O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

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Michel Platini. O Dez clássico, vencedor de três Bolas de Ouro. Em 1972, quando dá os primeiros pontapés nos treinos de Nancy, todos os que assistem estão longe, muito longe adivinhar que acabara de chegar um Dez redondo, um dos maiores do país, por muito tempo o maior, só ultrapassado, mais que não seja em número de títulos, por Zinedine Zidane. Poucos adivinham também o resto, que se tornaria presidente da UEFA, embora isso interesse-nos muito pouco para este texto.

Havia genes de futebol, recorde-se, no pequeno Michel. O pai Aldo tinha sido futebolista profissional e diretor desportivo precisamente no Nancy. Chega com 17 anos, aos 11 começara a jogar no clube da terra: o AS Joeuf.

É no clube do segundo escalão gaulês que começa a mostrar as suas maiores habilidades: o passe, o drible em progressão e os livres diretos, que trabalhará até à exaustão, até quase parecerem penáltis, em Itália, na Vecchia Signora. Antes, houve o Saint-Étienne, e antes ainda os quartos de final nos Jogos Olímpicos e a nomeação para melhor jogador francês em 1976 e 77, o segundo já como capitão, com 22 anos.

Bastaram duas épocas, e a França já olha para o jovem Platini como a sua maior referência, o jogador que trará finalmente o sucesso à seleção. Só que não começa bem. Os Bleus são eliminados na primeira fase do Mundial de 1978, na Argentina, e rapidamente passa de herói a réu.

O encontro com Diego Maradona nos relvados italianos.

Chega então em 1979 aos Verts, a melhor equipa francesa do seu tempo, que aspirava a um troféu europeu, e sagra-se campeão logo na primeira época. Não engana. É tempo de fazer as pazes com o seu país no Mundial de 1982, em que ajuda os Bleus a chegar às meias-finais, até à derrota com a Alemanha. O excelente toque, o controlo de bola, a visão de jogo procurados em todos os ataques da equipa ficam para sempre na retina dos compatriotas. Sim, as pazes estão feitas.

É em Turim que acaba com as poucas dúvidas que ainda podiam existir. Estrangeiro no melhor campeonato do mundo, os primeiros tempos não são fáceis. Resiste à tentação de desistir e voltar para casa, provoca uma mudança tática na equipa e assume-se de vez como il miglior calciatore del mondo, enquanto Maradona não começa o seu reinado.

Campeão na primeira época, ganha a primeira Bola de Ouro. Campeão na terceira, parte para casa para fazer nove golos em cinco jogos no Campeonato da Europa, com Portugal a ficar pelo caminho nas meias-finais e a Espanha no jogo decisivo. É a terceira Bola de Ouro, entregue ao rei do continente. Não podia ser mais justo.

É seu o golo que lhe vale a primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus em Heysel, frente ao Liverpool. Um golo que festeja com uma alegria que lhe traz críticas. Desculpa-se que nenhum jogador se tinha realmente apercebido da gravidade dos incidentes nas bancadas, que resultaram em 39 mortos.

Novo scudetto em 1986, volta aos Bleus para o Mundial do México. Aquela França, que tinha no meio um verdadeiro carré magique formado por Platini, Giresse, Tigana e Fernández, joga muito bem à bola, e só perde, uma vez mais, nas meias-finais, mais uma vez frente à Alemanha.

Platoche volta a falhar a coroação suprema, naquela que foi a sua última oportunidade.

Platini esteve para deixar Turim no primeiro inverno.

Retira-se aos 32 anos, em 1987, ao fim de 312 golos em 580 jogos pelos clubes que representou, e mais 41 em 79 internacionalizações por França.

Há um tempo antes de Platini, e toda uma era depois. Havia o terceiro lugar em 1958 e nada mais. Michel fez sonhar o país até muito perto do título mundial, foi ele que abriu o caminho para Zidane e para... 1998.

Documentário «Football’s Greatest»:

Mais imagens da classe de Platini:

Michel François Platini
21 de junho de 1955

1972-79, Nancy, 181 jogos, 98 golos
1979-82, Saint Étienne, 104 jogos, 58 golos
1982-87, Juventus, 147 jogos, 68 golos

França, 79 jogos, 41 golos

Campeão da Europa (França, 1984)
1 Taça dos Clubes Campeões Europeus (Juventus, 1984-85)
1 Taça dos Clubes Vencedores da Taças (Juventus, 1983-84)
1 Supertaça Europeia (Juventus, 1984)
1 Taça Intercontinental (Juventus, 1985)
1 campeonato francês (Saint-Étienne, 1980-81)
2 campeonatos italianos (Juventus, 1983-84 e 1985-86)
1 Taça de Itália (Juventus, 1982-83)
1 Taça de França (Nancy, 1977-78)
1 campeonato da II divisão (Nancy, 1974-75)

Alguns prémios individuais:

Bola de Ouro («France Football», 1983, 1984 e 1985)
Onze d’or («Onze Mondiale», 1983, 1984 e 1985)
World Soccer Player of the Year («World Soccer», 1984 e 1985)
Campeão francês dos campeões («L’Équipe», 1977 e 1984)
Melhor jogador do Euro’84
Melhor marcador do Euro’84
Melhor marcador do campeonato italiano: 1982-83, 1983-84 e 1984-85
Melhor marcador da Taça dos Clubes Campeões Europeus: 1984-85
Equipa ideal do Euro’84, e dos Mundiais de 1982 e 1986
Jogador francês do ano: 1976 e 1977
Jogador francês do Século: 1999
FIFA XI: 1979
MVP Taça Intercontinental: 1985
Equipa ideal do Século XX
FIFA 100

Primeira série:

Nº 1: Enzo Francescoli
Nº 2: Dejan Savicevic
Nº 3: Michael Laudrup
Nº 4: Juan Román Riquelme
Nº 5: Zico
Nº 6: Roberto Baggio
Nº 7: Zinedine Zidane
Nº 8: Rui Costa
Nº 9: Gheorghe Hagi
Nº 10: Diego Maradona

Segunda série:

Nº 11: Ronaldinho Gaúcho
Nº 12: Dennis Bergkamp 
Nº 13: Rivaldo
Nº 14: Deco
Nº 15: Krasimir Balakov
Nº 16: Roberto Rivelino
Nº 17: Carlos Valderrama
Nº 18: Paulo Futre
Nº 19: Dragan Stojkovic
Nº 20: Pelé

Terceira série:

Nº 21: Bernd Schuster
Nº 22: Nándor Hidegkuti
Nº 23: Alessandro Del Piero
Nº 24: Gianfranco Zola
Nº 25: Kaká
Nº 26: Lothar Matthäus
Nº 27: Teófilo Cubillas