O Clássico, porventura o jogo mais aguardado do final do ano, representou mais do que um duelo entre os dois maiores emblemas espanhóis da atualidade. Reproduziu também um choque político entre merengues, permanentemente associados ao regime vigente e blaugranas, baluarte da Catalunha, numa fase em que a ameaça da independência catalã paira em Espanha.

No relvado do mítico Santiago Bernabéu venceu o Barcelona, graças a um arranque fortíssimo no segundo tempo. Num ápice – em dez minutos – resolveu o jogo com golos de Suárez e Messi e quiçá o campeonato. O Real Madrid, embora tenha um jogo a menos, já está a 14 pontos (!) do eterno rival e a revalidação do título ameaça tornar-se uma utopia.

Aleix Vidal, em período de descontos, ainda aumentou a diferença no marcador e desferiu o golpe de misericórdia no moribundo campeão espanhol, europeu e mundial.

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Houve meia hora de supremacia blanca ainda que sem grandes oportunidades de golo. A melhor ocasião junto das balizas foi, pasme-se, um pontapé falhado de Ronaldo na marca de penálti, após assistência de Kroos.

Esses trinta minutos iniciais deste Clássico – o terceiro da época – pareciam confirmar uma mudança de paradigma. O Real Madrid em posse, perante um Barcelona com dificuldades em sair e em ter bola.

Messi estava preso na teia criada por Kroos, Modric, Casemiro e Kovacic – novidade no lugar de Isco – e o Barcelona tardava em conseguir aproximações dignas de registo à baliza de Keylor Navas.

Porém, o minuto 30 funcionou como um despertador. O jogo partiu, as oportunidades sucederam em catadupa junto das balizas. O génio de Messi libertou-se – pouco em jogo até então – imaginou e criou a primeira grande situação blaugrana. Passe soberbo para Paulinho que só não marcou porque Navas decidiu agigantar-se.

Resposta da equipa de Zidane. Transição rápida – por unanimidade considerado um dos pontos fortes desta equipa – com Ronaldo a deixar Sergi Roberto para trás e a rematar cruzado para defesa de Ter Stegen, a primeira de várias. O alemão está a viver o melhor período desde que chegou à Cidade Condal.

A esquizofrenia durou um par de minutos, mas foi o período em que o Barcelona começou a crescer ao ritmo de Busquets e do tal baixinho argentino, sempre com Rakitic, Iniesta e Paulinho como fiéis escudeiros.

Messi, o cérebro, Paulinho o criador. Jogada individual do argentino, contornou várias camisolas brancas e desvio de cabeça do médio brasileiro para nova defesa de Navas. Pouco depois foi Benzema a protagonizar a melhor ocasião de todo o encontro para os merengues, com um desvio de cabeça ao poste.

O empate penalizava ligeiramente o Real Madrid que conseguiu uma ligeira supremacia durante os primeiros quarenta e cinco minutos, atenuada pelo crescimento da dupla Busquets-Messi no jogo.

O início do segundo tempo trouxe a melhor versão do Barcelona que recuperou o futebol rendilhado de outrora e começou a tricotar o pesadelo real.

Jogada para ser vista e revista, ininterruptamente. Busquets recuperou perto da área catalã, segurou e esperou a desmarcação de Rakitic para fazer o passe - sinal de inteligência ímpar – e o croata começou a galgar metros.

A apatia do Real Madrid assustava e o número quatro do Barcelona, avesso a isso, aproveitou. Kovacic ficou a tomar conta de Messi e abriu caminho ao compatriota que, nas imediações da área contrária, tocou para Sergi Roberto. O espanhol viu Suárez solto do lado oposto e serviu-o de bandeja. Depois, Suárez, fiel a si mesmo, foi mortífero tocando a bola por baixo do desamparado Navas.

Atordoado com o primeiro golo do adversário, o Real Madrid ainda estava em fase de convalescença quando sofreu o segundo. Desorganização total aproveitada por Messi. O argentino desmarcou Suárez que falhou, por duas vezes seguidas, na cara do guarda-redes adversário até a bola sobrar para Paulinho. O brasileiro cabeceou, Carvajal qual guarda-redes, travou o remate com a mão e recebeu ordem de expulsão.

Messi, de grande penalidade, fez história e igualou Telmo Zarra como o jogador com mais golos apontados ao Real Madrid (17 cada). Mais importante que o recorde, foi a estocada final que deitou por terra o adversário.

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O 2-0 abriu caminho ao passeio do Barcelona no palco do crónico rival da luta pelo título, que apenas sofreu dois percalços criados por Bale e Sérgio Ramos. Porém, nas duas ocasiões, brilhou, uma vez mais, Ter Stegen.

Aleix Vidal, em mais uma criação do génio de Messi, fixou o resultado final, num remate em que Navas poderia e deveria ter feito mais. Antes do terceiro tento culé na capital espanhola, André Gomes e Nélson Semedo foram lançados por Valverde e tiveram duas ocasiões soberanas para marcar, após assistência de Messi (quem mais?). Porém, o duo português desperdiçou.

Feitas as contas, o Barcelona poderá ter feito o xeque-mate no campeonato em plena cidade de Madrid. Atlético e Real tem o direito de continuar a sonhar, os amantes de futebol certamente irão agradecer, embora o título pareça, cada vez mais, uma miragem.