A UEFA anunciou a flexibilização, com efeitos imediatos, de algumas das suas normas relativas ao fair-play financeiro, dois anos depois de ter entrado em vigor a regra relativa ao break-even, que obriga os clubes a equilibrarem gastos e receitas de ano para ano. O anúncio foi feito pelos dirigentes do organismo máximo do futebol europeu, depois da reunião do Comité Executivo, nesta segunda-feira, em Praga, onde decorre o Europeu de sub-21. O argumento invocado é o de atrair novos investidores e permitir o aparecimento de mais clubes competitivos, numa altura em que a regulamentação está a ser contestada na justiça e em que outros mercados, como o asiático, começam a tornar-se mais competitivos, sendo capazes de disputar jogadores cobiçados por clubes europeus.

Como pano de fundo, explicou o presidente da UEFA, Michel Platini, está um cenário político com menos medidas de austeridade do que em anos recentes: «O objetivo das nossas políticas mantém-se. Estamos a sair de um período de austeridade acentuada e a entrar noutro em que podemos oferecer mais oportunidades para crescimento sustentado e desenvolvimento», afirmou o dirigente francês, citado pela AP.

Na prática, a UEFA vai permitir que os clubes que não foram penalizados nos últimos anos aumentem o investimento a curto prazo na contratação de jogadores, sem necessidade de compensação imediata nas receitas, desde que provem, num «acordo voluntário» com o Comité de Controlo Financeiro, que o seu modelo de negócio é sustentável num prazo de três anos. Segundo o secretário-geral da UEFA, Gianni Infantino, esta é a resposta à fuga de potenciais investidores: «O que temos ouvido nos últimos tempos é: por que razão havemos de investir se o investimento é proibido e tem consequências?. Estamos certos de que estas novas regras vão encorajar a aposta dos investidores no futebol europeu, que é o melhor produto do mundo no que se refere a competições de clubes», frisou.



Infantino garante que esta medida não se destina a legitimar «a compra do sucesso», acrescentando que a figura dos «donos dos clubes que prometem muitas coisas e acabam na bancarrota» continua a ser indesejável para a UEFA. O organismo defende a ideia que a aplicação das normas de fair-play financeiro, desde 2011, se traduziram num sucesso a todos os níveis.

Segundo dados apresentados em maio deste ano, e reafirmados depois da reunião do Comité Executivo, a UEFA garante que os prejuízos globais dos clubes europeus caíram 70 por cento nos últimos três anos,  de 1,7 mil milhões de euros, em 2011, para 400 milhões de euros em 2014, com a indústria do futebol a conseguir um movimento em contraciclo com a crise económica na Europa.

Segundo os dados apresentados pela UEFA, a liquidez dos clubes europeus aumentou 50 por cento entre 2011 e 2014 e a política de incentivo à aposta nas infraestruturas – estádios e centro de treino – traduziu-se em investimentos de 1.750 milhões de euros em estádios e de 2 mil milhões no futebol de formação, para o conjunto das I divisões europeias. Outro dado sublinhado pelos responsáveis da UEFA tem a ver com a diminuição do peso salarial no orçamento dos clubes nos últimos dois anos, por contraste com um aumento percentual superior nas receitas.

Segundos os números apresentados, o fair-play financeiro foi o argumento decisivo para que o lucro operacional dos clubes europeus em 2014 tenha sido o maior dos últimos 20 anos, duplicando os valores de 2013, ano em que se deu a inversão dos prejuízos.
 
Além do alargamento dos prazos para as medidas de fair-play financeiro, o Comité Executivo aprovou também que os investimentos dos clubes na formação e no futebol feminino não serão contabilizados como prejuízos. No mesmo sentido, clubes de países onde as receitas de TV e bilheteira são inferiores às das Ligas de topo serão alvo de um controlo menos apertado. Por fim, serão investigadas as ligações de patrocinadores que se responsabilizem por mais de 30 por cento do orçamento de um determinado clube.

Sporting destaca aspetos positivos do acordo

Refira-se que o Manchester City e o PSG foram, até ao momento, os clubes mais penalizados com o fair-play financeiro, tendo pago há um ano multas no valor de 60 milhões de euros por incumprimento das regras impostas pela UEFA. O anúncio da UEFA surge seis dias depois de a justiça belga ordenar a suspensão da segunda fase de aplicação, alegando incompatibilidade com as normas europeias de livre concorrência e circulação de capitais.