E ao quarto domingo de Europeu a França emergiu finalmente como grande favorito à vitória na prova. Exagero? Assim parece, depois de uma chegada às meias-finais com um caminho acessível – bem mais acessível do que o português - e após uma única exibição verdadeiramente convincente. Mas talvez não o seja. Porque, mesmo relativizando a goleada à Islândia – uma equipa que depois da vitória sobre a Inglaterra estava claramente no limite das suas possibilidades – este domingo trouxe também notícias de um acentuado enfraquecimento no outro grande candidato, a Alemanha, próximo adversário dos franceses na meia-final.

A lesão de Mario Gomez, baixa confirmada até ao fim do Euro, deixa Joachim Löw de volta à estaca zero, isto é, sem ponta de lança de raiz. Atendendo à clara melhoria de jogo ofensivo trazida pela titularidade de Gomez, após os primeiros jogos, esta não é baixa de pouca importância. Tanto mais que as lesões de Khedira e Schweinsteiger, que permanecem em dúvida para o jogo de quinta-feira, deixa o meio-campo alemão com um enorme ponto de interrogação para fazer companhia ao omnipresente Toni Kroos. Se a isto juntarmos a ausência por castigo de Mats Hummels, líder da defesa menos batida da prova, teremos razões para acreditar que a histórica supremacia da Alemanha sobre a França nas grandes competições – três eliminações nos últimos embates em Mundiais, com a de 2014 bem fresco na memória – está, pelo menos, posta em causa.

A juntar a isso, no lado francês, Didier Deschamps saiu a ganhar em toda a linha: não só vai recuperar os castigados Kanté e Rami para o próximo jogo como conseguiu driblar os riscos de suspensão a Koscielny e Giroud. Em termos táticos, também, depois de uma boa segunda parte com a Irlanda, o entendimento do trio Payet, Giroud e Griezmann está mais forte do que nunca: entre eles, marcaram 10 dos 11 golos da França (melhor ataque da prova, com mais um do que o País de Gales) e somam também seis assistências, duas para cada.

Chuva de golos, finalmente

Este foi também o dia que ajudou a virar a página sobre uma fase de grupos para esquecer, tanto no que diz respeito à qualidade de jogo como à frequência de golos. À 48º tentativa, pela primeira vez, uma equipa estreou-se a marcar cinco e um jogo rendeu sete golos. A média de golos, miserável na primeira fase, já subiu para uns mais razoáveis 2,15 por jogo, acima da registada nas edições de 1980, 1992 e 1996.

De passagem, por entre uma chuvada bem real, a chuva de golos permitiu também marcar-se o golo 100 nesta edição da prova – honra destinada a Antoine Griezmann que, para além de se ter isolado na lista de marcadores, reforçou a candidatura a melhor jogador deste Euro. Mas ainda é cedo, claro, porque estas distinções só começam mesmo a ser decididas das meias-finais para a frente. E tanto Cristiano Ronaldo como Gareth Bale o sabem perfeitamente.

Certo, certo é que o previsível afastamento da Islândia – e a já conhecida saída de Lars Lagerback, um dos grandes protagonistas deste Euro - deixou mais um grande momento emocional para a galeria de recordações, quando antes do jogo todo o Stade de France decidiu replicar o grito dos adeptos islandeses, como Luis Mateus, enviado do Maisfutebol a Saint Denis, testemunhou:

E, adeptos à parte, deixou também o País de Gales como único representante dos underdogs em prova no quarteto final – ainda mais underdog pela baixa forçada de Aaron Ramsey, uma das suas estrelas. Se é verdade que Portugal nunca conquistou um troféu de seleções, também o é que o registo de quatro meias-finais nas últimas cinco edições da prova (e cinco em sete presenças) deixa os portugueses com direito a cartão de milhas de passageiro frequente nos Europeus. E se a isto juntarmos o futebol festivo e entusiasta dos galeses – mesmo que algo simplista – por contraste com o calculismo luso nos jogos a eliminar, é quase certo que os galeses terão o apoio dos adeptos neutrais quando entrarem em campo para o jogo mais importante da sua história.

Na outra meia-final estarão, claro, aqueles que já eram, à partida, os dois maiores candidatos ao triunfo final: entre eles, somam cinco títulos continentais: três para a Alemanha, dois para a França. E passe quem passar a meia-final de quarta-feira, é certo que nunca terá estatuto de favorito para a final de dia 10. O que pode muito bem ser uma vantagem para quem lá chegar.