A notícia foi dada neste sábado. Vítor Pimenta, até à data recuperador físico do Varzim, foi contratado pelo Real Madrid. Foi o próprio a fazer a revelação. Fê-lo nas redes sociais e com garantias de factualidade: «Assinei esta semana pelo Real Madrid. É verdade!!!!. Não é tanga!!!»

Surpreendente? Até para o próprio Vítor Pimenta frisar que é mesmo verdade? Só em parte. Porque, para quem conhece o recuperador físico português, para quem com ele trabalhou, a surpresa diminui ao ponto de até se tornar uma consequência que não surpreende assim tanto...

«Ele é convidado para ir para o Real Madrid fruto de um trabalho de muitos anos na traumatologia desportiva. Todos nós conhecemos o Vítor Pimenta pela competência do trabalho que realiza há vários anos», diz ao Maisfutebol Álvaro Pereira, médico especialista de ortopedia nas clínicas de «excelência FIFA» do Dragão, no Porto, e Ripoll y Del Prado, em Espanha.

«Trabalho com ele na área desportiva, mas tenho o distanciamento para falar!» Feita a declaração de interesses, Álvaro Pereira descreve esta transferência como um «motivo de orgulho e afirmação para a medicina de traumatologia desportiva portuguesa».

Interesse pela sua «competência»

O médico ortopedista descreve Vítor Pimenta como «uma pessoa de grandíssima reputação entre os nossos atletas», entre os quais estão nomes – além dos que estão reservados ao foro profissional – que «são conhecidos» como Fábio Coentrão, Hélder Postiga ou Bruno Alves. A partir desse «bom trabalho que vai sendo conhecido ao longo dos anos facilmente se pode compreender que não há outros interesses que não a competência técnica».

Paulo Alves é atualmente treinador, mas cruzou-se com Vítor Pimenta enquanto jogador, no Gil Vicente entre 2001 e 2005. E até confessa ao Maisfutebol que, «se não o conhecesse, ficava extremamente surpreendido por o Real Madrid vir ao Campeonato Nacional de Seniores buscar um fisioterapeuta». Mas conhece-o: «Tendo sido jogador e sendo formado em fisioterapia ele tem uma mas valia de conhecer as lesões e o estado psicológico de estar lesionado. Dá-lhe muitos trunfos para recuperar lesões.»

Vítor Pimenta ainda fez parte da formação como jogador no Benfica e no Sporting (depois de ter começado na Póvoa), mas, como sénior, ficou pelas divisões secundárias (Pedras Rubras, Vila Real, Ermesinde, Santa Clara, Avanca, Anadia e U. Coimbra). Vingar no futebol estava-lhe reservado na parte clínica. «Ele era muito interessado em querer evoluir, em fazer da fisioterapia e da recuperação algo muito importante e teve o prémio que tanto procurou», considera Paulo Alves.


«Organizado» e «estudioso»

Vítor Paneira trabalhou com Pimenta quando treinou o Varzim e destaca que «quem percebe a forma organizada como sempre trabalhou entende» esta contratação. «O Varzim tinha grandes carências e ele foi muito solidário e teve sucesso. E a prova é que o Varzim está onde está», diz ao Maisfutebol o atual técnico do Tondela sem se esquecer de juntar o «conhecimento do futebol,» que o recuperador português adquiriu também «com passagens pelo Gil Vicente ou Rio Ave».

Paulo Alves afirma que a contratação de Pimenta pelo Real Madrid «é fruto de um trabalho [caracterizado] pela sensibilidade que ele tinha em termos de recuperação». O campeão do mundo sub-20 em 1989 até deixa no ar uma conclusão: «Se calhar, tem conhecimentos que alguns médicos não conseguem ter por ter sido jogador. Em termos práticos, tem uma vantagem muito grande.»

«Ele é um estudioso. E também tem as suas clínicas», lembra Paulo Alves. Este trabalho paralelo em relação ao do clube é o que também dá o reconhecimento a Vítor Pimenta com vários atletas dos mais conhecidos. O antigo ponta de lança português destaca o «empenho e o mérito» do seu antigo recuperador físico no Gil.

Que pressão?

Álvaro Pereira faz uma análise médica das diferenças entre o clube da Póvoa e o de Madrid e o ortopedista refere que «as exigências do ponto de vista clínico são similares». «O que muda é a pressão», considera o médico. Pedro Faria, presidente do Varzim afirma ao Maisfutebol que «o Pimenta já está no mundo do futebol há uns anos e vai lidar com alguma facilidade» com essa pressão.

«Ele agora tem de preparar-se para uma coisa muito diferente», aponta Vítor Paneira, mas lembrando também que «o Real tem 10 ou 15 pessoas na estrutura» e que «tem de haver muita comunicação» devendo «preparar-se para estar no melhor clube do mundo». Paneira frisa que uma estrutura grande «está preparada» para a quantidade de jogos que os merengues realizam numa época e que, se no Varzim, Pimenta esteve habituado a trabalhar com «carências», no Real Madrid «não pode faltar nada porque a vitória tem de ser permanente».

O antigo médio do Benfica diz que convém ter uma adaptação «rápida» porque «a pressão de trabalhar com os melhores do mundo não é fácil». «A exigência é fora do comum e não há que pensar se não no jogo seguinte e pôr os jogadores no nível máximo», considera Paneira. Paulo Alves reforça que essa «pressão enormíssima» se deve ao facto de «não haver espaços de recuperação grandes».

«O Vítor é inteligente e sensível», diz Paulo Alves sobre a forma de lidar com aquele «mundo diferente». «Ele vai ter diferenças em termos de comunicação social, algo que não é fácil de gerir para ninguém», diz o agora treinador com o exemplo deste ano Bayern Munique, em que, por causa do tema lesões, o departamento médico caiu: «Já se pode aferir da pressão jornalística por tudo e mais alguma coisa. Vislumbrando um problema físico ou médico, vai recair sobre eles... Se o clube é maior, isso vai sempre aumentar de dimensão...»

«Felizes por ele»

Paulo Alves afirma que «constitui para ele um desafio extraordinário» e que «é algo que, se calhar, nem ele pensava». Vítor Paneira acredita que Vítor Pimenta, «em termos mentais, estará motivado a 100 por cento» e que essa «motivação irá superar dificuldades». Pedro Faria não rejeita a «quota-parte» do Varzim neste percurso, mas destaca também que «quem trabalha acaba por ter, mais cedo ou mais tarde, uma oportunidade destas».

«Ele deve aproveitar e nós ficamos felizes por este sucesso», disse o presidente do Varzim, clube da sua terra que Vítor Pimenta abraçou quando estava nos distritais para participar no projeto de subida de divisões que está em curso. E o clube que o recuperador físico não esqueceu de destacar na sua despedida do futebol nacional.

O Varzim tem um lugar especial no coração deste novo português em Madrid e foi Álvaro Pereira quem fez a «inconfidência» a respeito da festa da subida do Varzim à II Liga que coincidiu com o convite do Real Madrid. «O Vítor disse-lhes Eu hoje tenho a festa de subida de divisão do meu clube. Nem que vá às 4 ou 5 da manhã do dia seguinte vou ter convosco. Mas, hoje, tenho de estar com a minha gente.»