Brasileiro que se preze não suporta o frio. Não lhe peçam, também, para suprimir durante muito tempo o feijão com arroz e a picanha do regime alimentar. Não vai dar certo. O Maisfutebol dá-lhe um desses exemplos de como cada coisa tem o seu lugar: Marcelinho, goleador-mor da Naval 1º de Maio.
O sucessor de Nei nos verdes da Figueira da Foz acredita ter encontrado o paraíso em Portugal depois da experiência mal sucedida pela Dinamarca (Allborg, 2005) e Suécia (Ogryte, 2006), onde parece ter encontrado muito poucos motivos para relembrar a aventura nórdica com um sorriso nos lábios.
Marcelinho (Naval) e o Benfica: «Vou fazer tudo para marcar»
«Lá é muito diferente do Brasil ou de Portugal. Cheguei a jogar com 15 graus negativos, neve, tudo! Não me adaptei por causa do frio e da comida. Todos os dias tinha de comer massa sem molho e batatas com casca. Isso não é para mim! Feijão com arroz? Se houvesse, a estas horas ainda lá estava a jogar [risos]», conta, com o distanciamento que já lhe permite achar graça àquilo que outrora era um tormento.
Os problemas de Marcelinho, na altura com 21 anos e pouco consciente daquilo que iria encontrar, estenderam-se a outras áreas. «As pessoas também eram muito frias. Não tinham aquele calor humano dos brasileiros ou portugueses. Senti que não me tratavam com educação. Sabiam que tinha dificuldade com o idioma e, mesmo assim, não faziam um esforço», conta, justificando a primeira passagem pela Dinamarca, a título de empréstimo, por imposição do seu clube, o Atlético Mineiro. «Mal sabia o nome da capital do País», confessa.
Enganado pela segunda vez
O avançado «canarinho» ficou, todavia, com uma boa impressão de um país limítrofe: a Suécia. «Via os resumos na televisão e parecia-me um futebol mais táctico e técnico. Fiquei com essa ideia na cabeça e, depois de passar pelo Bahia e pelo Coritiba, resolvi então tentar o Ogryte. Pensei: aquilo não pode ser tão mau como a Dinamarca, afinal o Ibrahimovic é de lá, além de outros grandes jogadores. Acabei por me enganar novamente!», admite, lembrando que voltou a correr para o Brasil, seis meses depois, para o Avaí, de onde se transferiu no Verão passado para a Naval.
Só o aspecto financeiro foi melhor, mas mesmo assim, aprendeu a ter mais cuidado quando lhe surge uma possibilidade no estrangeiro. «Em termos de projecção de carreira, foi zero. Passei a pensar bastante antes de me decidir. Se agora me aparecesse uma proposta da Rússia, por exemplo, teria de reflectir bastante», assegura.
Marcelinho sente-se, finalmente, em casa na Figueira. «É uma cidade bem tranquila e sossegada. Estou a adorar, assim como a minha esposa. Não se sente violência ou insegurança. E depois, há a praia, que eu não tinha em Belo Horizonte!»