Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades

«Chegar ao Campeonato do Mundo? Temos condições para isso. A cada ano que passa estamos cada vez melhores e acredito plenamente que estamos quase a atingir o nosso objetivo.»

Nem o hiato de 12 anos em grandes competições que a seleção portuguesa de andebol já leva retiram confiança a Gilberto Duarte.

Dias depois de Portugal empatar com a Polónia (27-27) e garantir a passagem ao play-off de apuramento para o Mundial 2019, o Maisfutebol falou com o homem que mais se destacou nessa partida. Seis golos, assistências e roubos de bola importantes: eis o contributo do jogador de 27 anos num duelo de nervos diante do medalha de bronze do Mundial de 2015 e presença constante em grandes competições internacionais.

«Sempre estive confiante, muito confiante de que podíamos empatar e até vencer. Empatámos, mas tínhamos todas as capacidades de vencer e tivemos o jogo na mão», conta o lateral esquerdo em conversa telefónica durante uma viagem de comboio que antecedeu o regresso à Polónia, país onde joga desde o verão de 2016.

«Contra a Polónia joguei contra cinco colegas meus no Wisla Plock. É bom voltar depois de ganhar, mesmo não estando em casa [risos] »

Gilberto Duarte nunca acompanhou as proezas da geração de Carlos Resende, atual treinador do Benfica que foi o rosto principal da chamada «era de ouro» do andebol português, estatuto cimentado pelas oito presenças em fases finais de campeonatos do Mundo e da Europa entre 1994 e 2006. «Não me lembro muito dessa geração, porque foi mais ou menos na altura em que eu comecei a jogar andebol. Era miúdo: jogava, mas não acompanhava na televisão», conta.

A seleção portuguesa está agora a dois jogos de regressar a um Mundial, que, a acontecer, será o primeiro com bandeira portuguesa desde a edição de 2003, curiosamente realizada em Portugal. «Não sei o que pode ter falhado durante alguns anos, talvez experiência internacional dos jogadores. Mas agora há cada vez mais jogadores portugueses no estrangeiro e isso é uma vantagem para o nosso andebol porque contribui para o aumento da qualidade, claramente.»

Do começo no Lagoa à afirmação no FC Porto

Duarte é desde há alguns anos um dos jogadores-referência da seleção portuguesa, estatuto que aceita sem problemas mas sem tirar os pés do chão. «Sei que as pessoas veem-me como uma referência, principalmente os miúdos. É uma responsabilidade boa», diz.

Paralelamente, foi figura no FC Porto, clube onde se lançou profissionalmente e se sagrou campeão nacional sete épocas consecutivas, mas o percurso, agora recheado de títulos coletivos e individuais, começou no Lagoa Académico Clube, emblema algarvio onde se iniciou aos nove anos.

«Quando eu tinha 15 anos houve uma Supertaça entre o Sporting e o FC Porto e o meu treinador da altura era amigo do diretor do FC Porto. Fui lá fazer uns testes durante uma semana e eles ficaram interessados. Foi nessa altura que comecei a pensar um bocadinho mais a sério na possibilidade de me tornar profissional, até porque o meu treinador disse-me que eu tinha muitas capacidades e que podia fazer algo interessante.»

Gilberto Duarte fez as malas e agarrou o sonho ainda adolescente. Em 2011 já era internacional português e em 2012, ainda com 21 anos, acumulou os prémios de revelação e de melhor jogador do campeonato nacional.

«Polacos vivem muito o andebol»

«Foram anos muito bem passados, mas a certa altura ganhei o interesse em sair de Portugal e sempre houve interessados. Calhou ir para a Wisla Plock, mas podia ter ido para outro clube de outro país.» O Wisla Plock é uma das equipas mais tituladas da Polónia, mas não vence o campeonato há várias épocas. Este ano vai tentar, mais uma vez, pôr fim a um domínio do Vive Kielce, equipa rival que venceu as últimas seis edições da prova. «Não faz sentido ser de outra forma. É difícil, mas a nossa obrigação é tentar.»

E como vivem os polacos o andebol? «Em certos países a realidade é completamente diferente da portuguesa em termos de apoios e visibilidade e eles vivem muito mais o andebol do que nós. Os pavilhões estão quase sempre cheios e as pessoas vibram muito. Se estou feliz? Sim, estou a fazer o que mais gosto, que é jogar andebol, mas ainda tenho muitos sonhos por concretizar: ir a uma fase final e chegar longe numa competição europeia, experimentar outros campeonatos e ganhar mais títulos», remata.