Mais longe e mais alto é uma nova rubrica do Maisfutebol, que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.

José Cruz tem 17 anos e é campeão mundial júnior de patinagem artística. Tudo começou há cerca de 11 anos em Leça do Balio e hoje estende-se pelo Mundo com títulos, feitos e muitos sacrifícios. Algumas quedas, joelhos esfolados e hematomas também, porque «fazem parte».

Andava na natação, mas não se sentia como «peixinho na água» e foi um folheto publicitário que lhe mudou o rumo e o colocou sobre rodas para sempre ou, como diz o próprio, «até ter força nas pernas». 

À conversa com o Maisfutebol, José Cruz deu a conhecer um pouco mais sobre uma modalidade que, tem noção, «é bastante desconhecida» e pela qual se apaixonou para o resto da vida. Foi por isso que a trocou: «Gostava de natação, mas a minha paixão pela patinagem é muito superior. Aliás, não tem nada a ver.»

«Sempre gostei de modalidades mais criativas onde me pudesse expressar pelo corpo. Sempre gostei de dança e via ballet. Quando vi o folheto, as ‘peças’ juntaram-se», por isso lá foi experimentar: «Fiquei empolgado, fui e até agora não parei.»

Aos 17 anos, José Cruz soma já vários títulos de relevo internacional. No início deste mês de outubro, por exemplo, na primeira participação num campeonato do Mundo conheceu os três diferentes lugares do pódio: o primeiro a solo, os restantes nas provas de duo e quarteto.

Quando começou não sabia o que podia alcançar, mas mentalizou-se para as dificuldades: «Caia muito, mas via que os outros eram capazes de fazer e pensava: ‘se tenho capacidades, vou fazer igual ou melhor’. Na altura não conseguia, mas hoje consigo.»

Consegue, mas à custa de muito esforço e muita dedicação. Poucas horas dormidas também. Até porque nunca descurou dos estudos e este ano entrou na faculdade para estudar Marketing, mais uma forma «de ser criativo e inventar», depois de terminar o secundário com média acima dos 16 valores.

Sempre quis e conseguiu conciliar os estudos e a modalidade, sobretudo porque sempre teve as ideias bem definidas: «Sempre quis ingressar no ensino superior, mas também nunca quis abdicar da patinagem artística por nada.»

«Estou no curso superior, irei depois fazer um estágio e ver onde as oportunidades me levam. E isso é o mesmo que vou fazer com a patinagem. Espero continuar como atleta e mais tarde como treinador ou juiz. Quero continuar ligado à patinagem», justificou, acrescentando: «Os dois funcionam como um plano B. Se a patinagem não resultar tenho o curso e vice-versa.»

 «Quando estou em cima dos patins, está tudo a rolar... esqueço-me dos problemas»

Os dias de José Cruz começam, por norma, bem cedo. Com um treino opcional, escola e no final do dia um treino obrigatório de duas horas no pavilhão. Faz as tarefas escolares e dorme nos «intervalos» que tem.

Não se queixa do ritmo, mas admite que gostava de conseguir ter uma vida mais adaptada à dos amigos da mesma idade e agradece aos pais, que «se habituaram a gostar de patinagem artística» e que o «apoiam em tudo».

«Os maiores sacrifícios são não poder ir sair tantas vezes quantas queria, conviver mais com os meus amigos e não poder comprar tanta roupa quanto gostaria», disse, revelando que são os pais que lhe compram os fatos das provas: «São eles que me ajudam. Têm de comprar os fatos, nunca menos de um por ano, e que custam acima dos 150 euros cada um.»

José Cruz tem apenas patrocinadores para os patins e o pavilhão quem o cede é a Câmara Municipal de Matosinhos e o clube, o Rolar Matosinhos no qual está desde 2014, depois das experiências no Clube Araújo de Patinagem Artística e do Clube de Patinagem de Baguim.

Já a Federação Portuguesa de Patinagem é quem o ajuda nas despesas das provas, ao suportar as viagens e a estadia. Por isso, retribuir com o sucesso que tem tido é gratificante, tal como ouvir o hino português quando conquista o pódio.

José Cruz também está «satisfeito e orgulhoso» do percurso feito até aqui, na modalidade que pratica por «gostar» e com a qual não ganha nada financeiramente, mas que o faz «ser feliz» e esquecer os problemas: «Quando estou em cima dos patins, está tudo a rolar. Abstraio-me do mundo exterior. Esqueço-me de todos os problemas e fico mais calmo.»

Por isso, é sobre essa tranquilidade que quer continuar a viver e espera chegar ainda mais longe do que até aqui. Até porque, afinal, tem somado títulos em todos os escalões e o maior sonho está no próximo: «Quero ganhar o campeonato do mundo em sénior. É o sonho de qualquer patinador e o meu. Vou fazer de tudo para lá chegar.»