O golo que derrotou o Sporting tornou-o conhecido de todo o país. «Tem sido demais», confessa. «Toda a gente quer falar comigo, dão-me os parabéns, abordam-me na rua, tem sido uma loucura.» Mário Rondon está a viver um sonho. Aos 24 anos sente que é finalmente uma estrela. A história dele, porém, é mais antiga.

O país descobriu-o o agora, o futebol já o conhece praticamente desde que era um miúdo. Mário Rondon integrou a equipa do Pontassolense que fez história há quatro anos: na altura bateu o recorde de imbatibilidade no futebol europeu. «Estivemos 24 jogos sem perder. Foi o máximo nessa época na Europa.»

Era a equipa que revelou Lito Vidigal como treinador e que mais tarde trouxe vários jogadores para a primeira divisão. «Só perdemos em Janeiro, numa eliminatória da Taça de Portugal em Braga.» Um golo de João Pinto fez a vitória bracarense por 2-1 e encerrou a trajectória de sonho do Pontassolense.

Lito Vidigal e as conversas para lhe dar juízo

Rondon era um dos destaques da equipa da II Divisão. Tinha nessa altura dezanove anos. «O Lito Vidigal foi buscar-me aos juniores e apostou em mim. Agradeço-lhe muito tudo o que fez», conta o avançado. Vidigal sorri. «De vez em quando ainda falo com ele. Ai, ai...», suspira. «Tem qualidade para ir muito longe.»

«Era um bocado aéreo. Mas olhava para ele e via que podia ir longe. Se ele se concentrar exclusivamente no futebol, tem tudo para ir muito longe. Agora com 24 anos é que se vai definir: ou se concentra no futebol e se torna jogador para um grande, ou fica como jogador de equipa que luta pela permanência.»

Rondon percebe perfeitamente o que Lito Vidigal diz. «Ele falava muito comigo e dava-me muito na cabeça», conta. «Era jovem, via os meus amigos sair e também queria.» Vidigal volta a sorrir. «Ele é rápido, tem qualidade técnica, joga com os dois pés, tem bom jogo de cabeça, tem tudo para ser um grande jogador.»

Paulo Sérgio convenceu-o a assinar pelo P. Ferreira

Então por que demorou tanto tempo a chegar à primeira divisão? «Eu tentei levá-lo para o E. Amadora, mas o Pontassolense pediu muito dinheiro». Rondon corrobora Lito. «Tive vários convites, mas o Pontassolense pediu sempre muito dinheiro. Só quando terminei contrato é que consegui sair para um clube maior.»

Nessa altura o P. Ferreira ganhou a corrida a toda a gente. A razão: Paulo Sérgio. Esse mesmo, o treinador do Sporting. «Ele falou comigo e convenceu-me que o P. Ferreira era o melhor para evoluir», conta Rondon. No primeiro ano foi emprestado ao Beira Mar, para desespero de Lito Vidigal que o queria no Portimonense.

Este ano apareceu finalmente na Liga. «Estou contente por estar aqui. Toda a gente me trata muito bem, tem sido espectacular», diz Mário Rondon, que tem obviamente sonhos maiores para a vida dele. «Os meus sonhos passam por chegar a um grande. Sei que se trabalhar e continuar a evoluir, posso chegar lá.»

A Madeira, o sangue venezuelano e o futebol

Para trás fica a Madeira e a Venezuela. Filho de mãe portuguesa e pai venezuelano, o jovem avançado dividiu a vida entre os dois países. Nasceu na Venezuela, veio para a Madeira com 11 anos, voltou depois e concluiu na capital venezuelana o 12º ano. «Nessa altura já jogava nos juniores do F.C. Caracas», conta.

O futuro, pensava, não passava pelos estudos. «Disse aos meus pais que queria ser jogador de futebol e que para isso tinha de vir para Portugal». Veio mesmo. «Completamente à aventura», conta. «Tinha uns tios na Ribeira Brava, fui morar com eles e jogar no Pontassolense, que ficava lá muito perto de casa.»

Ainda treinou no Marítimo B. «Achavam que não valia o trabalho de pedir a dupla nacionalidade e fui embora.» O Pontassolense tornou-o português. «Os meus pais estão na Venezuela, o meu sangue é venezuelano. Mas gosto muito de Portugal.» É este país que Rondon espera que lhe dê, enfim, o que deseja: futebol.