Aí vão quatro. Mais um treinador português que chegou ao Olympiakos e saiu menos de um ano depois. Em comum a nacionalidade, a brevidade da ligação ao crónico campeão grego, a saída sem explicações óbvias e o facto de, no fim, todos poderem dizer que têm pelo menos um título no bolso.

Não é apenas uma questão portuguesa. O banco do Olympiakos, o crónico dominador do futebol grego, é uma roda-viva há muito tempo, mais ainda desde a chegada de Evangelos Marinakis, o empresário grego que é dono do clube desde 2010 e figura central e polémica do futebol helénico.

Nesse período, apenas o espanhol Ernesto Valverde durou mais do que uma temporada. Chegou em agosto de 2010, para render o alemão Ewald Lienen, que não chegou a durar seis meses. Era já a segunda passagem de Valverde pelo Olympiakos e desta vez ficou até maio de 2012, saindo no fim da época para treinar o espanhol.

Foi então que começou a ligação portuguesa. Primeiro com Leonardo Jardim, depois Vítor Pereira, a seguir Marco Silva e agora Paulo Bento. O ex-selecionador nacional foi afastado nesta segunda-feira, sete meses depois de chegar. Está dentro da média. Marco Silva foi, dos quatro técnicos portugueses que orientaram o Olympiakos, quem durou mais tempo. Só o atual treinador do Hull City e Vítor Pereira terminaram uma temporada.

O Maisfutebol recorda aqui no que deu até agora esta via aberta entre Portugal e o Pireu nos últimos cinco anos.

Leonardo Jardim

Sete meses

Junho de 2012 a Janeiro de 2013

Foi Leonardo Jardim quem abriu o caminho. Em junho de 2012, depois de deixar o Sp. Braga no final de um campeonato em que terminou na terceira posição, o agora treinador do Mónaco assumia a sua primeira experiência no estrangeiro.

Anunciado no Olympiakos a 7 de junho de 2012, orientou o clube sem sobressaltos no campeonato grego e liderava com dez pontos de avanço, sem ter perdido qualquer jogo, quando foi despedido, sete meses mais tarde. Na Liga dos Campeões tinha terminado em terceiro lugar, num grupo em que ficou atrás do Arsenal e do Schalke 04, a equipa seguiu para a Liga Europa: seria eliminada pelo Levante em fevereiro, já com o espanhol Michel no banco. A 19 de janeiro, quando Jardim saiu, o Olympiakos mantinha-se também em prova na Taça da Grécia.

O afastamento do treinador deu azo a muita especulação, tanta que alguns dias depois Jardim fez um esclarecimento na sua página oficial no Facebook. «Apesar da ausência de informação sobre o meu despedimento, a verdade que me foi transmitida é que saio devido às exibições e resultados», escreveu: «Não vale a pena especular acerca de outras situações, que colocam em causa o profissionalismo da equipa técnica e o meu bom nome.»

No final da época o Olympiakos foi campeão e ganhou a Taça da Grécia, dois títulos que são também de Jardim.

O que se seguiu para Jardim fala por si: uma temporada no Sporting, onde foi segundo na Liga, atrás do Benfica. E depois o Mónaco, já vai na terceira época no Principado, em grande nesta temporada, na liderança da Ligue 1.

Vítor Pereira

Cinco meses

Janeiro a junho de 2015

Michel teve uma longevidade assinalável para um treinador do Olympiakos. Terminou essa época 2012/13, fez toda a temporada seguinte, com mais um título de campeão no bolso, e começou 2014/15. Mas saiu em janeiro, quando a equipa estava no segundo lugar da Liga grega, a um ponto da liderança. Durou 23 meses.

E foi então que entrou em cena outro treinador português, Vítor Pereira. O treinador que foi bicampeão europeu pelo FC Porto tinha passado pela Arábia Saudita e na época anterior.

Anunciado a 7 de janeiro de 2015, Vítor Pereira assumiu a liderança logo na estreia, aproveitando a derrota do então líder PAOK, e seguiu até à conquista de mais um título.  Tranquilamente em campo, não tanto fora dele, numa época conturbada para o futebol grego e marcada também por um incidente que envolveu o treinador no dérbi com o Panathinaikos. Vítor Pereira envolveu-se num conflito com os adeptos rivais, que o acusaram de os provocar. Voltaria a estar no centro de incidentes com os adeptos noutro dérbi, esse com o AEK, para a Taça.

O Olympiakos terminou na frente com 12 pontos de vantagem para o Panathinaikos, que foi segundo, depois de perder três pontos na sequência dos tais incidentes com adeptos no jogo com o Olympiakos. Ganhou a Taça da Grécia e na Liga Europa, já com Vítor Pereira, foi eliminado pelo Dnipro nos 16 avos de final.

Foi Vítor Pereira quem anunciou a saída no final do campeonato. No dia seguinte era oficializado como treinador do Fenerbahçe.

Marco Silva

Onze meses

Julho 2015 a junho 2016

Dessa vez a ligação portuguesa foi direta. Não imediata, que a chegada de Marco Silva ao Olympiakos arrastou-se, no meio do processo do seu afastamento do Sporting. O técnico que conquistou a Taça de Portugal pelos leões e terminou a Liga em terceiro lugar seria oficializado no Olympiakos a 7 de julho.

Festejou o título de campeão da Grécia em fevereiro (!). O Olympiakos terminaria com nada menos que 30 pontos de avanço esse campeonato, marcado de novo por violência, polémica fora de campo e perda de pontos de alguns dos outros clubes com maior dimensão da Grécia, incluindo Panathinaikos e PAOK.

Na Liga dos Campeões foi terceiro no grupo, atrás de nada menos que Bayern Munique e Arsenal, seguindo para a Liga Europa, onde perdeu logo nos 16 avos frente ao Anderlecht. Perdeu a final da Taça da Grécia e no fim da temporada foi eleito melhor treinador da Liga grega.

Ainda iniciou a pré-temporada seguinte, mas nem começou a época. Saiu a 23 de junho, uma decisão que o Olympiakos atribuiu a razões pessoais do treinador. O treinador também não deu explicações concretas, optando igualmente por uma mensagem nas redes sociais. «A vida de um treinador de futebol nem sempre corre como planeamos e, praticamente um ano depois de ter chegado, tenho de deixar o cargo de treinador do Olympiakos», escreveu Marco Silva.

Paulo Bento

Sete meses

Agosto 2016 a Março 2017

O Olympiakos anunciou de imediato novo treinador, voltando a optar por um espanhol. Mas Victor Sanchez bateu recordes. Não durou sequer dois meses. Foi afastado a 9 de agosto, depois de ter falhado o acesso à Liga dos Campeões, eliminado no «play-off» pelo Hapoel Beer Sheva.

Seguia-se Paulo Bento. O antigo treinador do Sporting, selecionador nacional até setembro de 2014, tinha estado afastado dos relvados até maio de 2016. Nessa altura assumiu o Cruzeiro, campeão brasileiro, mas saiu ao fim de dois meses e meio, na penúltima posição do Brasileirão, com apenas seis vitórias em 17 jogos.

Foi já com Paulo Bento no banco que o Olympiakos afastou o Arouca no play-off da Liga Europa e seguiu para a fase de grupos, onde foi segundo. Afastou o Osmanslispor nos 16 avos de final e tinha encontro marcado com o Besiktas nos oitavos de final, com a primeira mão marcada para esta semana.

No campeonato, o Olympiakos segue na frente, com seis pontos de vantagem para o segundo lugar, onde está o Panionios. Mas a derrota deste domingo com o PAOK, depois de um incidente com o autocarro da equipa, foi a terceira seguida, algo que os adeptos do Olympiakos não viam há mais de duas décadas. Na Taça da Grécia, Paulo Bento deixa o Olympiakos nas meias-finais, depois de ter eliminado o Atromitos de Sá Pinto a meio da semana passada.