Manuel Balela voltou a assumir nesta segunda-feira o comando técnico de uma equipa marroquina, o Kawkab Marraquexe, do segundo escalão, regressando a um país muçulmano, onde a mulher continua a ter um estatuto secundário na sociedade.
«Vim sozinho para Marrocos, sou solteiro e isso acaba por ser uma felicidade neste momento, devido à forma como as mulheres são tratadas aqui. Se fosse casado, seria muito mais complicado aceitar o convite e vir», lembra o treinador, que conhece bem a realidade do futebol marroquino, depois ter orientado anteriormente o WAC Casablanca e, precisamente, o Kawkab Marraquexe.
«Temos grandes condições de trabalho, o Kawkab tem quatro campos de treinos para os escalões de formação, por exemplo, e existe muito apoio dos adeptos. Às vezes, até é preferível realizar treinos à porta fechada, tamanha é a loucura dos adeptos. Cheguei a estar num estádio com noventa mil pessoas. Aqui, no Kawkab, na segunda divisão costumam estar cerca de sete mil adeptos no estádio, em dias de jogo, mas se subirmos de divisão esse número vai ser muito maior», explica Manuel Balela.
O treinador português explica que Marraquexe acaba por ser uma cidade aberta ao exterior, com muitos traços europeus. «Em minha opinião, Marraquexe já nem é Marrocos. Muitas empresas são estrangeiras e a circulação de pessoas também interfere com a cultura dos cidadãos locais», refere.
Uma prática, contudo, é religiosamente seguida, e interfere com o trabalho de preparação das equipas. O Ramadão, que impede os muçulmanos de ingerir líquidos ou sólidos durante o dia, começou a ser cumprido no início de Outubro e entra agora na última semana. «É extremamente complicado, apesar dos jogadores dizerem que estão habituados. O mais difícil é a primeira semana, onde acusam muito a mudança de regime, e a última, onde o desgaste mais se faz sentir. Nesta altura, só podemos fazer um treino, e à tarde, para os jogadores poderem comer logo a seguir», conclui Manuel Balela, em conversa com o Maisfutebol.