A Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaythai (FPKMT) enfrenta um processo de suspensão por parte da WAKO, a associação mundial de organizações de kickboxing. Em causa estão irregularidades apontadas à gestão federativa, na sequência de diversas queixas de membros da mesma.

A WAKO criou uma comissão dedicada especificamente para avaliar o caso, composta por três elementos e liderada pelo vice-presidente do organismo, Espen Lund, que elaborou um relatório apresentado à direção no final de agosto.

Em carta a que o Maisfutebol teve acesso, enviada alguns dias depois, a 3 de setembro, é justificada com a conclusão de que «os estatutos da FPKMT não estão em linha nem são compatíveis com os estatutos da WAKO».

O documento acrescenta mesmo que a federação lusa «não tem um processo eleitoral democrático que garanta, de forma transparente e com igualdade, os direitos dos membros no que diz respeito à eleição dos delegados», e refere ainda que a entidade «não protege adequadamente os interesses e direitos dos membros e atletas da secção de kickboxing».

A WAKO detalha que o Regulamento Eleitoral da FPKMT «limita consideravelmente os direitos dos membros, nomeadamente aqueles que não são delegados», «garante demasiado poder à Comissão Eleitoral na escolha dos delegados (ndr. que são 30), cuja composição e eleição não é clara e transparente», e refere ainda que não estão a ser respeitados os estatutos relativamente à limitação de mandatos, tendo em conta que haverá dirigentes nos cargos há mais de quatro anos.

A WAKO decidiu então suspender a Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaithay, na sequência de um processo que envolveu desde logo a Secretaria de Estado do Desporto, com quem a federação terá recusado reunir, de acordo com o documento da organização mundial.

A suspensão é, portanto, enquadrada nas questões de incompatibilidade estatutária, nomeadamente no que diz respeito à escolha dos órgãos sociais, mas a WAKO faz também eco de outras questões apresentadas nas queixas que recebeu, e que contemplam até suspeitas de irregularidades financeiras.

O documento faz referência ao descontentamento de vários clubes de kickboxing, que acusam a federação de manipular os relatórios financeiros e também de cometer irregularidades na distribuição de verbas, em benefício das associações de Muaythai, ignorando as orientações da Secretaria de Estado do Desporto e a proporção de membros por modalidade. A federação é mesmo acusada de promover uma atividade limitada de kickboxing.

A WAKO revela ainda queixas de ostracismo e “bullying” relativamente a atletas e clubes, promovido através de processos disciplinares.

A organização mundial defende que algumas destas questões devem ser analisadas ao abrigo do quadro legal português, mas explica que não podia ignorar as queixas, ainda que só pudesse agir de acordo com a relação estatutária entre as duas instituições.

A Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaythai tem agora um prazo de quinze dias para responder a estas acusações. Na próxima reunião da direção da WAKO será tomada uma decisão final, mas a suspensão implicará que atletas e clubes portugueses fiquem impedidos de participar em competições internacionais.

A FPKNT, com Estatuto de Utilidade Pública desde 1996, arrisca também perder os apoios do Estado para o programa olímpico.