Aquele gesto de Mbappé ao minuto 56 merecia, por si só, a final do Mundial. A forma como, em dois toques – receção com o direito e toma-lá-de-calcanhar com o esquerdo – isolou Giroud que lhe surgia nas costas foi um deleite.

É pormenor que surge poucos minutos após o golo com que Umtiti colocou a França na final do Mundial e mandou o sonho belga às urtigas, numa fase de maior confiança, portanto, mas nasce do génio de um menino de 19 anos que tem tudo para dominar o futebol mundial nos próximos anos. Um menino de 19 anos, numa meia-final de um Mundial, quando o último título gaulês aconteceu um ano antes de ele nascer.

Não foi aquele toque de magia que conduziu os gauleses ao jogo decisivo – essa foi a mãe de Umtiti, já lá vamos -, mas é um daqueles gestos que vai perdurar na história dos vídeos dos melhores momentos, nos GIF’s e toda nessa panóplia de ferramentas que, hoje, nos permitem ver em loop detalhes que antes se podiam perder na memória apenas daqueles que estavam no momento certo, no sítio certo.

Como Umtiti, por exemplo, naquele minuto 52. O herói improvável que, exatos dois anos depois, vestiu a pele de Eder e deu uma alegria à nação francesa, num dia 10 de julho. E finalmente, Griezmann sorriu. Deixou de ser um homem de mãos na cintura a ser invadido por uma onda de alegria que não lhe dizia nada, e recebeu os abraços dos companheiros pela assistência que tinha acabado de fazer para a final do Mundial.

Condução firme, dos Camarões a Moscovo

Contudo, além de Griezmann e do central nascido em 1993 nos Camarões, é preciso trazer para este momento a mãe de Umtiti. A senhora cuja exigência ajudou a moldar o perfil do atual central do Barcelona e, mais do que isso, alguém que, com o seu esforço, conduziu a França à sua terceira final de um Mundial. Os relatos são do próprio Umtiti.

Sobre o rigor: «Para ela era importante que eu estudasse, a firmeza dela ajudou-me muito. Eu só podia ir treinar depois de acabar os trabalhos de casa»; e sobre os sacrifícios: «A minha mãe tirou a carta de condução para poder levar-me aos treinos». Foi também aí que se começou a escrever a história deste apuramento gaulês num jogo em que a Bélgica até foi sempre mais perigosa.

O FILME DO JOGO

E essa aparente superioridade começou a observar-se muito cedo no jogo. Em ataque continuado, a Bélgica criou quase sempre dificuldades ao conjunto francês, sobretudo graças a um nome improvável.

É verdade que houve magia de Hazard, o cérebro e os passes de De Bruyne, além do poder físico de Lukaku. Mas a peça que talvez os franceses não esperassem mede 194 centímetros, chega aos 2 metros se juntarmos o cabelo e deu água pela barba à defesa gaulesa.

Se a defender o médio do Manchester United era o principal tampão às investidas francesas – muitas vezes tirando Pogba do jogo com uma marcação de proximidade -, em ataque continuado, o camisola 8 belga juntava-se a Lukaku no centro ofensivo, criando mais espaço para a circulação nas imediações da área francesa, porque obrigava ao recuo de um dos médios para junto dos centrais.

Na primeira parte, porém, quem mais brilhou foram os guarda-redes. Primeiro Lloris a impedir o golo de Alderweireld e depois Courtois a fazer o mesmo a Pavard.

Até que surgiu o tal minuto 52. Canto de Griezmann na direita do ataque francês e a tal peça chave no jogo belga na primeira parte a perder a posição para Umtiti apontar à final de Moscovo.´

A partir daí, além do lance de génio de Mbappé – já tínhamos falado dele, certo? -, houve muito coração belga a bombear bolas para a área, em desespero pela falta de espaços para atacar pelo chão.

O conjunto gaulês cerrou as fileiras para a baliza de Lloris e isso foi acabando com a paciência dos belgas. Entre remates disparatados de De Bruyne e bolas a procurar o poder aéreo Fellaini-Lukaku, Roberto Martinez mexeu no jogo, tirando Fellaini para colocar Ferreira-Carrasco, num sinal claro de que a Bélgica teria de fazer o seu futebol para procurar o empate.

Só que já havia pouco a fazer. Os gauleses colocaram gelo no jogo e cantaram de galo rumo à final. O sonho dos Diabos Vermelhos esfumou-se e resta agora o prémio de consolação que passa por tentar fazer melhor do que em 1986, quando a Bélgica perdeu o jogo de 3.º e 4.º lugar… para a França.

Agora, resta à França esperar pelo adversário na final de domingo em Moscovo. Inglaterra ou Croácia, uma delas terá oportunidade de ver de perto o génio de Kylian Mbappé, ao mesmo tempo que tenta chegar a um título mundial. Haverá plano mais interessante para um domingo de bola?