Ao marcar o 323º golo pelo Barcelona, na terça-feira, frente à Real Sociedad, Messi igualou Raúl na condição de segundo marcador de sempre por um clube espanhol. O argentino fica a apenas 12 golos do recorde absoluto fixado por Telmo Zarra, no Ath. Bilbao. Mais um recorde que vai, seguramente, derrubar antes do final do ano, salvo lesão ou outro imprevisto. E mais um sintoma de que Messi é mais eficaz do que nunca quando Cristiano Ronaldo também está em maré cheia. A inversa também é verdadeira, claro, como o atestam os dois golos marcados pelo avançado português no dia seguinte, em Elche. Ou não fosse esta a história de uma rivalidade que, ao longo de quatro anos, proporciona números sem precedentes na história do futebol dos últimos 50 anos.

Títulos à parte, que aí a supremacia do Barcelona e do argentino é clara, eis alguns dos números que vão fazendo história:

1- Uma rivalidade que faz crescer

Cristiano Ronaldo prolongou o melhor arranque da carreira com o bis na visita a Elche, nesta quarta-feira: 13 golos em 9 jogos, contando com a seleção, 9 em 7 pelo Real Madrid. Messi não faz por menos: 12 em 9, com a Argentina pelo meio, 10 golos em 8 jogos só no Barcelona. A confirmação de uma evidência: a de que os números dos dois maiores fenómenos goleadores do futebol mundial dispararam em paralelo, desde o início da temporada 2009-10, quando Cristiano Ronaldo se mudou para o Bernabéu.

Daí para cá passaram-se quatro temporadas e mais um pouco. O ombro a ombro impressiona: Entre agosto de 2009 e a atualidade, Messi vai com 243 golos em 226 jogos oficiais pelo Barcelona (média de 1,07). Ronaldo leva 210 golos em 206 jogos pelo Real Madrid (média de 1,02).

Mais impressionante, ainda, a comparação com o que ficou para trás: ofuscado no início de carreira pela figura de Ronaldinho, os números de Messi, antes de 2009, eram muito bons, mas não esmagadores: 80 golos em 161 jogos oficiais, um a cada dois jogos. Os de Cristiano Ronaldo, somando os anos de Sporting e Manchester United, e as épocas de transição entre extremo e avançado, somavam 123 golos em 322 jogos (0,38 por jogo).

Total de Messi no Barcelona
387 j-323 g (0,83)

Messi pré-Ronaldo
161 j-80 g (0,49)

Messi pós-Ronaldo
226 j-243 g (1,07)

Total de Cristiano Ronaldo nos clubes
528 j/333 g (0,63)

Ronaldo pré-Messi
322 j/123 g (0,38)

Ronaldo pós-Messi
206 j/210 g (1,02)

2- Ausência de Ronaldo pesa mais no Real Madrid

A ligeiríssima vantagem de Messi, com mais 35 golos em mais 21 jogos, assenta em parte no facto de o Barcelona ter participado em mais competições neste período (Supertaça Europeia, Supertaça e Mundial de Clubes) até porque o paralelismo estende-se à invulgar resistência de que dão mostras: de 2010 para cá, fizeram sempre mais de 50 jogos por temporada.

Mas se o baixíssimo total de partidas que Messi e Cristiano Ronaldo falharam nos últimos quatro anos é quase idêntico (26 em 252 para o argentino, 25 em 230 para o português), já os efeitos dessas ausências nas respetivas equipas são bem diferentes: o Barcelona só perdeu um dos seus 26 jogos sem Messi, e até melhora os níveis de eficácia: compensando a quebra de golos marcados com a melhoria defensiva. Já o Real Madrid perdeu 6 dos 25 jogos sem Cristiano Ronaldo, piorando em todos os items de avaliação.

Ainda assim, os golos de Messi têm mais peso no total do Barcelona: os 243 do argentino valem 37% por cento do total do Barça nestes quatro anos, com ou sem Messi em campo. Os 208 de Ronaldo são um pouco menos: 34,3% do total que o Real Madrid marcou desde agosto de 2009.

Comparem-se os números, de 2009 até agora:

Barcelona com Messi:
226 j
162 v (71,7%)
43 e (19%)
21 d (9,3%)
G: 594-190 (2,63-0,84)

Barcelona sem Messi:
26 j
23 v (88%)
2 e (8%)
1 d (4%)
G 64-11 (2,46-0,42)

Real Madrid com Ronaldo:
206 j
153 v (74%)
30 e (15%)
23 d (11%)
G: 553-189 (2,68-0,92)

Real Madrid sem Ronaldo:
25 j
16 v (64%)
3 e (12%)
6 d (24%)
G: 56-33 (2,24-1,32)

3- Golos de Messi valem mais pontos

O peso dos golos é um dado importante, mas pode distorcer as conclusões, em especial se considerarmos que Barcelona e Real Madrid goleiam com frequência. Nesse sentido, alguns golos valem mais do que outros. Como avaliá-los de forma equilibrada? Simples: retirando aos resultados de Barcelona e Real Madrid, nos últimos quatro anos, os golos de Messi e Cristiano Ronaldo. A transformação de vitórias em empates e derrotas dá a medida do peso efetivo de cada um no rendimento das respetivas equipas. E, aqui, invertem-se os papéis: o Barcelona teria mais a perder (48 vitórias e 23% dos pontos) se não tivesse os golos de Messi do que o Real sem os de Ronaldo (37 vitórias e 20% dos pontos).

Eis as contas:

Barcelona nos jogos com Messi:

226 j
162 v (71,7%)
43 e (19%)
21 d (9,3%)
Total de pontos: 529

Sem os golos de Messi
226 j
114 v (50,4%)
68 e (30,1%)
44 d (19,5%)
Total de pontos: 410 (perde 23%)

Real Madrid nos jogos com Ronaldo
206 j
153 v (74%)
30 e (15%)
23 d (11%)
Total de pontos: 489

Sem os golos de Ronaldo
206 j
115 (55,8%)
47 (22,8%)
44 (21,3%)
Total de pontos: 392 (perde 20%)

4- Muito mais é o que os une...

Em comum, Cristiano Ronaldo e Messi têm bem mais do que os seus defensores mais exaltados gostam de admitir. A resistência, por exemplo: ambos estiveram em quase 90 por cento dos jogos das suas equipas e tanto Messi como Ronaldo jogam os 90 (ou 120) minutos em mais de 80 por cento das vezes. Messi completou 189 dos seus 226 jogos neste período, enquanto Cristiano Ronaldo esteve a tempo inteiro em 175 das 206 vezes em que entrou em campo.

Outro ponto comum é a fiabilidade: Messi marcou em 141 dos seus 226 jogos (62%). A percentagem de Cristiano Ronaldo é exatamente igual: marcou golos em 129 dos 206 jogos (63%). Nestes quatro anos, o máximo de jogos que permaneceram em jejum foi cinco. Cristiano Ronaldo viveu essa seca entre maio e setembro de 2010, na viragem da primeira para a segunda época no Real. Messi, já tinha passado pelo mesmo, com um jejum de cinco jogos em maio de 2010.

Já no que se refere a séries a marcar, o argentino leva vantagem: teve uma sequência de 16 golos em dez jogos consecutivos, entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Já Cristiano Ronaldo conseguiu, por duas vezes, séries de oito jogos, somando 14 golos na melhor delas, entre setembro e outubro de 2012.