A síndrome foi identificada na década de 40. O F.C. Porto chegou a perder por 8-1 no vetusto Campo da Amoreira. Em seis deslocações ao terreno do Estoril-Praia, seis derrotas. Trauma, psicose, incompreensão.

Nos anos 50 o ciclo inverteu-se. Os azuis e brancos venceram nas duas únicas viagens à Linha. O suplício, porém, não acabara. Após as tréguas peace and love nos anos 60, por força da descida do Estoril à 2ª divisão, os clubes reencontraram-se em 1975.

O F.C. Porto escapou no primeiro ensaio (vitória por 1-3), mas submergiu logo depois num ciclo de oito jogos seguidos sem triunfar. Isto apenas em jogos para o campeonato nacional.

Rodolfo Reis, histórico dragão, habituou-se a não ganhar na Amoreira. A maldição era assumida no balneário azul e branco. «Podia estar aqui o dia todo a pensar e não encontrava uma explicação para os maus resultados lá», confessa ao Maisfutebol.

«Uma vez fomos lá jogar para a Taça e perdemos», conta o antigo médio, jogador de raça. «Depois fomos jogar ao Colónia, que tinha uma boa equipa na altura, e empatámos. Nas Antas ganhámos. Ou seja, perdemos com o Estoril e eliminámos o Colónia. Era assim».

Um fim-de-semana sem totalistas no totobola

Óscar Duarte sabe bem do que fala Rodolfo Reis. O médio revelou-se no Estoril-Praia entre 1976 e 1978. Transferiu-se daí para as Antas. «O F.C. Porto não tinha o valor de hoje, atenção, mas o Estoril jogava com uma espécie de vantagem moral nesses jogos», conta o cabo-verdiano.

«Numa das vezes fiz um golo fabuloso. Nesse fim-de-semana não houve totalistas no totobola por minha culpa. Ninguém esperava que o F.C. Porto não ganhasse», conta Óscar.

«Fui o melhor em campo e recebi umas calças e um guarda-chuva. Tínhamos seis meses de salários em atraso e aquilo para mim foi o El Dorado». Rodolfo Reis lembra-se bem de Óscar e recorda-o com alguma piada.

«Ele não marcava golos a mais ninguém e contra nós marcava a 30 e 40 metros da baliza. Uma vez fez um chapéu do círculo de meio campo. Era incrível. Não tem explicação», insiste.

Pedroto desesperado contra um Estoril sem dinheiro para salários

Época 1978/79, Taça de Portugal. O Estoril-Praia envergonha o F.C. Porto com uns concludentes 3-0. José Maria Pedroto acaba o jogo em desespero. Na baliza do Estoril-Praia estava um senhor chamado Manuel Abrantes. Ao Maisfutebol recorda essa tarde de trás para a frente.

«Perto dos 80 minutos estava 0-0. Tivemos uma grande assistência. Pensámos que o empate era bom, porque depois íamos às Antas e aproveitávamos a receita de lá, que era a dividir. Ajudava-nos a pagar os salários». Mas não foi bem assim.

«Marcámos um golo. O falecido Pedroto tirou um defesa e meteu um avançado. E nós fizemos o 2-0. Ele tirou um médio, meteu outro avançado e nós chegámos ao 3-0. No final o senhor Pedroto andava de mãos na cabeça, à porta dos balneários», atira Manuel Abrantes, a sorrir.

«O mestre Pedroto dizia que era inacreditável perder contra uma equipa que nem dinheiro tinha para os vencimentos. O jogo ficou-me na memória porque o João Lachever, a alma do clube, ia morrendo. Teve um princípio de ataque cardíaco».

ESTORIL-F.C. PORTO

DÉCADA DE 40

6 jogos: 6 vitórias para o Estoril; 23-4 em golos

DÉCADA DE 50

2 jogos: 2 vitórias para o F.C. Porto; 3-5 em golos

DÉCADA DE 60

nada a assinalar

DÉCADA DE 70

6 jogos: 3 vitórias Estoril, 1 para F.C. Porto, 1 empate; 9-5 em golos

DÉCADA DE 80

3 jogos: 3 empates; 2-2 em golos

DÉCADA DE 90

3 jogos: 3 vitórias do F.C. Porto; 1-6 em golos

SÉCULO XXI

2 jogos: 2 vitórias do F.C. Porto; 2-4 em golos

TOTAL:

8 vitórias do Estoril, 8 do F.C. Porto, 5 empates

39-28 em golos

O fim da maldição: Estoril-F.C. Porto, 0-2 (1991/92)