Cresceu no ninho do Dragão, entre homens como Josué, Candeias ou Ukra, e pela mão de Ilídio Vale. Mas os sonhos de Marco Meireles, portista de coração, tiveram de ser alimentados para lá da fronteira. Passou pelo Brasil e pela Finlândia e fixou-se, agora, em Macau. Longe de ser um lugar de atração para quem sonha fazer carreira no futebol, a antiga colónia portuguesa dá os primeiros passos para se afirmar no panorama asiático. E Marco Meireles cresce com eles, com uma camisola que defende até ao fim, mesmo que seja a antítese daquilo que o coração lhe diz. Joga no Benfica de Macau. Por convicção. O futebol nem sempre tem espaço para paixões.

Aos 26 anos, Meireles prepara-se para arrancar o segundo campeonato de Macau, que tem início esta sexta-feira. Esteve no clube na época passada, ajudando o Benfica a chegar ao título. Foi o segundo consecutivo das águas, num campeonato que contempla dez equipas e existe desde 1973, ano em que foi ganho pela equipa da PSP.

Além do Benfica de Macau, também existe o Sporting de Macau, campeão em 1991, mas quinto classificado na época passada.

Mas voltemos a Marco Meireles, que chegou àquela região administrativa da China pela primeira vez, então, no ano passado.

«A primeira proposta do Benfica de Macau chegou pelo meu agente Luís Lousa, mas também devido ao treinador da altura, que era o Bruno Álvares e foi crucial para a minha vinda para cá. Estive cá um ano e quando acabou o campeonato fui jogar para a II Liga da Finlândia. Apenas três meses, porque o campeonato estava na reta final», conta, em conversa com o Maisfutebol.

Representou o MP Mikkelin, naquela que foi a sua segunda passagem pela Finlândia. Em 2013, na primeira aventura no estrangeiro, já tinha jogado pelo Sporting Kristina.

«Quando acabou o campeonato finlandês tive várias propostas da Ásia, entre as quais um regresso ao Benfica de Macau que acabei por aceitar. É uma equipa com objetivos ambiciosos e um bom projeto. Financeiramente compensa muito, mas não só, também pesou a oportunidade de jogar na Liga dos Campeões Asiática», explica.

Macau passa a enviar, agora, um representante, o campeão, para a mais importante prova de clubes do continente. Não tem acesso direto, tendo de disputar uma pré-eliminatória. «Mas são três clubes e passam dois, portanto as hipóteses são boas», diz Meireles.

Jogando, essencialmente, como médio ofensivo ou extremo, Marco Meireles garante que os adeptos gostam do que veem: «Os jogadores portugueses são sempre vistos com qualidade. Aqui e em todo o lado. Em Macau ainda mais por ter sido uma colónia portuguesa. Há vários jogadores portugueses cá.»

E é verdade. Há mais seis portugueses no plantel benfiquista, por exemplo. E vários outros espalhados por outras equipas.

«O futebol em Macau ainda é um pouco amador, apesar de começarem a aparecer alguns bons jogadores locais. E depois há os naturalizados, que têm qualidade
», acrescenta.



«Quem joga no FC Porto sente a camisola e dá tudo em campo»

Longe vão os tempos do Olival para Marco Meireles. Mesmo tendo nascido na Amadora, foi a norte que se fez futebolista. Com a camisola azul e branca do FC Porto, que o conquistou.

«Jogo no Benfica de Macau mas não tenho problemas em assumir que sou portista. Formei-me lá e isso influenciou, claro. Quem joga no FC Porto sente a camisola e dá tudo em campo. Fica-se com aquilo mesmo dentro de nós. É algo que não se explica, só quem lá passa é que sabe», defende.

Chegou aos juniores, foi treinado por Ilídio Vale, atual adjunto de Fernando Santos na seleção, que considera ter sido «uma peça fundamental» no seu percurso. «Foi ele que me deu uma oportunidade na formação do FC Porto. É muito bom treinador, rígido, não facilita», descreve.

«Mantenho ainda contacto com vários jogadores do FC Porto da minha altura. O Candeias, que está no Metz, o Josué, Tengarrinha ou o Carlos Santos, do Boavista. Com o Alex que está no V. Guimarães também troco umas mensagens de vez em quando», conta.

Voltar a Portugal era um sonho. Sobretudo para jogar numa Liga profissional. Mas sabe que não será fácil: «Queria alguma estabilidade, como tenho aqui.»

De facto, depois de terminar a formação, o escalão mais alto em que jogou foi a II Divisão, atual Campeonato de Portugal, ao serviço do Ribeira Brava. Antes representara Machico e Aljustrelense na extinta III Divisão Nacional.

«A passagem da formação aos seniores é muito importante claro. No último ano de formação não se pode facilitar. Tens de ter outra porta já pensada. Eu tive azar, no primeiro ano de sénior parti o pé e isso não ajudou nada. Ainda tive outra lesão que me atrasou ainda mais, mas estou aqui com força e com qualidade para qualquer desafio»
, assegura.

O engodo no Brasil que ainda corre em Tribunal



Macau é o terceiro campeonato estrangeiro que experimenta. Das duas passagens pela Finlândia guarda boas recordações, apenas, mas do Brasil o caso é diferente.

Em 2014 assinou pelo Gremio Barueri. Mas a experiência foi bem mais curta do que pensava inicialmente: «Falharam no acordo que me foi dado. Enviaram-me um contrato de um ano e só fiquei quatro meses. Disseram que foi por não termos subido de Divisão. Vim embora e o caso está até hoje em Tribunal.»

Admitindo que a experiência «não correu bem», aponta o lado bom da experiência: « Joguei na Serie D, equivalente ao quarto escalão de Portugal, mas muito diferente. Estamos a falar de equipas com 40 mil pessoas no Estádio por vezes. A qualidade é muito boa.»

«O problema são mesmo os planteis. São 40 jogadores por equipa…Não é fácil jogar lá», lamenta.

«Macau tem condições para proporcionar muito mais»

O presente (e futuro) é Macau.  Um campeonato em crescimento e com potencial, defende Marco Meireles.

«Macau tem condições para proporcionar muito mais, porque há aqui estruturas capazes. O problema é que ainda não apostam tanto no futebol como queríamos. Vamos ver se daqui a uns anos o cenário fica melhor. Agora com a inclusão do primeiro classificado na Champions Asiática o campeonato fica melhor, mais competitivo. Além disso há jogadores profissionais a chegar de vários continentes», descreve.

O campeonato é curto, tendo apenas dez equipas e Meireles vê «algumas debilidades» em algumas das mais pequenas. Mas salienta: «Há sempre cinco equipas a lutar pelo título e acredito que este ano vai ser melhor.»


«Quanto a nós, os objetivos são os mesmos. Queremos voltar a ser campeões, voltar a ganhar a Taça e participar na Champions asiática. As regras do campeonato local são diferentes da Liga dos Campeões em relação ao número de estrangeiros, por isso o Benfica vai entrar no campeonato com as regras da Champions para que possa participar na prova com a equipa que foi campeã», remata.



(Fotos cedidas por Marco Meireles)