Romaria colectiva, abençoada por um domingo de Abril anormalmente soalheiro para as gentes de Manchester. Mais de 70 mil pessoas numa procissão de fé notável, rumo a Old Trafford e ao jogo entre o United e o Aston Villa. O Maisfutebol misturou-se na multidão e viveu o antes e depois de uma partida da Premier League.

Pormenores curiosos rodearam-nos desde os canais de Salford até à zona de armazéns que ladeia o «Teatro dos Sonhos». Primeiro detalhe: Cristiano Ronaldo continua a ser o grande dominador nas camisolas envergadas pelos adeptos. O português é adorado por estas paragens, como nos contaram James Murphy e Michael Moore, dois amigos que não perdem um jogo em Old Trafford.
«É o nosso Deus», atira um deles, de cerveja em riste. O outro mastigava um hamburger, diante de uma das dezenas de barracas de comes e bebes existentes. «O ano passado estava melhor, mas hoje vai marcar.» Não se enganou.
Um toque de arrogância bem britânica
Nos stands de venda de cachecóis e camisolas, pudemos ver alguns artigos alusivos ao F.C. Porto. Ryan, um vendedor com pronúncia indecifrável, dá os primeiros ares de superioridade e arrogância inglesas. «Hoje vai ser mais difícil do que na terça contra o Porto. 2004? Não há hipóteses que volte a acontecer.»
De facto, nos breves contactos mantidos à porta de Old Trafford, a nota dominante foi sempre a mesma: menorizar o nome e a qualidade do F.C. Porto. É nestes detalhes que se percebe melhor a condição dos adeptos ingleses. Quase tudo o que vem de fora, para estes senhores, não presta.
Allan Patty, editor da revista Red Issue, alinha pelo mesmo diapasão. «O United teve sorte no sorteio. Na terça ganhamos por dois ou três e vamos descansados a Portugal. Jogadores do F.C. Porto? Não conheço.»
A ignorância relativamente ao tricampeão português é, aliás, característica do típico adepto do Manchester United. Imaginem se o F.C. Porto não tivesse silenciado Old Trafford há cinco anos.
O táxi de Best e Law
Das pessoas com quem falámos, o taxista Michael Perry foi o mais elogioso para a equipa portuguesa. Mostrou-se curioso, fez-nos imensas perguntas e disse adorar Lucho Gonzalez. Depois, este verdadeiro contador de histórias deu lustro ao passado.
«Fui o taxista particular do senhor George Best e hoje em dia ainda transporto o senhor Dennis Law várias vezes. Este táxi faz parte da história do ManUtd», referiu-nos Michael, um cinquentão que passa férias no Algarve «há sete anos seguidos» e que considera Zinedine Zidane «o melhor de sempre».
«O Eric Cantona disse ao Ferguson para contratá-lo, mas o velhote não gostou do Zizou. Nessa altura ele ainda jogava em França.»