Se é verdade que a camisola amarela da edição 110 do Tour ficou praticamente decidida a meio da última semana, também é verdade que esta Volta a França de 2023 teve etapas espetaculares. Das partidas às chegadas. Nos sprints e nas montanhas. Os factos mostram-no: foi mesmo uma das melhores deste século.

E a tradicional chegada aos Campos Elísios, este domingo, na consagração de Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), não foi uma etapa diferente nessa espetacularidade. Sobretudo pelo sinal de competitividade dado por Tadej Pogacar (UAE Team Emirates).

Com 49 quilómetros para o final da etapa e mesmo a mais de sete minutos do camisola amarela na geral, Pogacar mostrou energia, quis animar a tarde, atacou e obrigou a Jumbo-Visma a responder com o acompanhamento de Nathan van Hooydonck, questionando até as contas projetadas por várias equipas para ter elementos no sprint final. A dupla chegou a ter cerca de 20 segundos de vantagem, mas foi apanhada por vários ciclistas, que formaram um grupo de dez à entrada para os 33 quilómetros finais.

Nesse lote estava o português Nelson Oliveira (Movistar), que acabou por formar fuga com Simon Clarke (Israel-Premier Tech) e com Frederik Frison (Lotto-Dstny) a 30 quilómetros da meta. O trio chegou a ter 20 segundos de vantagem a 20 quilómetros do fim, mas foi apanhado a dez quilómetros do final.

Um estreante a vencer em grandes voltas

Por fim, um sprint (mais um) daqueles. A quatro! Tão apertado que ninguém conseguiu festejar no imediato. Mas na festa da etapa de consagração de Vingegaard em Paris, havia também espaço para um estreante a vencer etapas de grandes voltas: o belga Jordi Meeus.

O ciclista de 25 anos da Bora-Hansgrohe venceu a etapa de 115,1 quilómetros com partida em Saint-Quentin-En-Yvelines ao fim de quase três horas (02h56m13s), superando a potência do compatriota Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck), do neerlandês Dylan Groenewegen (Team Jayco Alula) e do dinamarquês Mads Pedersen (Lidl-Trek).

Quanto aos portugueses, Nelson Oliveira foi 69.º na etapa, a 53 segundos. Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) foi 149.º e penúltimo, ao lado do colega de equipa, o francês Adrien Petit, 150.º, ambos a cinco minutos e 14 segundos.

Na geral, Vingegaard venceu a Volta a França com um tempo final total de mais de 82 horas (82h05m42s), com mais 7m29s do que Pogacar. O britânico Adam Yates, colega de equipa de Pogacar, fechou o pódio a 10m56s de Vingegaard. Nelson Oliveira foi 53.º (+03h08m26s) e Rui Costa foi 67.º (+03m37m57s), numa edição que teve outro português pela Movistar, Ruben Guerreiro, que desistiu após uma queda há uma semana.

Os vencedores das camisolas

Se a amarela da geral foi pelo segundo ano seguido para Vingegaard, Tadej Pogacar venceu destacadamente a camisola branca da juventude, com cinco minutos e 48 segundos de vantagem para o espanhol Carlos Rodríguez (Ineos Grenadiers). O pódio foi fechado pelo austríaco Felix Gall (AG2R, +8m40s).

A camisola dos pontos foi para Jasper Philipsen (377 pontos), seguido, no pódio, de Mads Pedersen (258) e do francês Bryan Coquard, da Cofidis (203).

Jordi Meeus venceu a última etapa da 110.ª edição do Tour (ETIENNE GARNIER ; POOL / EPA)

O rei da montanha foi o italiano Giulio Ciccone (Lidl-Trek), com 106 pontos, seguido de Felix Gall (92) e Jonas Vingegaard (89). Por equipas venceu a Jumbo-Visma.

Vingegaard e Pogacar em algo que não acontecia há 44 anos

De resto, os dois principais candidatos à vitória nesta edição do Tour protagonizaram algo que já não acontecia há 44 anos: os mesmos dois ciclistas a acabar da mesma forma nos primeiro e segundo lugares em dois anos consecutivos. Já tinha sido assim em 2022, voltou a ser em 2023. Bernard Hinault e Joop Zoetemelk foram os últimos a fazer igual. Mais do que isso, Pogacar e Vingegaard deixaram uma marca inédita na história do Tour: são os dois primeiros a ficar nos dois primeiros lugares em três anos consecutivos, dado que Pogacar venceu a edição em 2021 e Vingegaard foi 2.º.