«Desde sempre gostei muito de jogar futebol. Eu não conseguiria fazer outra coisa e tento jogá-lo com toda a alegria. Em pequenino faltava às aulas para ir jogar à bola. Eu ficava depois dos treinos a treinar, e a treinar, e a ver o que os mais velhos faziam nos treinos.» Assim fala Fredy, jogador do Belenenses que tem estado em destaque neste primeiro terço da época e que acabou de prolongar até 2016 o contrato com o clube do Restelo.

E é uma relação que dura desde há muito, de facto, apesar de Fredy ter apenas 23 anos. Alfredo Kulembe Ribeiro nasceu em 1990 e aos 10 já jogava nos iniciados do Pescadores da Costa de Caparica. A mudança da família pareceu pôr o sonho em suspenso. Mas foi desilusão de pouca dura.

«Eu morava na Costa de Caparica e fui morar para o Seixal». E as possibilidades de continuar a jogar à bola pareciam ter ficado lá junto ao mar. Mas não, como recordou para o Maisfutebol: «A minha mãe viu que eu estava triste... E como trabalhava aqui perguntou-me se eu não queria vir para cá.»

«Aqui», «cá» são uma e a mesma coisa: o Belenenses. Onde Fredy também tem morado até hoje. O avançado entrou para os iniciados do clube do Restelo em 2001/02 dando início à formação que abrangeu todos os escalões até chegar à equipa principal. Tinha 19 anos. Jaime Pacheco deu-lhe a primeira e segunda oportunidades quando a época 2008/09 estava a chegar ao fim. Rui Jorge ainda ocupou o lugar de treinador nessa temporada e também o incluiu nas duas últimas jornadas dessa liga.



Nova época, novo treinador. João Carlos Pereira também contou com a prata da casa desde o primeiro jogo. E recorda-se de ter dado a titularidade a Fredy em quase toda a primeira volta. «Tinha toda a capacidade para isso», justifica ao Maisfutebol o treinador atualmente no Qatar. «Mas nós também fizemos com que acreditasse», pois, como frisa João Carlos Pereira, «desde os primeiros treinos que se impôs, pela vontade, pela irreverência» em campo. Os resultados verificam-se na «dinâmica que impõe» aliada à «qualidade em transportar o jogo para o ataque».

João Carlos Pereira analisa Fredy como «um jogador com muita qualidade, que pode acrescentar sempre algo às equipas, que é criativo, entende a lógica do jogo, dos espaços, dos tempos». Mas também como um jovem que «era tímido fora de campo» e que «dentro de campo soltava-se pela vontade de se afirmar e impunha-se». «Os mais velhos acabaram por respeitá-lo pelo esforço, pela capacidade e pelo interesse em impor-se», conta o técnico.

Zé Pedro era um desses mais velhos, com 30 anos quando Fredy jogou pela primeira vez na equipa titular do Belenenses para o campeonato. E também ele volta a falar do avançado internacional sub-21 português como «um jogador irreverente» que é e que «já na altura era». «Nós, os mais velhos, falávamos que ele era um jogador que vinha da formação que podia sobressair e ser importante para o Belém».

A primeira época regular de Fredy no Belenenses traduziu-se em 27 jogos, mais um do que na temporada seguinte, quando o clube já disputou a II Liga. Aí, marcou quatro golos. Em 2011/2012, Fredy começou em Portugal mas fez a segunda parte da temporada em Angola (seu país de nascimento), emprestado ao recreativo do Libolo – dividindo os 14 jogos entre os dois países e trazendo um título nacional angolano. O segundo título da carreira surgiu na última época, quando o Belenenses voltou à principal divisão portuguesa ganhando a II Liga. Fredy jogou 43 vezes e marcou 10 golos.

«Responsabilidade de dar o máximo»

As promessas estão a concretizar-se neste início de campeonato com presença garantida no onze da Cruz de Cristo. O jogo com o FC Porto – onde mereceu o destaque do Maisfutebol – deu o reconhecimento alargado à nova estrela do Belém – com 11 jogos e dois golos nesta época. Agora já jogador «com a maturidade [que] vai refinando as suas capacidades de provocar espaços entre as linhas», que «é mais criterioso nos duelos» e «sabe quando deve reter a bola», como analisa João Carlos Pereira; ou como descreve Zé Pedro: «Rápido, forte no um contra um e sem problemas para enfrentar os adversários.»

Este estatuto valeu a Fredy a renovação do contrato com a subida da cláusula de rescisão para quatro milhões de euros, como já foi noticiado. O jogador confessa o «orgulho» pelo «reconhecimento» que a direção do clube mostra pelo seu trabalho e recusa fazer depender a sua responsabilidade de qualquer valor que seja referido: «Eu tenho a responsabilidade de dar todos os dias o máximo.» Esse máximo está por «treinar a pensar na equipa» para que o atual décimo classificado possa «estabilizar na Liga». «Começámos mal, mas temos estado a evoluir bem», assume Fredy.



Com um percurso também na formação das seleções nacionais portuguesas desde os sub-16, Fredy chegou às 10 internacionalizações sub-21 tendo voltado a cruzar-se com o atual selecionador Rui Jorge, de quem recorda ainda a «grande ajuda» no Belenenses. Mas o próximo patamar internacional não esta ainda no horizonte mais próximo mesmo sabendo que Paulo Bento «aposta em jogadores».

«Não penso muito na Seleção. Acho que é muito difícil. O meu pensamento é o de todos os dias: trabalhar», garante o avançado do Belenenses sem esconder, contudo, que «todos têm o sonho». «Quem tem formação nas seleções, se calhar, ainda tem mais. E eu também sonho», diz. E, mesmo sem esconder que uma internacionalização AA será «uma das coisas mais felizes da vida», Fredy não se desvia: «Agora, o que tenho de fazer é trabalhar.».

Como sempre fez, como conta quem o conhece. Zé Pedro fala do menino tranquilo fora de campo» e «com vontade» de... «trabalhar». «É um jogador pontual. Não me lembro de ele chegar uma vez atrasado. Era de passar pouco tempo no posto médico», dá como exemplos o agora jogador do Alcochetense. Esse desígnio de trabalhar existe desde que «vinha para Lisboa quando ainda era muito jovem», admite Fredy: «Ajudou-me muito a ter essa vontade.»

Trabalhador e tranquilo, como também disseram dele. É «tranquilo» sim, concede Fredy com alguma indulgência, é «brincalhão», como confessa mais facilmente, gosta de «estar com a namorada», com os amigos e também com o seu cão. E, para além de todos aqueles, assume-se também «muito chegado à família». «Temos uma relação muito forte», diz o jogador que lembra como referência o «senhor que era dentro e fora de campo» Silas. Quanto a si, Fredy «gostava de deixar uma marca sendo uma referência para os mais novos».