artigo original: 22-02-2018 08:15

* Por Eduardo da Silva

Filipe Teixeira foi príncipe antes de estar na moda. Para além do PSG, o português de 37 anos pisou o relvado dos principais palcos do futebol inglês e só rumou à Roménia em 2010. Este «Buffon» português, com os 40 mesmo aí ao virar da esquina, continua a jogar ao mais alto nível no Steaua de Bucareste, e não pensa em pendurar as botas.

Entre jogos do campeonato romeno e dezasseisavos de final da Liga Europa, Filipe Teixeira tirou um momento para falar com o Maisfutebol e recordar a já longa e bonita carreira.

A caminhada no futebol sénior começou ainda nos anos 90. No distante ano de 1998, o Felgueiras lançou o extremo para os holofotes do futebol europeu. Jogou pelo Paris Saint-Germain e West Bromwich Albion. Entretanto, ainda teve tempo de voltar a Portugal para jogar pela Académica.

Depois de uma experiência curta e falhada na Ucrânia, desde 2010 que joga na Roménia, excetuando os curtos meses passados nos Emirados Árabes Unidos.

À imagem de jogadores como Buffon, Luisão, Király e Ibrahimović, o português é dos poucos da classe dos anos 90 que ainda «tem pernas» para jogar ao mais alto nível no futebol europeu.

Não jogou com nenhum dos jogadores acima referidos, mas recordou o tempo em que partilhou balneário com outros craques, ao serviço do Paris Saint-Germain em 2002: «Era um grupo recheado de jogadores de grande valor, que já jogavam nas seleções. Heinze, Pochettino, Ronaldinho, Pauleta, entre muitos outros. Eu era muito jovem e aprendi muito».

Com alguma tristeza admite não manter contacto com ninguém dessa altura, mas a vida de futebolista não o permite. «Infelizmente, acabamos por conhecer muitas pessoas mas o destino faz com que percamos o contacto uns com os outros», explica ao Maisfutebol.

Para o extremo nascido nas redondezas do Parc des Princes, o PSG é o clube que senta no trono do futebol francês: 

«O PSG sempre foi e sempre será o clube da capital, o maior do país». Mas no distante ano de 2002, a dimensão não era a mesma, admite. «A diferença é muita. Neste momento está fortíssimo com um investidor que não se importa de dar o dinheiro que deu pelo Neymar, e na Europa é dos três ou quatro maiores clubes».

Um «grande» português ou a Premier League?

Depois do Paris Saint-Germain, voltou a Portugal e assinou pela Académica. Em 2007, Filipe admite «quase ter assinado por um grande». «Houve negociações mas nunca chegaram a vias de facto». Não tem problemas em admitir que era um objetivo jogar num grande, e «a nível de carreira podia ter tido outra projeção», conta.

Filipe elogia os clubes portugueses que apostam na formação e acredita que «hoje em dia é mais fácil chegar a um grande, porque deram-se conta que devem apostar mais nos jogadores portugueses que têm muita qualidade».

Falhada a transferência em Portugal, Filipe rumou a «terras de senhora majestade» em 2008 e assinou pelo West Bromwich Albion. «Se tivesse de escolher o melhor momento da carreira, seria este. Adaptei-me muito rápido e as coisas correram mesmo muito bem», conta com saudade.

O primeiro título sénior não tardou em chegar. Com a ajuda do português, os baggies conquistaram o Championship e a consequente subida à milionária Premier League. Tudo parecia encaminhado para novo salto, com «clubes na Premier League a sondar», até que veio a lesão, que colocou um travão na carreira. «Às vezes é preciso sorte aos jogadores de futebol para terem uma carreira de topo, ou pelo menos, melhor do que a que tiveram», disse com alguma tristeza enquanto recordava a lesão.

Uma rotura dos ligamentos não permitiu ao português afirmar-se na equipa na época de estreia na Premier League, mas «é óbvio que jogar contra o Liverpool, Manchester, Chelsea é o topo do futebol. É o melhor futebol da Europa, onde te sentes mesmo jogador».

O desaire na Ucrânia, e a adaptação plena na Roménia

Um passo atrás, dois à frente. Depois de perder espaço no WBA, transferiu-se para o Metalurh Donetsk na Ucrânia, mas a experiência saiu ao lado.

«Tinha contrato de dois anos, mas passados seis meses quis sair, correu mesmo muito mal». O regresso a Portugal esteve em cima da mesa, mas António Conceição [ex-treinador do Penafiel] «roubou» o jogador para o Brasov da Roménia.

No país onde Hagi é rei, o português «pegou de estaca». Desde então, passou pelo Rapid, Petrolul e Astra, onde conquistou o primeiro e único título de campeão romeno. Filipe tem sido um participante regular nas competições europeias, e disputou inclusive o play-off à Liga dos Campeões este ano, mas foi eliminado pelo Sporting.

A ambição de Filipe não se perdeu com o avançar da idade. «Quero ser campeão e ganhar a taça este ano com o Steaua. Estamos concentrados e temos qualidade para conseguir isso», confessa o português apesar de admitir que «não vai ser fácil». O Steaua está em segundo lugar do campeonato romeno, dois pontos atrás do líder Cluj.

Falar de futebol na Roménia é sinónimo de polémica. Alguns dos maiores clubes como o Petrolul, Cluj, Rapid, Otelul e Universitatea Cluj declararam insolvência nos últimos anos. «O problema é económico. Aconteceu em muitos países, não foi só aqui. Aqui na Roménia os clubes têm um dono, não é como em Portugal, mas quando os donos ficam sem dinheiro, não há como investir», conta.

O segredo da juventude

Filipe nem sequer coloca em cima da mesa a hipótese de se retirar, apesar dos 37 anos. «Da forma que me sinto fisicamente vou continuar a jogar, sem dúvida.»

Numa altura em que as lendas da troca do milénio têm vindo a reformar-se, como Lampard, Pirlo, Gerrard, Ronaldinho e Kaká [entre outros…], o português continua na máxima força. Se é difícil acreditar, os dois prémios de Melhor Jogador Estrangeiro do Ano da liga romena, conquistados em 2016 e 2017 provam exatamente isso.

«Vou esperar para ver se somos campeões e até lá analisar as possibilidades que possam surgir, mas deve passar pela Roménia ou Portugal», diz Filipe Teixeira ao Maisfutebol.

Filipe confessa, entre risos, que a pergunta sobre o segredo da longevidade da sua carreira é recorrente, mas diz não saber responder com certeza.«Sou sério e profissional, tenho alguns cuidados desde o início da minha carreira, e talvez seja isso que me permita agora jogar mais anos», conta.

Apesar de estar há mais de dez anos no estrangeiro, não esquece o campeonato que o lançou para o futebol profissional. Campeão? Há dois candidatos. «A luta está muito bonita mas acho que vai ser entre o Porto e o Sporting.»

É impossível prever o rumo que a carreira de Filipe Teixeira teria tomado caso tivesse assinado por um «grande» português em 2007, ou se tivesse fugido à lesão grave no West Brom, em 2008. Mas enquanto as rugas que forem surgindo na cara não afetarem as pernas ainda frescas para correr, o português vai continuar a deixar a sua marca no futebol romeno.