A conceituada revista de inglesa «Four Four Two» faz um tributo a Malcolm Allison, antigo treinador campeão pelo Sporting, falecido esta sexta-feira, aos 83 anos, recuperando um artigo de Dezembro de 2008, assinado em por Steve Anglesey, no qual é feito um retrato de um treinador que, apesar de nunca ter conseguido muito êxito no seu país, foi sempre uma figura mediática pela sua peculiar personalidade.

Sob o título de «Big Mal, the playboy boss», o artigo começa por recordar uma fria e ventosa tarde de Janeiro de 1976, num jogo da Taça de Inglaterra entre o Scarborough e o Crystal Palace, em que o treinador apareceu pela primeira vez com o chapéu Fedora, oferecido por uma namorada, que passaria a ser uma das suas imagens de marca. Malcolm Allison, o treinador, começava a dar vida ao personagem «Big Mal». «O desejo de alimentar esta personagem começou a ser maior do que a ambição de ser um treinador inovador. É por isso que ele não é recordado por ter conquistado quatro troféus em três temporadas no Manchester City e de ter proporcionado o futebol mais atractivo daquela época, mas sim por ser o tipo de chapéu e charuto», conta David Tossell na biografia do treinador.

O artigo conta com o testemunho de antigos jogadores que partilharam momentos da sua carreira com «Big Mal», entre os quais Terry Venables e Bobby Moore, que o destacam como um «visionário» e como um treinador à frente do seu tempo, não só pelos métodos de treino, por sectores, como também a nível táctico. Depois de três anos como treinador adjunto no City, passou a treinador principal no Crystal Palace e, apesar de não ter conseguido evitar a despromoção do clube, chegou às meias-finais da Taça de Inglaterra em 1976, numa altura em que se chegaram a vender réplicas do seu chapéu à entrada do Selhurts Park.

Foi nesse ano que Allison chocou a imprensa britânica ao permitir que uma actriz de filmes pornográficos, Fiona Richmond, entrasse no balneário para ser fotografada com os jogadores. A fama de alcoólico e mulherengo começava a ganhar uma nova proporção. «Ele tinha um apetite feroz pelas coisas boas da vida e o facto de estar em Londres não o ajudou muito», conta James Lawton, antigo jogador do Palace.

Sem emprego em Inglaterra, Malcolm teve curtas passagens pelos Estados Unidos e Turquia antes de regressar para treinar o Plymouth e, depois, voltar ao City no que o próprio classifica como «o maior erro» da sua carreira. As contratações revelaram-se desastrosas, os resultados não apareceram e os métodos de Allison eram ridicularizados pela imprensa. Acabou por ser despedido em 1980 antes de voltar à ribalta à frente do Sporting. Em Alvalade, apesar da conquista do campeonato e da Taça, também acabou por ser afastado pela vida que levava. Ainda foi seleccionador do Koweit onde diz que conheceu o único presidente que mereceu a sua confiança, Sheikh Fahd. «Era um tipo fantástico. Quando o Saddam Hussein invadiu o Koweit, mandou a família para um lugar seguro e ficou na sua varanda com uma metralhadora. Matou dezoito iraquianos antes de ser morto», contou Allison.

Antes do final da carreira, ainda voltou a Portugal para treinar o V. Setúbal e o Farense, ante de colocar um pronto final no Bristol Rovers.

Recorde aqui a festa do título do Sporting com Malcolm Allison