O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 


O Corinthians, de São Paulo, na formação.

O Corinthians Alagoano, um dos primeiros entrepostos de jogadores – e não falamos necessariamente de uma equipa –, já como sénior e antes de viajar para Portugal.

Chega praticamente com 20 anos, e uma grande confiança nas suas capacidades.

Descoberto ainda júnior no Brasil por Toni, que propõe a sua contratação, falha no Benfica. Deco é, aparentemente e no entanto, aquele a quem calha a fatia mais pequena da culpa. É emprestado a Alverca e Salgueiros, antes de ser dispensado e de assinar pelo FC Porto.

Torna-se rapidamente numa das piores decisões da história dos encarnados, distribuída pelo treinador Graeme Souness e o presidente Vale e Azevedo, que não accionara o direito de preferência.

Se no velhinho Vidal Pinheiro, ainda em fase de afirmação, há que arranjar espaço no mesmo onze para si e para o estratega Abílio, no Dragão torna-se uma das maiores estrelas do novo século. Rapidamente, aqueles que justificam a contratação como se fosse um mero capricho de Pinto da Costa desenganaram-se. Deco é classe pura, e tem finalmente espaço para crescer.

A conquista da primeira Liga dos Campeões por parte do «Mago».

Veste a túnica de Mago, ganha uma música

«Ele é o número 10 e finta com os dois pés. É melhor que o Pelé, é o Deco allez, allez!»

Três campeonatos, três Taças, três Supertaças. Uma Taça UEFA – que delícia o passe de morte para Alenitchev no 2-1! –, uma Liga dos Campeões, e a troca com Quaresma e mais quinze milhões de euros, que seguem para o Dragão.

No Camp Nou passa a dividir as atenções com Ronaldinho e Eto’o, e um tal de Messi, que começa a despontar. O rasto que deixa desde o Dragão não se apaga, e na Seleção portuguesa já é dono do lugar, às custas do histórico Rui Costa. Scolari abdicara de vez das suas e aplicara as ideias do campeão europeu Mourinho.

Os dribles intervalados com a inteligência que abria clareiras, o jeito de levar a bola colada ao pé, antes da definição. A ginga, feita a ritmo próprio, que acompanha quem só a sabe fazer bem. O remate com cobertura de açúcar e cereja no topo. Aquele pé direito. Os livres.

Um maestro. Pequenote genial.

Deco brilhou no Camp Nou, com passes de mestria e golos importantes.

Em Barcelona, soma mais uma Liga dos Campeões, dois campeonatos e duas supertaças. O papel é agora diferente, é Dinho a superestrela, e é agora um pouco mais atrás, num meio-campo a três, que deixa fluírem os passes, a habilidade e toda a capacidade de trabalho.

Em Londres, sagrou-se também campeão pelo Chelsea.

Dez milhões depois, Scolari leva-o para o Chelsea. Os adeptos culé talvez não lhe tenham dado o devido reconhecimento. Só que as lesões e o despedimento do treinador brasileiro empurram-no para o banco na primeira temporada. Com o pacificador Carlo Ancelotti, e apesar de as lesões terem voltado por altura do Natal, acaba por ter um papel fundamental na conquista do título e da Taça.

O contrato termina, e no final da época regressa ao Brasil.

O adeus chegou no Fluminense.

É num Fluminense ganhador que se despede dois anos e meio depois, massacrado por sucessivas lesões musculares. Nos momentos em que estas dão-lhe algum descanso, Deco volta a ser Deco, aquele génio à solta no meio-campo.

Aos 36 anos, não aguenta mais e pendura as botas. Esgotara finalmente todos os truques e encantara inúmeras plateias.

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Mais imagens de Deco:

A entrevista a Jô Soares:

Anderson Luís de Souza (Deco)
27 de agosto de 1977

Corinthians, 1996-97, 2 jogos, 0 golos
Corinthians Alagoano, 1997, 0 jogos, 0 golos
Benfica, 1997-98, 0 jogos, 0 jogos
Alverca, 1997-98, 32 jogos, 13 golos
Salgueiros, 1998-99, 12 jogos, 2 golos
FC Porto, 1999-2004, 154 jogos, 32 golos
Barcelona, 2004-08, 113 jogos, 13 golos
Chelsea, 2008-10, 42 jogos, 5 golos
Fluminense, 2010-13, 56 jogos, 2 golos

Portugal, 75 jogos, 5 golos

2 Liga dos Campeões (FC Porto, 2004; Barcelona, 2006)
1 Taça UEFA (FC Porto, 2003)
3 ligas portuguesas (FC Porto, 1998-99, 2002-03 e 2003-04)
2 ligas espanholas (Barcelona, 2004-05 3 2005-06)
1 liga inglesa (Chelsea, 2009-10)
2 campeonatos brasileiros (Fluminense, 2010 e 2012)
3 Taças de Portugal (FC Porto, 2000, 2001 e 2003)
1 Taça de Inglaterra (Chelsea, 2010)
3 Supertaças (FC Porto, 1999, 2001 e 2003)
2 Supertaças de Espanha (Barcelona, 2005 e 2006)
1 Community Shield (Chelsea, 2009)
1 campeonato carioca (Fluminense, 2012)
1 Taça Guanabara (Fluminense, 2012)

Alguns prémios individuais:

2º classificado na Bola de Ouro de 2004
Futebolista do ano para a UEFA (2003-04) e melhor médio do ano UEFA (2003-04 e 2005-06)
MVP final da Liga dos Campeões 2003-04
Maior número de assistências da Liga dos Campeões (2003-04)
Melhor Jogador do Mundial de Clubes (2006)

Primeira série:

Nº 1: Enzo Francescoli
Nº 2: Dejan Savicevic
Nº 3: Michael Laudrup
Nº 4: Juan Román Riquelme
Nº 5: Zico
Nº 6: Roberto Baggio
Nº 7: Zinedine Zidane
Nº 8: Rui Costa
Nº 9: Gheorghe Hagi
Nº 10: Diego Maradona

Segunda série:

Nº 11: Ronaldinho Gaúcho
Nº 12: Dennis Bergkamp 
Nº 13: Rivaldo