Uma comissão parlamentar britânica acusou esta segunda-feira a equipa Sky de ter utilizado corticoides para melhorar o rendimento dos seus ciclistas, nomeadamente no Tour 2012, conquistado por Bradley Wiggins.

O relatório da comissão de Cultura, Media e Desporto considera que a utilização do Triancinolona, um corticoide de ação anti-inflamatória prescrito a asmáticos, tinha a finalidade de ajudar Wiggins e os companheiros a perderem peso sem os fragilizar.

«Perante as provas recolhidas pela comissão, pensamos que este poderoso corticoide foi utilizado para preparar Bradley Wiggins, e talvez outros corredores [da equipa] que o apoiavam, na Volta a França», lê-se no documento. «O propósito não era o tratamento médico, mas sim melhorar a relação peso/potência antes da corrida», acrescentam os parlamentares.

Recorde-se que em setembro de 2016, um grupo de hackers russos revelou – após ter pirateado o sítio oficial da Agência Mundial Antidopagem [AMA] . que Bradley Wiggins tinha beneficiado de Autorizações de Utilização Terapêutica [AUT] para poder tomar este medicamento antes de três corridas, o que a comissão considera ter sido um expediente para disfarçar o uso com fins dopantes.

«Isto não constitui uma violação do código mundial antidopagem, mas cruza a linha ética que David Brailsford [manager de Sky] diz ter estabelecido para a equipa Sky», acrescentam os deputados.

Bradley Wiggins, vencedor de cinco títulos olímpicos, que se retirou no final de 2016, negou o que lhe é imputado. «Acho muito triste que façam estas acusações, que as pessoas possam ser acusadas de coisas que nunca fizeram e que depois são vistas como factos. Refuto firmemente a acusação de que qualquer medicamento foi utilizado sem necessidade médica», escreveu na sua conta no Twitter.

Shane Sutton, antigo treinador da Sky e da equipa britânica de ciclismo, referiu aos membros da comissão que o que Wiggins fez «não era ético, mas não ia contra o regulamento». Num documentário da BBC emitido em novembro de 2017, Sutton reconheceu que alguns medicamentos que necessitam de AUT poderiam ser utilizados para melhorar o rendimento.

No relatório, a comissão defende uma interdição total dos corticoides, sendo que a utilização de alguns sem autorização terapêutica é permitida pela AMA em competição.

O documento aponta ainda inconsistências no que foi dito sobre o conteúdo da encomenda entregue a Wiggins e à Sky durante o Critério do Dauphiné de 2011, que foi alvo de um inquérito por parte da agência antidoping britânica [UK Anti-Doping].

Em novembro, a agência encerrou a investigação sem conseguir determinar se a encomenda continha o descongestionante legal Fluimucil ou o corticoide proibido Triancinolona.