Manuel Fernandes fala ao Maisfutebol numa viagem pela carreira que parte do equilíbrio que encontrou na Rússia e passa por muitas memórias, do Benfica à Turquia, passando pelo Valencia. Uma conversa sincera e sem reservas, que se detém também no percurso na seleção, na amargura por não ter conseguido ir a nenhuma fase final com a camisola de Portugal. E termina com conselhos sobre a Rússia para a equipa das Quinas, agora que vem aí a Taça das Confederações. 

Apesar dos poucos jogos pela seleção, Manuel Fernandes participou nas fases de qualificação para o Mundial2006, para o Euro2008, para o Mundial2010 e para o Euro2012, mas acabou por não estar em nenhuma fase final. Uma lacuna no seu currículo.  «Sinto que sim, mas a única vez que acho que deveria ter ido e que mexeu comigo foi no Euro2012. Não tive oportunidade de ir quando estava em plenas condições e tinha feito uma época muito boa. Essa foi talvez a única vez que fiquei com um sabor amargo, mas outras tinha feito boas fases durante o campeonato, mas não jogava com regularidade para pode chegar às fases finais».

Paulo Bento tinha de facto um núcleo duro, mas Fernando Santos voltou a escancarar as portas da seleção, em 2014, abrindo, inclusive, as portas a jogadores que já tinham renunciado, como foram os casos de Ricardo Carvalho, Tiago e Danny. O próprio Manuel Fernandes foi pré-convocado na primeira lista do novo selecionador. «Nas pré-convocatórias, se calhar, sou um dos líderes. Mas, sim, desde a entrada de Fernando Santos o clube já recebeu duas pré-convocatórias, mas as pré-convocatórias valem o que valem».

A seleção já tinha sido um episódio esquecido para Manuel Fernandes, mas o facto do Campeonato do Mundo realizar-se na Rússia no próximo ano, voltou a trazer antigas sensações. «O que quero é continuar a praticar o meu futebol e tentar fazer uma época melhor do que esta. Depois o que vai acontecer não faço a mínima ideia. Mas a realidade é que se as coisas não me correrem bem aqui, senão me aplicar aqui, uma eventual chamada à seleção fica fora de questão», comentou.

E o que é podemos esperar da fria Rússia em 2018? «Podem esperar pelo menos bom tempo, uma vez que vai ser no verão [risos]. Vai ser um torneio giro, acho que vai ser bom para a Rússia em geral, se calhar para os russos ganharem mais um gosto pelo futebol. Para verem o futebol de maneira diferente, penso que vai ser um torneio muito giro», comentou.

Um dos grandes problemas no futebol russo, é o racismo latente entre adeptos. «Eles têm uma mentalidade muito fechada, diria que, por vezes, um bocado antiquada. Existem situações quando um jogador A ou um jogador B vai bater uma bola parada, mas isso depois depende de cada um. Há jogadores que levam isso muito a peito, mas eu pessoalmente não levo nada disso muito a sério. Isso diz mais sobre as pessoas que insultam do que propriamente de mim. Acabam por ser pessoas ignorantes e a ignorância fica para elas, não vou entrar nesse registo. Mas penso que, com o passar dos anos, os russos estão mais tolerantes, pelo menos esta temporada vi pouquíssimas coisas que dessem a entender que está assim tão viva essa parte do racismo», conta.

A época acabou agora na Rússia e Manuel Fernandes está a caminho de uma merecidas férias, mas com bilhete de volta para Moscovo. «De momento tenho a cabeça aqui, tenho contrato até 2019, não tenho conhecimento de propostas, nem tenho a cabeça a ir para outro lugar, mas não sei o que vai acontecer daqui até a um mês, o mercado fecha em setembro, pelo menos na Rússia», refere ainda.

O tempo passou rápido e Manuel tinha um avião para apanhar. «Vou viajar ainda esta noite. Vou agora jantar, vou a casa buscar as minhas coisas e vou apanhar o avião». Até já Manuel, boas férias!