Mass Games, já ouviu falar? Mais do que o futebol, o atletismo ou outra coisa, são os Mass Games que arrebatam a população. Falar de desporto na Coreia do Norte é falar de Mass Games. Acontecem uma vez por ano, mas são preparados durante nove meses. Duram mais, portanto, do que a liga de futebol.

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Nesta altura, e antes de se partir para um retrato da dimensão que esta paixão atinge, convém explicar o que são os Mass Games. Basicamente misturam ginástica, dança e coreografia. Mas vão muito para além do desporto. São desporto, política e patriotismo. Sobretudo patriotismo. Uma exaltação do Querido Líder.

Na sua essência está a ginástica. O que traz a vantagem de alicerçar o evento na modalidade com mais sucesso na Coreia do Norte, detonadora (ao lado do boxe) de duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos. O resto é trabalho. Dias e dias de ensaio, paciência e persistência. O resultado, esse, é admirável.

Sangue, suor e lágrimas pelo Querido Líder

São cem mil pessoas num estádio, aliás, no estádio, no May Day, o maior recinto do mundo, com capacidade para 150 mil pessoas, que no dia dos Mass Games enche por completo. Ora o dia do Mass Games é apenas um: 15 de Abril. A data que assinala o aniversário do nascimento de Kim il-Sung.

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Voltando atrás, são cem mil pessoas numa sintonia perfeita, criadora de quadros dinâmicos que durante noventa minutos criam a ilusão de se estar perante uma tela de cinema. Na tribuna presidencial, Kim Jong-il. Imponente e majestoso. O espectáculo é todo para ele. Um exemplo de fidelidade ao regime.

Uma demonstração de orgulho que deu um filme

Por detrás do espectáculo está o sofrimento. «Anseio pelo dia em que vou actuar para o General. Por isso treino para além da dor». A frase é de uma ginasta e abre o filme A State of Mind. Sim, os Mass Games já deram origem a um documentário. Foi realizado por Daniel Gordon, o mesmo que fez The Game of Their Lives.

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Durante nove meses, o realizador acompanhou duas ginastas e as famílias. Percebeu o orgulho de todos e o sacrifício das adolescentes para atingir a perfeição. No dia 15 de Abril iriam fazer parte de uma multidão. Como na ideologia do regime, trata-se da subordinação do indivíduo às necessidades da comunidade.

No fundo é tudo orgulho patriótico. «É muito genuíno», diz Daniel Gordon à BBC. «Nunca conheceram nada diferente e são felizes com o que têm.» Também eles, como Bernardino Soares, têm dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia. Por isso vivem o regime da maneira que pode ver no vídeo que se segue.