Segurança e homenagem. São estas as duas características que marcarão a 118ª edição da Maratona de Boston, que vai realizar-se no próximo dia 21. A ordem dos fatores não foi enunciada de forma indiferente. A segurança vai mesmo presidir a tudo quando corredores e público voltarem às ruas de Boston um ano depois dos atentados bombistas de 2013.

As homenagens terão um ponto alto já nesta terça-feira, quando se cumprem os exatos 365 dias sobre a prova que ficou marcada pelo rebentamento de dois engenhos explosivos junto à linha de meta. Três pessoas morreram e 264 ficaram feridas – muitas com gravidade e muitas ficando amputadas dos membros inferiores.

A Maratona de Boston é disputada no terceiro domingo de abril, que assinala o feriado do Dia do Patriota, numa manifestação única de festa local com epicentro na corrida de 42 quilómetros onde costumam estar muitos atletas conhecidos mundialmente. No dia 15 do ano passado, quando muitos já tinham cortado a linha de meta, duas bombas explodiram em Boylston Street com 12 segundos de diferença. O primeiro engenho rebentou às 14h49.

O tributo desta terça-feira começará com um minuto de silêncio à hora do primeiro rebentamento. Às 14h50 os sinos das igrejas repicarão ao mesmo tempo que os barcos no porto de Boston tocarão as buzinas. Ouvir-se-á o «Hino à Alegria» de Beethoven enquanto se levantar a faixa que esteve na linha de meta em 2013.



Os discursos de homenagem no Hynes Convention Center de Boston irão ser proferidos por personalidades que incluem desde as vítimas até às mais altas figuras dos Estados Estados Unidos como o vice-presidente Joe Biden. Serão homenageados os mortos no atentado – incluindo o polícia que foi morto nos dias da perseguição feita aos dois bombistas – os feridos, os bombeiros, os polícias, os funcionários dos hospitais e todos os que voluntariamente ajudaram no caos e tragédia que aconteceu.

Muitos têm sido – à boa maneira norte-americana – recordados e destacados na sociedade ou nos media pelos atos de heroísmo no dia dos atentados. Ao longo de um ano tem sido assim, com muitas reportagens sobre heróis e, claro, vítimas. Quando se aproxima a reedição da prova, as recordações ganham de novo mais emoção, que crescerá durante seis dias até à realização da prova – no seguimento do slogan «Boston Strong» que se gerou como uma recusa em ceder ao mal causado.

O grito de revolta feito em forma de homenagem pela estrela da equipa de beisebol dos Red Sox, David Ortiz, na primeira vez que a equipa de Boston jogou em casa depois dos atentados (uma semana depois), é exemplo da atitude que se decidiu ter na capital do Massachusetts e que terá o expoente no próximo dia 21.



«Faz todo o sentido as pessoas fazerem essa homenagem», afirma Dulce Félix, atleta portuguesa presente na maratona do ano passado e que presenciou (já no hotel depois ter terminado em nono) toda a tragédia que aconteceu nas ruas de Boston. Ao Maisfutebol, Dulce Félix confessa que «será sempre com tristeza» que irá recordar essa prova: «É uma maratona que nunca irei esquecer, Vai ficar sempre na minha memória.»

Espera-se «um milhão de espectadores» nas ruas de Boston para ver uma maratona conhecida mundialmente. «Mais do dobro da média», afirmou ao «Boston Globe, o diretor da corrida há 26 anos. Dave McGillivray revelou que, assim, estarão também destacados «mais do dobro» dos polícias da edição de 2013: serão 2.500 agentes.

A preocupação principal é «a segurança de todos os envolvidos no evento», assumiu McGillivray. Haverá checkpoints de controlo policial para público e participantes e os objetos permitidos depois desses checkpoints são muito específicos. É «depois da segurança» que surge o objetivo de «manter a qualidade e a integridade da corrida». Dia 21 são esperados 36 mil participantes – mais nove mil do que na trágica edição anterior.

Esta participação em massa não espanta Dulce Félix: «É uma prova mediática, é uma das mais conhecidas do mundo e ainda ficou a ser mais conhecida, pois só se falava da tragédia. E é uma maneira de participar, é uma homenagem às pessoas: às que sofreram perdas, às que ficaram marcadas para o resto da vida.»

A atleta portuguesa conta que «este ano surgiu a Maratona de Londres», disputada no último fim de semana» e não pôde pensar no regresso a Boston, mas «se tiver de voltar» a Boston volta «sem problemas». E reforça: «Se puder ir lá outra vez vou.» Dulce Félix analisa que a segurança também serve para «os participantes se sentirem mais confiantes na corrida» e que na Maratona de Nova Iorque, que correu em novembro, «já havia muita segurança».

«Acima de tudo, a Maratona de Boston será o lugar mais seguro da terra para se estar na segunda-feira dia 21 de abril», garante o diretor da prova; ele que destacou a «colaboração» que caracterizou os últimos 12 meses, divididos em três momentos: «recuperar depois de digerir o que aconteceu em 2013, concetualizar o que seria o evento de 2014 e, finalmente, executá-lo.» «É altura de a Boylston Street e a linha de meta voltarem a ser nossas. É altura de voltar a correr», diz McGillivray.