Subitamente, na última quarta-feira, Cristiano Ronaldo deixou de ser o português mais falado em Espanha. O enredo, tão improvável quanto polémico, envolveu Nuno Silva, avançado português de 29 anos que na última temporada representou o Santa Clara (II Liga), uma camisola e a cara estampada do general Francisco Franco.

A gaffe, ocorrida durante a cerimónia de apresentação no Real Jaén (II Divisão B espanhola), correu o Mundo e já foi prolongadamente esmiuçada. O Maisfutebol tentou, por isso, perceber a forma como o futebolista, natural de Matosinhos, viveu o acontecimento mais mediatizado da sua carreira.

Como estão a ser as horas subsequentes ao episódio da camisola na cerimónia de apresentação?
«Os últimos dias têm sido completamente diferentes de tudo aquilo que vivi na carreira. Há quem tenha dificuldade em entender que foi um ato involuntário. Talvez nunca vão entender e, por isso, criticam nas redes sociais. O lado positivo é que o Real Jaén é o clube mais falado do momento em Espanha, embora tenhamos consciência de que é momentâneo».

Apesar desse otimismo, houve alguma coisa que o deixasse triste?
«Sim, entristeceu-me as coisas sem sentido que se disseram em Portugal, quando deveriam apoiar-me por ser português. Fiz questão de comunicar que foi um erro involuntário e pedi perdão a todos os que se sentiram lesados com a situação».

Recorda-se de como escolheu a vestimenta para aquele dia?
«Por acaso nem escolhi, foi mesmo a primeira camisola que encontrei. Como ainda não consegui ter casa e arrumar as coisas… Confesso que não fazia a mínima ideia e não me sinto menos culto por isso».

Como é que ninguém da estrutura do Real Jaén reparou?
«Ninguém reparou porque saí diretamente do balneário para a sala de imprensa. Foi tudo tão rápido que ninguém se pode sentir culpado. Após o assunto começar a ser falado avisaram-me que a imprensa ia cair em cima, mas pediram-me para ficar tranquilo. Acreditaram que seria incapaz de fazer tamanha provocação ou passar qualquer mensagem política».

Portanto, nunca se sentiu isolado ao longo do processo?
«Senti mais apoio do que em qualquer outro sítio onde joguei. O grupo é fantástico e parece que já nos conhecemos há anos. Estou cá sozinho e, por isso, estão constantemente prontos para ajudar em tudo. Eles preocupam-se, verdadeiramente, com o meu bem-estar».

Nunca sentiu que a transferência sofre-se algum revés?
«O presidente fez logo questão de me tranquilizar, tal como todos os elementos da estrutura técnica e diretiva. Por isso nunca senti que a transferência pudesse cair».