O interesse do Real Madrid em Luka Modric, jogador do Tottenham, ameaça esfriar ainda mais a relação entre José Mourinho e André Villas-Boas. Depois de terem trabalhado juntos durante oito anos, os treinadores portugueses têm-se afastado nos últimos tempos, e a disputa do internacional croata pode alimentar essa tendência.
Cobiçado pelo Real, Modric decidiu tentar forçar a saída, recusando-se a integrar os trabalhos de pré-época e a digressão aos Estados Unidos. «Ele teve muitos clubes interessados antes, e sempre se comportou de forma muito profissional. É a primeira vez que age desta forma. Não sabemos que tipo de aconselhamento está a receber», disse recentemente Villas-Boas.
Pouco depois de ter sido contratado pelos «Spurs», Villas-Boas volta a ter de lidar com o «fantasma» de José Mourinho, algo que sempre procurou contrariar. Para além das comparações associadas aos resultados desportivos, nomeadamente no F.C. Porto, também alguns sintomas do afastamento alimentam a ligação mediática entre ambos.
A relação começou a esfriar quando as carreiras se separaram. André Villas-Boas queria ser mais do que observador, queria pisar a relva. «A separação aconteceu porque eu senti que poderia dar um pouco mais. Senti que podia começar a treinar. Se eu pudesse dar mais a Mourinho tinha dado, mas percebo perfeitamente que ele não tenha sentido necessidade disso. Por isso achei que era altura de arriscar», explicou, em Abril de 2011.
F.C. Porto marcou o afastamento e até Pinto da Costa viu o «fantasma»
Por esta altura já o afastamento era indisfarçável. Até pelas palavras de José Mourinho quando Villas-Boas assinou pelo F.C. Porto: «Costumo dizer que no futebol já nada me surpreende. Se entenderam que era o treinador indicado, porque não há de ser? Os resultados é que determinam sempre se as decisões tomadas são mais ou menos corretas. Muitos podem perguntar porque é que escolheram alguém que nunca foi treinador na vida, a não ser nestes dois ou três meses na Académica. Tudo vai depender dos jogos e dos resultados. Se ganhar tudo é o treinador perfeito. Agora não venham fazer comparações comigo, porque eu, quando fui para o F.C. Porto, já tinha trabalho de campo feito, o que é bastante diferente.»
Quando Villas-Boas estava na Académica, a relação com Mourinho ainda era algo próxima, conforme chegou a confirmar o primeiro. Mas com o tempo isso foi mudando. «Devo muito a Mourinho, que me encaminhou numa série de conhecimentos, mas também lhe deu muito da minha competência e profissionalismo. Não é mentira que a relação esfriou um pouco», assumiu o mais jovem dos técnicos, no dia em que festejou o título na Luz.
Uma conquista que Mourinho tinha rotulado de «fácil», poucos meses antes, ideia recusada pelo antigo adjunto: «Discordo em absoluto. Não há nenhum campeonato fácil. Não foi fácil ser tri-campeão no Inter, não foi fácil no Chelsea ganhar o campeonato 50 anos depois. Nada é fácil. É preciso mostrar competência. Não é fácil ganhar em lado nenhum. É um absurdo dizer-se que é fácil ganhar o campeonato seja em que país for.»
A mudança de Villas-Boas do F.C. Porto para o Chelsea, no final da época, acabou por alimentar um fenómeno que o técnico portuense procurava combater. Até com um contributo de Pinto da Costa. «Ele está sempre com o fantasma do Mourinho», disse o presidente portista, justificando a saída do técnico.
Em Inglaterra, os problemas de Villas-Boas com alguns dos jogadores mais velhos do Chelsea eram relacionados com Mourinho. E os resultados desportivos não davam tranquilidade ao técnico que a imprensa inglesa apelidou de «Special Two». «Ele precisa de tempo para moldar a sua equipa, e não pode fazer isso enquanto houver jogadores, como eu ouvi, que trocam mensagens com Mourinho», disse também Pinto da Costa.
Villas-Boas chegou a ouvir Stamford Bridge cantar por Mourinho, e acabou por sair. Agora de regresso ao ativo no Tottenham, o «fantasma» volta a aparecer.