Carl Lewis, considerado o atleta olímpico do século e vencedor de nove medalhas de ouro em Jogos Olímpicos, é um dos nomes avançados por Wade Exum, antigo director do controlo anti-doping do Comité Olímpico Norte-Americano (USOC), como tendo competido dopado em grandes competições mundiais.

Wade Exum divulgou mais de 30 mil páginas de documentação em que acusa o USOC de encobrir casos de controlos anti-doping positivos. No caso de Carl Lewis, o atleta teria acusado efedrina (a mesma substância que traiu Maradona no Mundial de futebol de 94), pseudoefedrina e fenilpropanolamina na qualificação norte-americana para os Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.

Ainda segundo Exum, o USOC desqualificou o atleta mas aceitou depois os seus argumentos. Os estimulantes encontrados no seu sangue figuram também em medicamentos para constipações e Lewis garantiu que os teria tomado num medicamento herbal. Carl Lewis ganhou o salto em comprimento e os 100 metros em Seul, depois de Ben Johnson ter sido desqualificado nesta prova... por consumo de esteróides anabolizantes.

Segundo o antigo director do controlo anti-doping do USOC, 19 atletas norte-americanos foram autorizados a competir na Coreia do Sul apesar de terem falhado controlos anti-doping meses antes. Para além de Carl Lewis, estaria nestas circunstâncias a tenista Mary Joe Fernandez (venceu duas medalhas de ouro) e os velocistas Joe DeLoach e Andre Phillips.

Wade Exum tencionava usar os documentos num caso contra o USOC por ter sido despedido por discriminação racial, mas o caso foi arquivado na semana passada por falta de provas.

O USOC, que passou as responsabilidades do controlo anti-doping, em 2000, para a agência do Controlo Anti-Doping norte-americana, já veio qualificar as acusações de Exum como «descabidas». Frank Marshall, vice-presidente, considerou «irónico que o doutor Exum, que era quem conduzia o programa anti-doping até 2000, o ache agora tão cheio de falhas. Quando a nova agência foi criada, há três anos, ele ficou sem emprego», lembrou, acrescentando que o novo programa norte-americano de controlo a substâncias proibidas é «considerado um dos melhores do mundo».

No entanto, Dick Pound, presidente da Agência Mundial Anti-Doping (WADA), admitiu que não ficou surpreendido com as revelações, acusando o USOC de protecção dos seus atletas. «Quanto mais o mundo souber o que o USOC fazia, maior é a probabilidade de corrigirem o problema.» Pound mencionou cartas em que o então secretário-geral do USOC, Baaron Pittenger, avisava Lewis, DeLoach e Phillips de que tinham acusado positivo no controlo anti-doping mas que poderiam ainda assim correr em Seul. «Acho extremamente embaraçoso para o USOC ter a letra do secretário-geral numa carta desse tipo. É como se admitisse que tinha de o revelar, mas que não se preocupassem porque iam considerar que tinha sido uso inadvertido. O processo transformou-se numa anedota.»

Arne Ljungqvist, presidente da Comissão Médica da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), confirmou que as revelações encaixam no padrão de casos de doping escondidos. «A Federação de Atletismo dos Estados Unidos deveria ter revelado tudo à IAAF. Estamos sempre a lembrá-lo, mas sabemos que eles não cumprem as regras.»