O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
Leia a apresentação de Manuel Madureira
MANUEL MADUREIRA, Al Qadisyia FC (Arábia Saudita)
«Olá caros amigos,
Depois do normal período de pré-época, tudo preparamos para o primeiro jogo do Campeonato Nacional de Sub/20, com o Al Ahly, na cidade de Riade, a 480 km de Al Khobar.
Seguimos no mini-bus para Dammam e daí voámos para a capital da Arábia Saudita. Linda cidade, vista do solo e quando viajámos noutro mini-bus do aeroporto internacional para o hotel Safir, bem no centro da cidade e a cerca de três kms do estádio do clube visitado.
Até aqui, nada de anormal. Depois de nos instalarmos, o nosso Diretor Desportivo, Sr. Zaarani, solicitou-me que o acompanhasse ao exterior do hotel, para comprarmos
fruta, água, iogurtes e biscoitos secos para dar aos atletas no intuito de terem do que comer, para enganar o estômago durante a noite.
Era tempo de Ramadão. Tínhamos passado o dia em viagem, sem poder comer ou beber água. Com temperaturas de 50 graus diurnos e 35 noturnos, o risco de desidratação é maior.
Mas, finalmente, o relógio foi avançando e à hora designada mundialmente como hora do jantar (18h50), tomámos a nossa primeira refeição do dia, o nosso pequeno-almoço: «FTHOUR».
Cerca das 23h45, voltamos à sala de jantar, para a nossa segunda refeição, designada como «SHOUR» o equivalente ao nosso almoço.
Às 4H45, nova ida à sala de jantar do hotel Safir, para desta vez, tomarmos o equivalente ao nosso jantar, já que depois dessa hora voltava a interdição de comer e beber até novamente o circuito horário dar a volta completa das 24 horas e ser novamente 18H55.
Pergunto-vos se sabem porque mencionei um horário no primeiro dia (18H55) e no segundo dia um outro horário diferente (19H00)??? Porque na religião Muçulmana, a cada dia de Ramadão, o horário muda, avançando diariamente cinco minutos por causa do ajuste de acerto especifico no calendário muçulmano.
Isto tem também como base, a interpretação do Ciclo Lunar.
Incrivelmente, o nosso jogo foi realizado às 13H30, debaixo de um forno de 52 graus centígrados, onde água foi uma miragem. Ganhámos 4-0.
Fui solidário com o momento por todos vivido, demonstrando uma enorme capacidade de adaptação e resistência, pese embora me sentisse bastante mais debilitado do que todos os outros.
Afinal, se eles eram capaz, porque é que eu também o não poderia ser. Essa solidariedade para com eles valeu-me um respeito adicional, importante para a liderança da equipa.
Tornei-me cúmplice deles e dessa forma, os fatores da motivação subiram mais alto. Consegui obter do grupo de trabalho performances sublimes, a cada jogo realizado, a cada treino sofrido.
Os frutos? Campeão Nacional. Já aqui tinha mencionado que quem for para outro país trabalhar deverá deixar preconceitos e outras coisas mais
em Portugal.
Adaptar é inovar e quem melhor conseguir interpretar essa simbiose, mais probabilidades de êxito terá na sua caminhada. Por hoje fico por aqui.
Despeço-me com um abraço amigo.
Façam o favor de serem felizes onde e com quem quer que estejam.
Manuel Madureira»
Made In
21 mar 2013, 15:29
Manuel Madureira: as agruras do Ramadão e um jogo a 52 graus
Crónicas Made In Portugal
PJC
VÍDEO MAIS VISTO
NOTÍCIAS MAIS LIDAS