Abril de 2010, Pavilhão Atlântico esgotado. Minuto 3 do prolongamento, Davi interceta um passe a meio-campo, vai na direção da baliza, remata de pé esquerdo e…GOLO. O Benfica colocava-se em vantagem na final da UEFA Futsal Cup e aquele golo do brasileiro iria transformar em realidade, o sonho de ser campeão europeu.

A equipa de Ricardinho, Arnaldo, Joel Queirós e César Paulo entrava para a história do futsal encarnado e nacional com a primeira conquista de um título europeu e, até aos dias de hoje, continuam sendo os únicos a ter levantado o troféu.

Após essa final de 2010 contra o Interviú, quer Benfica quer Sporting marcaram presença em fases decisivas da competição, sem nunca repetirem o feito. Os leões estiverem mesmo na final em 2011, mas os italianos do Montesilvano (que eliminaram as águias nas «meias») levaram a melhor.

O ano passado a final-four voltou a ser em Lisboa, com nova presença do clube leonino, todavia o Barcelona iria estragar, na meia-final, todas as expectativas criadas. Os dois grandes da capital andam perto de voltar a conquistar a Europa e é com esse intuito que o Benfica se desloca à Eslováquia, de 10 a 13 de novembro, para jogar a Ronda de Elite da UEFA Futsal Cup.

O objetivo é ganhar um «bilhete» para a final-four que se jogará em abril do próximo ano, mas ninguém na comitiva encarnada assume o favoritismo, mesmo sendo o Benfica a única equipa do grupo campeã da Europa.

«O principal objetivo do Benfica para participar nesta prova pressupõe ser campeão nacional. E isso foi o maior motivo de satisfação desta estrutura, desde que entrou este novo projeto. É um motivo de orgulho para nós estar presentes, depois daí para a frente não se trata de objetivos ou sonhos, trata-se de competir e de ter a capacidade de perceber as dificuldades que essa prova traz. Obviamente que os jogadores, a equipa técnica, o clube, o país não ficam indiferentes à prova. Não conheço ninguém que se prepare para não vencer e nisso não somos diferentes, mas temos noção que as quatro equipas são muito equilibradas e tudo pode acontecer», realçou Joel Rocha, o técnico encarnado.

Treinador do Benfica desde a época anterior, o português apresenta um registo que apelida de «impressionante», pois não perdeu nenhum jogo no tempo regulamentar desde que assumiu o comando técnico. São 52 jogos e só num prolongamento saiu derrotado, num jogo da final com o Sporting. De resto, venceu 47 partidas e empatou quatro jogos, conquistando todos os títulos que disputou.

Será que estes números dão confiança e superioridade aos encarnados para esta fase? Joel Rocha responde:  «É um registo interessante, mas sair invicto pode não significar o apuramento. Imaginem que são três empates. Três empates e três pontos são capazes de não chegar. Mais importante que esse registo, que eu não sei quantos jogos e quantos meses são, é a forma como nos preparamos diariamente, que é reveladora de muito trabalho, muita consciência ao nível do processo e muito conhecimento das nossas capacidades e dificuldades.»

Tal como Joel Rocha, ninguém na Luz acredita que a equipa será favorita nos jogos a disputar na Eslováquia. Alessandro Patias, o goleador, reforça a ideia: «Não sei se somos os mais fortes e os favoritos. O grupo é muito difícil, quando chegas a esta fase é difícil encontrar favoritos a não ser os campeões. O Benfica já foi campeão europeu, mas teve muito tempo sem participar na prova também. Não somos favoritos, estamos longe disso, mas tenho a certeza que estamos muito bem preparados para passar o grupo.»

O guarda-redes Juanjo, que chegou a Lisboa ao mesmo tempo que Joel Rocha e Patías, mostra-se encantado com a fase que está a passar e motivado para este novo desafio. Aos 30 anos, já venceu três Europeus pela seleção espanhola e um mundial de clubes (pelo Inter Movistar) para além de ter conquistado todos os troféus internos em Portugal e Espanha. A UEFA Futsal Cup não está marcada no seu currículo e esse é um objetivo pessoal.

«Quero muito ganhar um título europeu com o Benfica. Tanto para mim como para o Benfica é importante jogar esta competição e sobretudo ganhar. Joguei muitos jogos, sei o que é jogar fora de casa com este tipo de rivais e vai ser muito difícil. Não há favoritos. Temos que pensar jogo a jogo e sobretudo demonstrar a nossa própria identidade», afirmou.


A festa de 2010

Gonçalo e Bebé, os resistentes de 2010

Da equipa treinada por André Lima que levantou o «caneco europeu» em 2010 apenas restam o capitão Gonçalo Alves e o guardião Bebé.

Havia nomes como os de Ricardinho, César Paulo, Joel, Arnaldo Pereira ou Davi. Hoje, o sucesso dos encarnados está nos pés de Patías, Hemni, Chaguinha, Alan Brandi e companhia. Muitas mudanças, mas os que ficaram dizem que isso não preocupa.

Na altura, Gonçalo não usava a braçadeira e admite que o sonho de ser ele a levantar a taça é real, contudo nunca deixa que os pés saiam do chão. «Sonho porque isso é o sonho de qualquer jogador, mas eu só posso pensar nisso passando esta fase. Não vale a pena pensar na final-four porque ainda temos três jogos pela frente», referiu.

O jogador, de 38 anos, não esquece nunca aquele dia em que Davi colocou o pavilhão Atlântico a ferver e sente que a experiência dele e de Bebé podem ser úteis, mas cita outros nomes de referência no balneário.

«Não é só a minha experiência e a do Bebé. Como nós, há outros jogadores que estão habituados a participar neste tipo de competições, como o Patias ou o Juanjo, que já ganhou muita coisa a nível da seleção e de clubes também. O Fernando [Wilhelm] também ganhou. É uma equipa que tem a sua experiência e vai passando isso aos mais novos. Esta fase que passou (que deu o apuramento para esta Ronda de Elite) foi importante para ganharmos alguma experiência porque alguns jogadores nunca tinham jogado a nível internacional e acho que foi importante para a equipa estar melhor preparada para o que aí vem», salientou.



Recordações da final de 2010

Adversários estudados e conhecidos como se jogassem em Portugal

Para conseguirem o apuramento, vão ter que superar três adversários muito fortes fisicamente e que terão, certamente, mais apoio que os encarnados devido à proximidade. Primeiro, no dia 10, há o duelo com o Ekonomac, que se apurou diretamente para esta fase por ser cabeça de série.

Esta época, os sérvios não estão tão fortes na sua liga e em oito partidas, venceram seis, empataram uma e perderam a outra. Estão no 3º lugar do campeonato sérvio a quatro pontos do líder e esta é a sua sexta presença no torneio.

Um dia depois, o Benfica defrontará a equipa da casa, naquele que será o jogo, teoricamente mais difícil. O Slov-Matic Bratislava é o conjunto do grupo com mais presenças na competição (10) e perante os seus adeptos será um «osso duro de roer». Lidera o campeonato eslovaco, com quatro vitórias e um empate. Na fase de qualificação para a Ronda de Elite apurou-se com nove pontos, somando triunfos em todos os jogos, tal como os encarnados.

Por último, no dia 13 (após paragem de um dia) há encontro com o Lokomotiv Kharkiv, da Ucrânia. Esta equipa é a menos experiente nestas andanças (3ª presença), mas na sua liga tem sido imperial, com o registo de oito vitórias em oito jogos. Para chegar a esta fase teve de sofrer, já que perdeu um dos três jogos do seu grupo.

A luta será dura, mas Joel Rocha assegura que o Benfica estará preparado para o que vai encontrar e sobretudo que estará consciente do valor dos rivais: «Temos uma margem de conhecimento em relação aos adversários muito concreta, o que é importante. Podemos dizer que conhecemos cada um dos três adversários como se do nosso campeonato fossem. Isso, à partida, é um bom argumento, não o suficiente para o que quer que seja, mas um bom argumento.»

Gonçalo Alves completou e deixou um conselho aos seus colegas: «É um grupo muito homogéneo, em termos físicos vamos ter que ser uns guerreiros, na verdadeira aceção da palavra. Serão jogos em que vamos apanhar um ambiente hostil, em que os adversários vão tentar tudo para nos agarrar e para nos travar. Sabemos que somos mais rápidos, tecnicamente melhores, mas por vezes as arbitragens lá fora tem um critério muito largo, e temos de nos adaptar a isso. Não podemos andar lá a pedir faltas, não ser «choramingas», essa é a solução. Não podemos facilitar em nada.»

O capitão está habituado a estas Rondas de Elite e a jogos decisivos internacionais, por isso deixa a receita para a equipa estar mais perto da qualificação: «É uma competição onde o Benfica tem grande responsabilidade devido ao seu historial, já que foi campeão europeu uma vez e pertence a um grupo restrito de clubes que conseguiram conquistar essa competição. Obviamente, vamos para lá sabendo da nossa responsabilidade e aquilo que pode fazer a diferença é a nossa concentração e sermos exigentes connosco próprios.»

Os números do Benfica esta época: 13 jogos, 13 vitórias

As equipas que os encarnados vão encontrar são líderes, são vencedoras dos seus campeonatos, são os melhores ataques e as melhores defesas, mas nada que o Benfica também não seja.

Aliás, esta época qualquer dos três conjuntos adversários já cedeu pontos, menos as águias. 13 jogos, 13 vitórias em todas as competições. Internamente conquistou a Supertaça ao Fundão por 6-3, e no campeonato tem nove partidas, nove triunfos e é o melhor ataque com 50 golos marcados. Lidera a tabela classificativa, mesmo tendo uma partida a menos.

Na Europa, na ronda que deu acesso a esta fase, três triunfos com 23 golos marcados e cinco sofridos.

Números de respeito do campeão nacional que se traduzem em confiança e moral no dia-a-dia, como Alessandro Patias destaca: «É sempre bom ganhar, acho que ficamos mais confiantes, acreditamos ainda mais no trabalho que temos feito, mas aquilo que se passou até agora, tem que ficar para trás quando chegarem os jogos. Temos que colocar em prática aquilo que temos feito até hoje e vai ter que ser o melhor Benfica para estes jogos, para conseguir o objetivo principal que é passar esta fase. O que vier para a frente será outra história.»

O afastamento não passa pela cabeça de ninguém, mas e se acontecer? Se Joel Rocha perder a invencibilidade?
«Garanto que independentemente do que acontecer, haverá mais vida depois da UEFA Futsal Cup, há mais vida depois do 14 de novembro, depois vem o Braga… Há mais vida, isto faz parte do nosso calendário que a nós nos satisfaz imenso e tenho a convicção que vamos traduzir esse prazer em qualidade e depois veremos se a consequência estará expressa no resultado ou não», respondeu perentoriamente.

O voo das águias para o topo da Europa começa no dia 10 de novembro e a esperança e confiança que levam na mala para Bratislava terá de se traduzir em golos e vitórias para conseguirem o mais desejado bilhete para a final-four. A conquista do topo da Europa decide-se nessa fase, mas o fundamental é fazer um arranque sem deslizes porque a aterragem pode estar ali na esquina, ao final de três jogos.