A Federação Portuguesa de Atletismo optou por levar apenas duas atletas para a maratona, prova dos Mundiais de Atletismo que vão decorrer em agosto, em Londres, deixando uma vaga por preencher.

Decisão no mínimo estranha, tendo em conta que existem seis atletas com mínimos para correrem a maratona.

Como explicou o diretor técnico nacional, José Santos, abriu-se uma terceira vaga visto que a atleta Salomé Rocha ter conseguido os mínimos para os dez mil metros e ter solicitado a troca. 

«Não vai haver alterações. Vão as duas que estavam selecionadas e Carla Salomé Rocha passa para os 10.000 metros, como pediu», disse José Santos citado pela agência Lusa.

Contudo, existem mais três atletas com os mínimos assegurados. Jéssica Augusto está lesionada pelo que não poderá competir enquanto Sara Moreira vai competir também nos dez mil metros. Restava Doroteia Peixoto. Ainda assim, a terceira e última vaga não passou para a atleta seguinte da lista com mínimos feitos, como seria lógico que acontecesse.

O director técnico nacional justificou a ausência de Doroteia Peixoto com o facto da atleta ter-se mostrado indisponível para competir no próximo mês, em Londres.

«Pelas conversas com o seu treinador foi-me dito que estava indisponível. Ela não vai porque não quis ir, falei com o treinador pessoalmente, há semanas», contou José Santos.

O Maisfutebol falou com Ricardo Ribas, treinador de Doroteia Peixoto, que desmentiu as declarações do atual director técnico nacional.

«Isso é falso. Acho estranho ler essas declarações do diretor nacional. Essa conversa ocorreu em junho, não foi há semanas. É completamente falso que a Doroteia se tenha mostrado indisponível. Parece-me que alguém quer sacudir água do capote», começou por dizer Ricardo Ribas, em conversa com o nosso jornal.

De acordo com o treinador da atleta, as marcas para a maratona terminaram em maio. Nessa altura, Doroteia estava em 6.º lugar e fora da convocatória, embora existisse a possibilidade de duas atletas correrem os dez mil metros, deixando a tal última vaga por preencher.

«Alertei para a possibilidade de duas atletas competirem nos dez mil metros. Disseram-nos para continuarmos a treinar e que no dia 10 de junho, na Taça da Europa que se realizou na Bielorrússia, tudo ficaria decidido. Nesse dia, ninguém fez marca. Mas também ninguém da Federação disse-nos o que quer que seja. Ficámos com um pé atrás, naturalmente», conta o antigo atleta.

Concluída a Taça da Europa, Doroteia permaneceu na mesma posição e estava, salvo indicação contrária, fora das convocadas para os Mundiais de Londres.

«Dia 30 de junho estava em estágio e, por acaso, falei com o Selecionador Nacional. Ele disse-me que ainda havia hipótese da Carla Salomé Rocha fazer marca para os dez mil metros no dia 12 de julho, abrindo mais uma vaga na prova de maratona. Disse-lhe que não conseguia, enquanto treinador, preparar a minha atleta para uma maratona em cinco/seis semanas. Ele próprio concordou que ninguém consegue preparar uma atleta para uma maratona nesse período», afirma.

«Porque haveríamos de assumir o risco de treinar sem saber se íamos a Londres?», questiona.

Ricardo Ribas admite que Doroteia está disponível para ir, mas, caso participe na prova, certamente não irá protagonizar uma grande prestação.

«A Doroteia está disponível para ir, mas vai lá passear. Fico indignado com a situação. A partir do momento em que temos que esperar mais três semanas para sabermos se vamos ou não, é ridículo», conclui.

Doroteia mostrou também a sua indignação através das redes sociais: «É para rir ou para chorar? (...) Não vai tirar o lugar a ninguém na prova de 10.000 metros... Pois não, não tira nos 10.000 metros, mas tira na maratona, que em vez de três atletas vão duas. Mas isto já são equações muito difíceis de fazer...»

Recorde-se que há um ano, aquando dos Jogos Olímpicos do Rio2016, foi encontrada uma solução bem diferente e levou-se na equipa uma reservista, Vanessa Fernandes.