O lado jurídico do «caso Meyong» ainda está a começar e por isso é cedo para grandes comentários.
Mas já deu para perceber algumas coisas.
Primeiro, o Beleneses «comprou» mal. Com excessiva leveza, sinal de que nos clubes portugueses o dinheiro continua a ser fácil de gastar. Um movimento no mercado é o que de mais importante acontece na vida de uma equipa ao longo da época. Esperava-se que por esta altura os dirigentes já fossem mais competentes e estivessem menos expostos aos talentos de empresários e intermediários. Não estão, pelo menos alguns.
Também percebemos que a Federação Portuguesa de Futebol tem da sua função uma visão meramente burocrática e cega. Recebe os papéis, carimba e espera que esteja tudo bem. A ser assim, vale a pena perguntar quem realmente fiscaliza o cumprimento das regras. Ninguém? Já agora, por que não pedir certificados internacionais nos quiosques e entregar documentação junto com o Euromilhões?
Enquanto a coisa não se decide, vale pelo menos a pena reflectir sobre a
tese de Cunha Leal, ex-director executivo da Liga. Afinal, os jogadores só podem ser licenciados para competições oficiais. E Meyong já não podia competir esta temporada. Qual o objectivo de o licenciar? A resposta chegará um destes meses.
Mas, para já, o mais relevante deste caso é a imagem indigna que dirigentes e alguns adeptos do Belenenses deram de si próprios nos últimos dias.
Carlos Janela a ser agredido no Restelo, entregue a si próprio à saída do estádio, é algo que perturba e fica na história desta temporada.
O futebol não pode escolher os adeptos. O que em casos como este se lamenta. Mas os clubes podem e devem exercer a disciplina sobre os que se dizem seus apoiantes. O mínimo que se exige aos dirigentes (estes, que já se demitiram, e os que aí virão) do Belenenses é que apresentem queixa às autoridades e tentem por todos os meios identificar os agressores.
Seria um momento de dignidade num episódio que envergonha a história do clube. E uma forma de manifestar repúdio por tais comportamentos, infelizmente habituais em estádios portugueses.
Seis pontos perdidos é coisa que se recupera em quinze dias. A vergonha demora mais.