silva (Olympiakos)

*- Não terminou a época

**- Não começou a época

Um ano antes de Marco Silva, foi Vítor Pereira a festejar

E este ano, haverá algo mais além de Marco Silva? Com José Mourinho desempregado, as atenções centram-se essencialmente em dois nomes: Paulo Sousa e Vítor Pereira.

Apesar da excelente temporada que protagoniza ao serviço da Fiorentina, Sousa está longe de ser favorito ao título em Itália. Já teve momentos de maior fulgor mas segue no pelotão da frente à espera de escorregadelas alheias. Nesta altura a diferença para o líder Juventus é de nove pontos, mas com um jogo a menos.

Mais provável, até porque é um dos grandes favoritos, embora também difícil, seria uma festa lusa na Turquia, onde o Fenerbahce de Vítor Pereira é líder com mais dois pontos, mas também mais dois jogos que o Besiktas, sendo que esta segunda há dérbi de Istambul entre os dois primeiros. 

Em França, o Mónaco de Leonardo Jardim é segundo mas a uns incríveis 23 pontos do PSG. Muita coisa. O Apollon de Pedro Emanuel, por exemplo, é quarto na Liga do Chipre mas a «apenas» 10 pontos do líder APOEL, ou o Zenit de Villas-Boas é sexto na Liga russa com menos sete pontos que o líder CSKA Moscovo...