Os treinadores portugueses estão na elite do futebol mundial fruto dos feitos alcançados em diversos pontos do globo. Só nesta temporada foram seis os técnicos que se superiorizaram à concorrência e terminaram os respetivos campeonatos do topo da tabela classificativa: Jorge Jesus (Benfica), José Mourinho (Chelsea), Paulo Sousa (Basileia), André Villas-Boas (Zenit São Petersburgo), Vítor Pereira (Olympiacos) e Pedro Caixinha (Santos Laguna).

Esta verdadeira galeria de notáveis pode, ainda, ganhar um novo ilustre representante, caso Jesualdo Ferreira conduza o Zamalek à conquista da Liga Egípcia.

Ainda assim, nem só do título de campeão vive o repositório de treinadores portugueses com sucesso além-fronteiras: Leonardo Jardim levou o Mónaco aos quartos de final da Liga dos Campeões e Nuno Espírito Santo reconduziu o Valência à Liga dos Campeões após um ano de ausência.

Aproveitando este enquadramento, a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa apresentou, nesta segunda-feira, uma pós-graduação em treino de futebol de alto rendimento, que conta que a colaboração de José Mourinho na elaboração do plano de estudos e no corpo docente.



O nome do atual líder do futebol do Chelsea está, de resto, intimamente ligado à emigração massiva de treinadores portugueses: atualmente, são mais de 250 a trabalhar no estrangeiro aproveitando as portas abertas por Mourinho em 2004 quando aterrou em Londres para conquistar o futebol inglês.

José Mourinho aproveitou o regresso à Faculdade de Motricidade Humana, onde se licenciou em 1987, para esclarecer a plateia sobre o que é ser treinador: um conceito em constante mutação que não deve ser regido por mitos urbanos que transfiguram a profissão.

«Há 10 ou 15 anos andávamos a tentar definir o treinador de futebol como um gestor de recursos humanos. Isso durou durante muitos anos. Já concordei, mas, agora, discordo. Passaram-se mais de 1000 jogos sentado no banco de suplentes, vários milhares de sessões de treinos e, por isso, acredito que, antes de ser um gestor de recursos humanos, um treinador é um gestor do próprio conhecimento», sustentou.

E Mourinho explica a mudança de paradigma: «Que tipos de treinadores é que há? Há quem diga que há os bons, os muito bons, os especiais, os menos bons…Eu começo por dizer que há os treinadores e os destreinadores. Os treinadores são os que melhoram os seus jogadores e as suas equipas, os destreinadores são os que pioram os seus jogadores e as suas equipas. Mas será que os destreinadores não têm conhecimento? Eu acho que têm e às vezes até têm demais. Não sabem é gerir o seu próprio conhecimento».



De resto, José Mourinho já por diversas vezes criticou a preguiça mental promovida pela multiplicidade de recursos que atualmente estão disponíveis à distância de um clique. O que marca a diferença é perceber todo o processo e ser capaz de operacionalizar os conceitos pretendidos.

Esta é uma posição já tomada por José Mourinho quando deu a entrevista conjunta ao Maisfutebol e à «TVI» a respeito da profissão, publicada na edição especial da MF Total de 19 de setembro.

«A inteligência é fundamental e o conhecimento experimental também. Parece-me fundamental não só o conhecimento, mas ajudar a pensar, pesquisar e debater. Fundamentalmente, é necessária uma reflexão diária permanente. O nosso processo é um processo imprevisível. Por mais que tentemos reduzir essa imprevisibilidade ao máximo é sempre impossível. É um processo em permanente mutação», reforçou.

Finalmente, José Mourinho deixa uma homenagem a todos aqueles que estão envolvidos no processo de formação: é por eles que aceitou o desafio de regressar a faculdade, desta vez no papel de professor.

«Eu é que quero homenagear-vos. O pouco tempo que tenho ser-vos-á dado. Tenho uma qualidade que o futebol não conseguiu tirar e o futebol também tira qualidades a muitas pessoas. Não me deixei endeusar e esquecer aqueles que não merecem ser esquecidos. Os formadores são, para mim, merecedores de um respeito especial», rematou.