Kenedy, convocado esta segunda-feira para o Mundial 2002, é um bom exemplo de um jogador com percurso sinuoso. Impressionava aos 18 anos, foi titular do Benfica aos 19, experimentou o estrangeiro, foi dado como perdido aos 25, ressuscitou aos 27. Ninguém pode dizer que não fez por merecer a confiança de António Oliveira.
Era um «número 10» diferente quando jovem. Mais forte fisicamente, as equipas juniores do Benfica eram Kenedy e os outros. Quando passou para sénior foi obrigado a mudar. Começou a recuar no terreno e encontrou o seu lugar como lateral esquerdo.
Foi entre a defesa e o meio-campo que Daniel Kenedy (nascido a 18 de Fevereiro de 1974) entrou na primeira equipa do Benfica, na temporada 92/93. Tinha 19 anos. Na época seguinte, com Toni e Jesualdo Ferreira no banco, divide com o sueco Schwarz o flanco esquerdo. Tudo somado, participa em 14 jogos. Nos dois anos seguintes, Daniel faz golos e é titular na maior parte dos desafios. Mas o terceiro anel começava a perder a paciência e em 1996/97 parte para França.
Em Paris, joga uma época pelo PSG, de onde sai para regressar a Portugal, mas agora ao F.C. Porto. Joga pouco e na época seguinte retoma a vocação de emigrante. Agora segue para o Albacete. Por pouco tempo. O destino seguinte é a Amadora. Em 99/2000 e 2000/01 é quase sempre titular e quando a equipa da Reboleira cai, Nelo Vingada vai buscá-lo.
De resto, Kenedy tinha vivido com o treinador do Marítimo alguns dos melhores momentos. Em 90/92, quando Carlos Queirós e Vingada já tinham mudado a face do futebol júnior em Portugal, sagra-se vice-campeão da Europa de sub-18. Dessa equipa, só um nome atingiu plano internacional: Sérgio Conceição.
Em 1996, Vingada leva Kenedy aos Jogos Olímpicos de Atlanta. Portugal fica em quarto e falha a medalha ao ser goleado (5-0), frente ao Brasil. Uma equipa com muita gente que ganhou espaço no futebol português: Capucho, Rui Jorge, Dani, Nuno Gomes, Beto, Vidigal, Litos e Peixe eram alguns.
Outra vez Nelo
Esta época, outra vez Nelo Vingada. Kenedy chega ao Marítimo sem custos e cedo dá a entender que está pronto para a luta. Jornada após jornada, os madeirenses constroem um campeonato interessante.
Kenedy faz cinco golos, menos um do que o número que tinha no currículo à entrada para esta temporada. Participa em 30 jogos e a quatro meses do final da temporada o seu nome começa a ser falado para a selecção nacional.
Por essa altura, Kenedy diz ao Maisfutebol que está mais maduro, fala no Sporting e promete continuar a lutar por um pouco da atenção do seleccionador.
Oliveira opta sempre por não o chamar, o que sugere que os sonhos de Daniel Kenedy, nascido na Guiné, de vestir a camisola da selecção principal portuguesa vão ter de esperar. Finalmente, a 13 de Maio, a notícia mais sonhada: o médio do Marítimo vai mesmo ao Oriente. Valeu a pena ter crescido.
Ficha de Daniel Kenedy
Internacionalizações: 52 nas camadas jovens, nenhuma na selecção A
Jogos nas taças europeias: 23
Golos nas taças europeias: 1
Jogos na I Liga: 158
Golos na I Liga: 11
Jogos em Espanha: 3
Jogos em França: 29
Títulos: duas vezes campeão nacional (93/94 e 97/98) e duas Taças de Portugal (92/93 e 97/98)
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