Com a Juventus colocada no caminho do Mónaco, na Liga dos Campeões, Leonardo Jardim concedeu uma entrevista à «Gazzetta dello Sport», na qual antecipou os quartos de final mas com espaço também para fazer uma retrospetiva da carreira.
 
«Admito: o início no Mónaco foi difícil», começou por dizer. Quando Leonardo Jardim assinou pelo Mónaco o plantel tinha Falcao, James e Abidal, por exemplo. Mas estes (e outros) jogadores acabaram por sair. «Ao longo da carreira nunca tive projetos fáceis, mas penso sempre positivo. Segui convicto que podia fazer um bom trabalho com estes jovens. Como fiz na época passada, no Sporting, valorizando jovens como William Carvalho, Adrien ou Carlos Mané», recordou.
 
Jardim explicou ainda que trocou o Sporting pelo Mónaco por entender que ia abraçar «um projeto muito mais ambicioso, mesmo sem Falcao». «O objetivo era construir um grupo e valorizar jovens como Martial, Ferreira-Carrasco, Bernardo Silva, Fabinho, Kurzawa, Wallace. Conhecia o Bernardo do Benfica B e percebi logo que tinha qualidade e larga margem de progressão. O futuro está assegurado», defendeu.
 
O técnico português deixou ainda elogios a outro compatriota: «O João (Moutinho) é um dos nossos jogadores mais experientes, habituado a jogos de alto nível, e tem duas funções em campo. E chamo-lhe um médio de transição, pois sabe jogar no meio-campo defensivo e também mais adiantado, junto ao ponta de lança. É muito maduro e percebe a diferença dessas funções.»
 
O Mónaco passou a fase de grupos da Liga dos Campeões com o registo de melhor defesa e pior ataque, mas Jardim prefere destacar que «o mais importante foi ter somado 11 pontos e seguido em frente».
 
Seguiu-se o Arsenal, nos oitavos de final, e o Mónaco foi a Londres vencer por 3-1. Na segunda mão, em casa, foi derrotado por duas bolas a zero, mas garantiu a passagem aos quartos de final. «Fiquei mais surpreendido com a segunda mão. Resistimos a um Arsenal fortíssimo, que no primeiro jogo tinha deixado jogar. A prova de maturidade vi no segundo jogo», defendeu.
 
Segue-se a Juventus, uma equipa que Leonardo Jardim considera «muito ofensiva mas equilibrada». «Tem muita experiência, é tetracampeã italiana (ndr. o técnico estaria a dar como consumada a conquista deste ano, tendo em conta os catorze pontos de vantagem sobre a Roma). É fortíssima», reforçou o técnico, destacando nomes como Pirlo, Tévez ou Morata.
 
A presença do Mónaco dos quartos de final da Liga dos Campeões recuperou as memórias de 2004, ano em que o clube esteve na final (perdida para o FC Porto), mas Leonardo Jardim lembrou que essa «era uma grande equipa, experiente, construída em quatro anos». «Há dois anos o Mónaco estava na segunda divisão. O ambiente é positivo. Ninguém nos colocaria nos quartos de final da Liga dos Campeões ou a lutar pela Liga francesa, mas a nossa única responsabilidade é dar sempre o melhor. Não somos a equipa que se espera que conquiste o título, é o PSG. E Lyon e Marselha não têm as taças», afirmou.
 
Elogio ao produto nacional
 
A entrevista de Leonardo Jardim à «Gazzetta dello Sport», publicada no suplemento «ExtraTime», serviu também de mote para um artigo sobre a nova vaga de treinadores portugueses. Recordando o legado de Carlos Queiroz e José Mourinho, são destacados os nomes de Nuno Espírito Santo, Marco Silva e ainda dois técnicos com «escola italiana»: Sérgio Conceição e Paulo Sousa.
 
A acompanhar o trabalho está um artigo de opinião assinado por Alessandro de Calò, que recrimina a forma como, ao longo de muitos anos, a Itália olhou para o futebol português «com uma certa arrogância». «Eram vistos como os brasileiros tristes, incompletos», acrescenta-se.
 
Já depois de uma referência ao título europeu do FC Porto, com Artur Jorge no comando, o trabalho de Carlos Queiroz na Federação Portuguesa de Futebol é visto pelo autor como um ponto de viragem, alimentado depois por José Mourinho.  É feita, de resto, uma associação à escola arquitetónica do Porto, com Fernando Távora, Siza Vieira e Souto Mora. «Vencer ajuda a vencer, os campeões servem de exemplo», pode ler-se.
 
O artigo de opinião destaca depois nomes como Jorge Jesus, Paulo Sousa, Marco Silva, Villas-Boas e Leonardo Jardim, claro, para terminar com um elogio a este último. «Perdidos Falcao e James, os monegascos viram-se na necessidade de fazer muito com pouco. Uma omolete quase sem ovos. O técnico que veio da Madeira e que se afirmou no Sporting – como Ronaldo – mostrou que a obsessão pelo trabalho pode conseguir isso», conclui-se.