2018 teve de tudo. O FC Porto voltou ao trono do futebol português, quatro anos depois. O Desp. Aves desceu até ao sul do país para resgatar a Taça de Portugal para a «maior vila do futebol português», frente a um leão ferido e envergonhado pelo bárbaro ataque a Alcochete.

A seleção sub-19, com a geração de 99, voltou a conquistar a Europa, ao contrários dos mais velhos, que desiludiram na Rússia, no maior palco do futebol mundial. Também os sub-21 ainda estarão a perguntar-se como deixaram escapar o sonho europeu em casa, frente à Polónia.

Foi também o ano em que Jorge Jesus emigrou pela primeira vez, com fantasmas à mistura, e em que o FC Porto foi também rei e senhor lá fora, com a melhor prestação de sempre na Liga dos Campeões.

Lembra-se de tudo? Venha daí!

Herrerazo

2018 foi o ano em que FC Porto e Benfica batalharam pelo título até quase ao último suspiro. Entre alguns percalços e trocas no topo da tabela, os dois rivais defrontaram-se na Luz, em abril, num jogo que podia assumir contornos decisivos. O duelo estava amarrado, mas os portistas chegaram-se à frente na hora h e o capitão Herrera mandou reservar os Aliados. Em cima do minuto 90, o mexicano juntou a força acumulada durante estes anos por milhares de portistas e bateu Bruno Varela, num pontapé para a eternidade. O Dragão cuspiu fogo como já não se via há muito e manteve uma tradição recente: sair da Luz a sorrir. Daí em diante, não mais o FC Porto largou a liderança do campeonato e... o resto é história. O Herrerazo.

Conceição, um homem de palavra

Nunca o FC Porto tinha ficado quatro anos sem vencer o campeonato com Jorge Nuno Pinto da Costa na cadeira da presidência dos dragões. Paulo Fonseca, Julen Lopetegui, José Peseiro e Nuno Espírito Santo, todos tentaram, mas sem sucesso. O jejum durava desde 2013, mas depois apareceu Sérgio Conceição. O técnico português assumiu, aquando da sua apresentação, o sonho do título e cumpriu com distinção. Pegou em alguns patinhos feios do plantel azul e branco, como Marega e Herrera, reuniu as tropas e construiu uma equipa que chegou a ser avassaladora em muitos momentos. A luta com o Benfica foi intensa, renhida, mas no final não se pode dizer que o título tenha sido mal entregue. Conceição é um homem de palavra.

O dia em que o leão chorou

15 de maio de 2018. Um dos piores dias da história do futebol português, e quiçá o pior da história do Sporting. Os leões cumpriam um treino normal de preparação para a final da Taça de Portugal, frente ao Desp. Aves, quando cerca de 50 adeptos invadiram a academia e agrediram jogadores e equipa técnica. O país parava, chocado ao ver as imagens de horror que passavam cá para fora, enquanto o clube de Alvalade se dividia como nunca na sua história. Nove jogadores, entre eles os capitães Rui Patrício e William Carvalho rescindiram com justa causa – três (Bas Dost Bruno Fernandes e Battaglia) voltaram atrás com a decisão – e Bruno de Carvalho acabou destituído numa assembleia-geral histórica. O leão chorou, mas mais de meio ano depois, as feridas do estão a sarar. As cicatrizes, essas, provavelmente nunca mais vão ser apagadas.

O sonho da Taça na «maior vila do futebol português»

Sporting e Desp. Aves disputavam uma final inédita da Taça de Portugal no Estádio Nacional, e muito especial para os dois lados. Os leões, como se sabe, tinham vivido a pior semana da sua história. Os avenses, por outro lado, estavam a fazer história e invadiam a Mata do Jamor pela primeira vez. Aos 16 minutos, Alexandre Guedes bate Rui Patrício e dá asas ao sonho avense. Aos 72, outra vez Guedes a meter uma mão na Taça. Fredy Montero ainda reduziu para o emblema de Alvalade, mas a história já estava escrita. A Taça subiu para norte, com a ajuda da «maior vila do futebol português».

Jesus emigrou, mas deixou cá o seu fantasma

Uma das ideias mais defendidas por Jorge Jesus ao longo dos últimos anos era a de que o técnico português não saía de Portugal para uma «equipa qualquer». Aos 64 anos, porém, Jesus teve de abdicar dela. Depois do caos em que se tornou o Sporting, o técnico assumiu que precisava de sair dos leões e aos 64 anos emigrou pela primeira vez. O destino foi o Al-Hilal, na longínqua Arábia Saudita, onde Jesus continua a dar aulas de tática e soma e segue na liderança do campeonato. Apesar do sucesso, JJ não desiste da ideia de regressar rapidamente ao país onde nasceu e continua a reiterá-la sempre que pode. Cerca de sete mil quilómetros separam Portugal da Arábia Saudita, mas o seu fantasma paira todos os dias no futebol português. Como disse Sérgio Conceição, «Jesus não está entre nós, mas anda aí».

Spasiba Rússia, mas não vais deixar saudades

A Seleção Nacional chegava à Rússia, para disputar o Mundial 2018, como rainha e senhora da Europa, mas não pode dizer-se que se tenha chegado a sentar no trono. A equipa de Fernando Santos até nem começou a Copa da pior maneira, depois de empatar com a Espanha e vencer Marrocos, com Ronaldo a grande altura, mas quando o capitão não marcou o coletivo não carburou da melhor maneira. O empate frente ao Irão de Carlos Queiroz na última jornada, confirmando um apuramento demasiado sofrido, ainda escondeu alguns problemas, que depois ficaram a nu na queda frente ao Uruguai. É certo que o encontro frente aos sul-americanos até foi o mais bem conseguido de toda a prova, por força também do estilo de jogo do adversário, mas Portugal caiu e caiu bem. Para uma seleção campeã da Europa, exigia-se um bocadinho mais no maior palco de futebol do mundo. Spasiba [obrigado] Rússia, mas não vais deixar saudades.

A mesma história, alguns atores diferentes: o topo da Europa outra vez

Depois do título de 2016, a geração de 99 juntava-se novamente para mais uma epopeia europeia, mas sem alguns dos seus maiores intérpretes: João Félix, Rafael Leão, Diogo Leite e Diogo Dalot, só para citar alguns. Hélio Sousa, o selecionador nacional, não olhou a nomes, juntou o talento que tinha em mãos, e fez mais uma vez história, conquistando o título. Empurrados por um Jota brilhante, a seleção das quinas foi a equipa mais entusiasmante do torneio e tocou o céu depois de uma final de loucos ante a Itália, repetindo o tal feito de 2016, mas dois anos mais experientes. Para o ano há Mundial sub-20. Não há duas sem três, rapazes?

Um sonho roubado ou oferecido?

Depois do empate a um na Polónia, na primeira mão do play-off, era quase um dado adquirido que a seleção de sub-21 ia estar presente no Europeu do próximo ano, organizado em conjunto por Itália e São Marino. Nada mais errado. No Municipal de Chaves, a formação das quinas entrou a dormir para a segunda mão da eliminatória com os polacos e aos 24 minutos já perdia por 3-0. Diogo Jota ainda reduziu no início da segunda parte, mas o sonho caiu mesmo por terra. Uma geração incrível que fica pelo caminho e uma marca negativa no percurso de Rui Jorge nos comandos dos under21, que até então tinha sido quase imaculado. Um sonho roubado ou oferecido? Bem, daqui a dois anos há mais.

Reis também na Europa

O FC Porto partia para o sorteio da Liga dos Campeões no segundo pote, e apesar de não lhe ter calhado nenhum tubarão, caiu num dos grupos mais equilibrados da competição, com Lokomotiv de Moscovo, Schalke e Galatasaray. Seis jogos depois, cinco vitórias, um empate, 15 golos marcados e seis sofridos. Oitavos no bolso e uma prestação notável, a melhor das 32 equipas que começaram a competição e a primeira vez que uma equipa portuguesa é a melhor desta fase da prova. Mérito para Conceição e os seus pupilos, com especial destaque para Marega, que até igualou um recorde de Mário Jardel.

O jogo que não é bonito

Toupeiras, cashballs, aliciamentos, tráfico de influências... tudo palavras que, infelizmente, andaram de mão dada com o futebol português neste ano. Concretamente, chega-se ao final de 2018 com mais ruído do que sumo, mas da má fama o nosso futebol já não se livra. Desde dirigentes de clubes a jogadores, as acusações foram muitas e ensombraram mais um ano em que só se devia ter visto a bola a rolar dentro das quatro linhas. O futebol português ficou a perder, outra vez, e o futuro não entusiasma. Este jogo não é bonito e tem de ver o cartão vermelho em definitivo.

[Artigo originalmente publicado às 23h50 de 23-12-2018]