* enviado-especial a Manchester

Joel Pereira é o único jogador português que integra o plantel principal do Manchester United, de José Mourinho.

O Maisfutebol está em Inglaterra para acompanhar o jogo dos red devils com o Benfica e falou em exclusivo com o internacional sub-21, de quem Mourinho disse um dia ter potencial para ser o melhor guarda-redes português desta geração.

O guardião chegou ao United com 16 anos e conta agora como tudo sucedeu. Desde os 14 anos, em que era fã de Van der Sar e Iker Casillas até ao elogio do técnico setubalense. 

Chegou ao United com 16 anos, está na equipa principal, mas ainda conhecemos pouco da sua história. Como se deu essa mudança da Suíça para cá?

Cresci na Suíça e comecei por jogar na seleção suíça. Num desses jogos, houve olheiros do United e, claro, era impossível recusar uma oferta deste clube. Vim sem pensar duas vezes.

E na Suíça sempre foi guarda-redes?

Não! Comecei como defesa, subi para o meio-campo, depois avançado e acabei na baliza [risos]. Havia um campinho em frente de casa, jogava com o meu irmão e os amigos, que são todos mais velhos. Eu gostava de ir sempre à baliza. Também me obrigavam [risos], mas eu gostava. Era alcatrão mas eu atirava-me ao chão! Um dia quis mesmo tentar e comecei a jogar no Locle e depois no Neuchatel. 

Depois vem para Manchester. Veio sozinho, aos 16 anos?

Pois, mas eu aos 14 já estava num centro de formação. De segunda a sexta estava lá, ia para casa na sexta, no sábado jogava e na segunda já lá estava de novo. Ou seja, já estava um pouco habituado a estar fora de casa. Vim para Manchester e fiquei numa família de acolhimento com outros três jogadores. O Andreas Pereira, o Michele Fornasier e o Charni Ekangamene. Depois fui viver com o Andreas Pereira, que está no Valência. Somos como irmãos!

Nesses primeiros tempos ainda apanhou por cá Alex Ferguson…

Era o último ano dele. A primeira vez que o vi… vim cá passar uma semana antes de assinar. Fui à cantina e estava lá o Ferguson. Ele falou comigo, não percebi nada, mas só de olhar para ele pensei que estava num sonho. Depois veio o Rooney, só estrelas. Não sabia se aquilo era bem verdade.

O Manchester United é conhecido por ter muito boa formação, que é uma parte importante da História do clube. Lingard, Rashford continuam essa história. Como se vive por dentro essa experiência?

Saber que houve jogadores que chegaram à primeira equipa dá mais motivação. Mais fé. Aqui funciona assim: estás no balneário dos sub-18, ao lado tens os sub-21 e do outro lado desses tens a equipa A. Passas dos sub-18 para os sub-21 e só queres passar para o outro lado. Eu tive a sorte de passar um pouco mais cedo. Já estava muito feliz nessa altura.

Mas a meio desse processo, dizem-lhe que vai jogar um mês para o Rochdale. Como sucedeu isso?

O campeonato dos sub-21 tinha poucos jogos e dos que tinha, o Louis Van Gaal pôs o Valdés a jogar. Ele preferia meter o terceiro guarda-redes da equipa principal. Quando se tinha menos de 21 anos, podia-se ir emprestado por um mês. Eu pensei, “porque não?”. Eles gostaram muito de mim, mas por acaso regressei no final desse mês ao United, e sem ter jogado. Dois dias depois de ter voltado, o treinador do Rochdale ligou-me a dizer que me queria lá. Disse, “tens de voltar e vais jogar”. Eu disse que sim, renovei por um mês e fiz oito jogos. Ele queria que eu ficasse até final da época, mas voltaram a chamar-me para me apresentar a 1 de janeiro no United.

Para além do Rochdale, teve outro empréstimo. Como vê o Belenenses no seu percurso?

Foi um passo importantíssimo na minha carreira. Eu até dizia na seleção, ao mister Brassard e ao mister Rui Jorge que já ia à seleção desde os sub-17 e ninguém me conhecia, porque nunca tinha jogado em Portugal. Achava que podia ser muito bom [jogar no Belenenses], para as pessoas me conhecerem e ter minutos de jogo. E isso aconteceu.

No Belenenses, com o Julio Velasquez jogava o Hugo Ventura, mas depois chegou o Quim Machado e começou a apostar no Joel. Foi só o treinador que mudou ou o Joel também?

Não, eu fui sempre o mesmo. Cheguei com a ambição de querer jogar o mais rápido possível. Trabalhei duro para isso. Eu sabia que ia jogar na Taça. O mister Velasquez já me tinha garantido isso. Ele entretanto foi despedido, e entrou o Quim Machado, a quem tenho de agradecer. Sei que trabalhei duro para isso, mas tenho de ficar agradecido.

Fez 10 jogos pelo Belenenses e chegou a ser destaque nalguns. Qual é o que mais recorda?

Hmm, Feirense? Acho que o jogo do Benfica, por ter sido a minha estreia na Liga. Não sabia se ia jogar para o campeonato e fiquei muito feliz. Aí vi o que o trabalho foi recompensado. Esse é um dos meus melhores momentos. O Feirense talvez tenha sido o meu melhor, porque vencemos 1-0 e…a bola não entrou, acho que estive bem.

Gostava de ter ficado mais tempo no Belenenses?

Quando o José Mourinho e o Manchester United chamam não se pode dizer que não. Foi ótimo ter jogado todos os fins de semana, mas como disse, quando um clube e um senhor como Mourinho te dizem para regressar…regressas. Ele acreditou mesmo em mim, deu-me confiança e oportunidades.

Não fez só isso, também disse que o Joel estava apontado a ser o melhor guarda-redes português da sua geração. Isso coloca-lhe alguma pressão?

Só quero uma coisa [pausa]. Provar que ele pode ter razão. Dar o melhor de mim para não o desiludir. É ele quem me transmite confiança e fala bem de mim. Quero fazer tudo para ele ficar feliz.

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