A pressão insofismável de ser filho de D10S. A crueldade das comparações, a partitura de dois seres ligados pelos genes, mas afastados pela realidade. A vida de Diego Armando Maradona Júnior é tabelada desta forma. Tudo o que diz, tudo o que faz, encontra inevitavelmente o eco da provocação: «o pai é que era...»
Numa descomplexada entrevista ao Maisfutebol, o filho do mais prodigioso dos génios falou de tudo um pouco. De uma relação que não existe - Maradona viu apenas o filho uma vez, por acaso -, da admiração que sente pela mãe, da sua carreira e, sobretudo, de futebol.
Um golo sublime e o futebol de praia (vídeo)
«Não é fácil falar do meu pai», suspira. «Vi-o acidentalmente num campo de golfe, em 2003. Falámos cerca de 40 minutos. Deu-me muitas explicações e perguntou-me como estava a minha vida. Disse-me que não soube durante muitos anos que eu era filho dele. Emocionei-me. Afinal, o homem é meu pai. Presente ou ausente.»
Importa explicar que Diego Armando Maradona Júnior nasceu em 1986, fruto de uma relação extra-conjugal de El Pibe com Cristina Sinagra, uma jovem de Nápoles. O actual seleccionador argentino recusou a paternidade do pequeno Diego, até um teste de ADN colocar fim a todas as dúvidas.
«Ele disse uma vez numa entrevista que eu fui um erro. É triste ouvir isto de um pai. Mas perdoei-o quando estive com ele. Na primeira e única vez que estive com ele. Não lhe guardo rancor.»
«Queria que soubessem que sou filho do Maradona»
Um gigante de joelhos não deixa de ser um gigante. Maradona chorou na hora de conhecer o filho bastardo. Vergado à vergonha, ao arrependimento, o maior dos maiores pediu desculpa.
«Desabafou comigo. Admitiu-me que tinha sido uma pessoa doente, toxicodependente. Pedi-lhe para ficar tranquilo e assegurei-lhe que estou bem. A minha mãe sempre me disse bem dele. Tem um coração enorme, apesar de todos os defeitos», concede ao nosso jornal Maradona Júnior.
O filho de D10S cresceu encarcerado na profusa dimensão do próprio pai. Na escola, no Nápoles, em todo o lado, Diego Júnior olhava e via o pai que nunca conhecera. Aceitou a recusa do progenitor, lidou com a rejeição e tentou aproximar-se através da imitação.
«No campo era impossível. Mas via fotos dele e queria que as pessoas soubessem que eu era filho do grande Maradona. Deixei crescer o cabelo, pus brincos, fiquei com barba. Até uma tatuagem do Che Guevara fiz.»
«O nome Maradona funciona ao contrário»
Ano após ano, a separação entre pai e filho ramificou-se. Júnior ganhou consciência, maturidade, encontrou refúgio na companhia da mãe e da restante família. Mas sabe também que, até ao fim dos dias, carregará o peso de um nome. Um nome que o ajudou a conquistar «o amor dos adeptos do Nápoles» e pouco mais.
«O nome Maradona funciona ao contrário. Não sou tão bom como ele e as pessoas desiludem-se com isso, como se fosse possível ter a mesma qualidade do melhor de todos os tempos. Eu tenho algum talento, mas preciso de treinar todos os dias para melhorar.»