Está desde 2009 no Porto, passou quase dois anos sem jogar e já tinha sido chamado por Vítor Pereira para um jogo da Liga, frente ao Nacional, em março do ano passado. Mikel Agu já não é bem um desconhecido para quem segue atentamente a equipa portista. Ainda assim, a sua entrada na convocatória para o decisivo jogo com o Zenit, na Liga dos Campeões, causou alguma surpresa.

Os indícios, contudo, deixavam antever que algo poderia estar para acontecer. Com Herrera castigado, Quintero lesionado e Carlos Eduardo sem inscrição nas provas europeias, Paulo Fonseca precisava de mais uma opção para o miolo.

Descobriu-a na equipa B. E leva a São Petersburgo outro Fernando.

Essa é, de resto, a opinião de Edu, capitão da equipa B portista na temporada passada e atual jogador do AEL Limassol, do Chipre.

«Diria que o Mikel é um jogador essencialmente defensivo. Para quem não conhece, tem um porte físico imponente e é extremamente agressivo nas ações defensivas. É, essencialmente, um jogador de desarme», explica, em conversa com o Maisfutebol.

O nome do «Polvo» é atirado pelo próprio Edu a meio da conversa. «Tem um estilo de jogar semelhante ao do Fernando», compara.

Lupeta, que também jogou com Mikel nos juniores do F.C. Porto e está agora no Videoton, da Hungria, vai mais longe: «É muito forte na transição defensiva e, quando a mim, pode jogar em qualquer equipa do mundo. Está pronto para um clube top.»

Talvez para seguir as pisadas de outro Mikel, Obi. A imprensa nigeriana via em Mikel um sucessor natural para o médio do Chelsea. Lupeta conta que, pelo Porto, pensavam o mesmo.

«Nos treinos estávamos sempre a brincar com ele e a chamar-lhe Obi Mikel. Nem é só pelo nome, na forma de jogar é igual», assegura.

Dois anos sem jogar após chegar a Portugal

A entrada de Mikel no F.C. Porto foi pouco normal. O médio, nascido em Benin City, na Nigéria, deu nas vistas no Coca-Cola Africa Championship, ao serviço da seleção nigeriana sub-17. Foi eleito, inclusive, o melhor jogador do torneio.

O F.C. Porto estava atento e Mikel veio para Portugal. Com 16 anos. Rapidamente ficou com um problema bicudo para resolver: a Federação não aceitava a sua incrição.

«Faltavam uns documentos. Acho que era um visto que ele precisava por vir de um país africano e ser menor. A Federação exigia-o para poder jogar nos campeonatos deles. Mas o Porto deu a volta a isso, ele treinava muito e até com a equipa A», explica Lupeta.

Patrick Greevaars, que treinava os juniores, desempenhou papel importante na sua integração. Primeiro aprovou-o, depois convenceu-o a esperar até ser maior de idade para poder jogar. Mikel sentiu que o clube apostava nele.

Com 17 anos já trabalhava na equipa principal, não raras vezes, chamado por Jesualdo Ferreira. Esperava a saída dos jornalistas que acompanhavam os primeiros minutos do treino e só depois subia ao relvado. Para não levantar ondas.

E assim o F.C. Porto foi trabalhando a pérola nigeriana que, quando completou 18 anos, em maio de 2001, pôde, finalmente, competir. Antes tinha participado apenas em três encontros, com o F.C. Porto a conseguir uma inscrição excecional para a Liga Intercalar dada a jogadores que estão à experiência. Para além dos jogos particulares.

«Penso que essa situação ainda o tornou mais forte. É muito complicado estar dois anos sem competição porque os futebolistas, principalmente os mais jovens, crescem é em competição e com jogos semana após semana», analisa Edu.

E o médio do AEL Limassol elogia a postura de Mikel durante todo este imbróglio. «Acho que reagiu muito bem. Investiu ainda mais no treino diário e, aos poucos, foi-se apercebendo da dimensão e da exigência de um clube como o F.C. Porto», acrescenta.

Nesta altura, Mikel alternava entre os treinos dos juvenis, pelo seu escalão etário, dos juniores e da equipa principal. 

O dia em que se zangou com Christian Atsu

No F.C. Porto, Mikel não criou problemas com ninguém. Chegou com um colega nigeriano, que não passou no crivo do clube, ficou sozinho mas rapidamente arranjou amigos. Christian Atsu era o maior de todos.

«Eram unha com carne», brinca Lupeta. Mas também Backar Baldé e Enoch. «Andavam os quatro sempre juntos», acrescenta o avançado do Videoton.

Edu garante que o ex-companheiro, com quem dividiu o meio-campo muitas vezes na temporada passada, já está perfeitamente adaptado à vida no Porto. «Percebe completamente a nossa língua e fala o português muito bem. Está completamente integrado no nosso país», garante.

Mesmo que, agora, tenha o grande amigo mais longe. Christian Atsu deixou o clube e a cidade e Mikel perdeu um apoio.

Lupeta conta uma história curiosa para se perceber como eram chegados. «Uma vez, no balneário, no ano em que fomos campeões de juniores, desentendeu-se com o Atsu. Aquelas coisas normais, depois de um treino. Umas palavras mais azedas, mas nada de mais. Mas eles andavam sempre, sempre juntos, até no autocarro. Nesse dia, entregaram a roupa ao roupeiro, vieram para o autocarro, ficou um na frente e outro atrás», descreve.

O cenário parecia grave. Seria mesmo? «Começámos todos a comentar que a coisa era séria e até ficámos preocupados. No dia seguinte apareceram outra vez juntos para treinar. Parecia que não tinha acontecido nada...», completa Lupeta.

Não será fácil que Mikel venha a entrar no jogo de São Petersburgo, até pelas características do mesmo. Mas, se Paulo Fonseca precisar, Edu garante que o nigeriano está preparado.

«As equipas B foram criadas com essa ideia. Cada vez mais o jogador da equipa B tem de estar preparado para a qualquer momento ser chamado a jogar pela equipa principal. E acho que os clubes cada vez mais têm de apostar nos jogadores da sua formação, porque são jogadores que todos os dias vivem a realidade do clube e sabem o que o clube pretende dos seus jogadores», conclui.

Veja Mikel Agu em ação: