«Start spreading the news
I am leaving today
I want to be a part of it
New York, New York»


A primeira quadra da composição eternizada por Frank Sinatra é o prólogo perfeito para narrar a aventura de Miguel Herlein na Cidade que Nunca Dorme.

O avançado português, 22 anos, está há três semanas no histórico New York Cosmos. Ao Maisfutebol fala no dia em que se cumprem 40 anos desde a estreia de Pelé com a mesma camisola.

Coincidências? Nem Pensar.

«Tenho andado por muitos sítios e agora encontrei um onde quero ficar muito tempo. Nunca tinha visitado Nova Iorque, agora faço o que mais gosto e vivo nesta cidade. Não posso pedir mais».

Arranha-céus sem fim à vista, neons intermitentes e perturbantes, Manhattan, Brooklyn, o Central Park e a Estátua da Liberdade. Tudo à porta de casa de Miguel. Ou quase, perdoem-nos o excesso.

«O complexo do Cosmos é em Long Island, a 30 minutos de Time Square. O meu apartamento, que partilho com três colegas, fica quase ao lado. Os treinos são à tarde e por isso só fui duas vezes à cidade. Estou a descobri-la e a apaixonar-me por ela», conta Miguel.

«Uma das coisas que mais quero é ver um jogo nos New York Knicks, no Madison Square Garden. A época da NBA está a acabar e tenho de esperar pela próxima. Sabia que Nova Iorque era maravilhosa, mas as minhas expetativas já foram superadas».
 

Miguel Herlein na visita a Time Square

«If I can make it there
I'll make it anywhere
It's up to you
New York, New York»


Sinatra dedicou-lhe a voz, Scorsese entregou-lhe o génio, De Niro e Woody Allen entregaram-lhe a alma. Nova Iorque é exigente, enlouquece quem a ama, amarra quem por ela se ajoelha.   

Taxis amarelos enchem a Fifth Avenue, passeios desaparecem debaixo do enxame de turistas, transborda a arte, a vida mundana, a cultura e o desporto.

Os nova iorquinos começam a perceber o soccer, muito guiados pelos resultados da seleção treinada por Jurgen Klinsmann. Miguel Herlein fala um pouco sobre o que tem visto.

«Os estádios estão bem compostos, as equipas têm boas condições, há ainda muitos sintéticos e o jogo é rápido e físico. Em Nova Iorque há mais dois clubes fortes – New York Red Bulls e New York City FC -, esses a jogar na Major League Soccer»
.

Importa explicar que o Cosmos, que foi de Pelé (e Beckenbauer, e Seninho...) e agora é de Miguel Herlein e Raul (já vamos a ele), compete na NASL (North American Soccer League), um campeonato paralelo à MLS.

«Ninguém sobe, ninguém desce. A MLS é gerida por uma empresa, a NASL é dirigida pelos próprios clubes. O Cosmos é a equipa mais forte e o meu objetivo é chegar rapidamente à equipa principal».

Miguel Herlein está integrado na equipa B e marcou quatro golos no fim de semana. Em dois jogos, «um no sábado e três no domingo».

«O tratamento é fantástico, não me falta nada, tratam-me como se eu fosse o Raul»
.
 

Miguel e dois colegas antes do primeiro treino no Cosmos
 
Raul Gonzalez. Sim, o histórico ponta de lança do Real Madrid é colega de clube de Miguel Herlein. Aos 37 anos, e após uma passagem pelo Médio Oriente, joga no Cosmos e ama Nova Iorque.

«É um homem simples e humilde, sempre pronto a ensinar. Ainda por cima joga na minha posição. Depois de ter sido treinado pelo Zico e jogado ao lado do Robert Pires na Índia, tenho aqui o Raul. Nunca pensei que isto fosse possível»
, diz Miguel Herlein.

No New York Cosmos está também Marcos Senna, outro antigo internacional espanhol, além de Rovérsio, ex-defesa do Gil Vicente e do Paços Ferreira.

Miguel, ainda em início de carreira, já tem muito para contar. Começou no Amora FC, esteve oito anos na formação do Benfica, passou pelo Chipre (Akritas), Espanha (Granada), voltou a Portugal (Vilaverdense) e experimentou a nova liga indiana (FC Goa).

Nunca viu nada como nos EUA.

«Aqui existe o culto do show business. No último jogo, por exemplo, ao intervalo queria para o balneário e não conseguia. Havia músicos com trombones, tambores, gente a entrar no relvado e tivemos de esperar. Existe sempre a preocupação de animar os espetadores na bancada, não há tempos mortos»
.

11 vezes internacional pelas seleções jovens de Portugal, sangue luso-argentino, o jovem trota mundos diz que quer assentar. E encontrou o lugar certo para isso.

«Estou num clube conhecido, a cidade é fantástica, sou respeitado: é difícil imaginar melhor do que isto»
.