Os Jogos Olímpicos Rio 2016 vão batizar uma nova representação. O Kosovo vai estrear-se como nação independente entre a comunidade olímpica de 204 nações que estiveram presentes nas últimas duas Olimpíadas de verão (Londres 2012 e Pequim 2008).

Fez agora um ano nesta quinta-feira que o Kosovo foi reconhecido como membro provisório do Comité Olímpico Internacional (COI). A estreia nos Jogos Olímpicos ficou desde logo marcada. Uns meses depois, em dezembro de 2014, o Kosovo passou a membro efetivo do COI.

No Rio 2016, o Kosovo deverá fazer-se representar por uma dezena de atletas, que pela primeira vez vão envergar a sua bandeira nacional. Serão poucos, mas nem todos são desconhecidos. Pelo contrário, Majlinda Kelmendi é a melhor judoca mundial na sua categoria.


Majlinda Kelmeni a caminho de Londres 2012

O Kosovo arrisca-se a estrear-se com o ouro olímpico. O presidente do COI, Thomas Bach, grande impulsionador da presença kosovar na nação olímpica, já garantiu querer ser ele a entregar a primeira medalha de ouro a um atleta da recente nação, seja já no Rio de Janeiro, seja em Tóquio 2020.

Será simbólico, muito. A separação da Jugoslávia em vários países que, sucessivamente, foram casando a sua independência com o reconhecimento internacional e desportivo deixou os kosovares para o fim, a par da recuperação de uma guerra que devastou a região. O Comité Olímpico do Kosovo, porém, foi formado logo em 1992. Mas os acontecimentos têm-se sucedido de forma lenta...

Foi só em 2008, depois da guerra, que esta nação de menos de dois milhões de habitantes se tornou independente da Sérvia. E, até 2012, inclusive, os atletas kosovares competiram sempre sob a bandeira de outro país. Majlinda Kelmendi, por exemplo, decidiu lutar sob a bandeira da Albânia nos Jogos de Londres (quando já tinha em outras ocasiões vestido o quimono com as insígnias da federação internacional); como atletas kosovares de origem sérvia representaram este país em 2012.


Majlinda Kelmeni com as insignias da Federação Internacionald e Judo

O COI é por regra composto por países que já são membros das Nações Unidas. A Carta Olímpica refere-se um a «país» como «um estado independente reconhecido pela comunidade internacional». E esta continua dividida. Dos 193 países membros da Nações Unidas, os que já reconhecem o Kosovo são 111. Entre os que se opõem a este reconhecimento estão países como a Rússia, a China ou a Sérvia.

No ano passado, não obstante, o COI determinou que o Kosovo «apresenta os requisitos para o reconhecimento como está determinado na Carta Olímpica». A decisão tomada de forma unânime foi um dos marcos já deixados por Bach. De lá para cá, o Kosovo foi preparando as Olimpíadas em nome próprio.

Nos Jogos Europeus Baku 2015, o Kosovo levou sete atletas e trouxe uma medalha de bronze: no judo, a modalidade, como já se frisou, em que os kosovares são mais fortes. Majlinda Kelmeni é a maior esperança kosovar. A judoca desiludiu em Londres, mas sagrou-se campeã mundial nos -52kgs em 2013 e 2104 – falhou a defesa do título em agosto deste ano devido a uma lesão, mas, um mês depois, voltou para conquistar o ouro europeu.

Kelmendi é a maior, mas não a única kosovar na corrida ao ouro. Também Nora Gjakova impõe respeito nos -57kgs do judo; que o diga Telma Monteiro, pois a judoca portuguesa já foi eliminada pela atleta kosovar nos Mundiais 2013. Em Baku 2015, Gjakova trouxe o bronze (já referido) pela eliminação numa das meias-finais. Na outra esteve Telma Monteiro, que acabou por trazer a medalha de ouro dos 1ºs Jogos Europeus.


Hedvig Karakas, Telma Monteiro, Myriam Roper e Nora Gjakova

O Kosovo prepara agora a estreia do seu percurso olímpico – num nível desportivo finalmente planetário – num mundo que ainda não o aceita totalmente – não só politicamente (como já se referiu), mas também desportivamente. À entrada na comunidade olímpica dos kosovares como nação, entretanto, seguiram-se vários outros reconhecimentos.

Desde então, a jovem nação europeia já teve as suas federações aceites por organismos desportivos internacionais reguladores da natação, do basquetebol, do ciclismo ou do atletismo (neste caso de forma provisória).

No futebol, a UEFA vai analisar, no congresso de março de 2016, a candidatura do Kosovo para ser a 55ª associação nacional filiada no organismo europeu. Se for aceite pela UEFA, o Kosovo candidatar-se-á a membro da FIFA no mês seguinte, no congresso marcado para maio de 2016.