Paris, claro. 2016 deu-nos Paris e, a partir de agora, teremos sempre Paris. Essa é a paragem óbvia quando chega a hora de recordar os momentos que marcaram o futebol nacional no último ano. Há mais. Algumas pintadas de vermelho e branco, seja do Benfica ou do Sp. Braga, outras com o mais carregado encarnado das seleções nacionais e outras, também, pintadas com a cor da vergonha e do vexame.

Em 2016 nem tudo foi ouro para o futebol nacional, embora pareça, se nos cingirmos a Ronaldo, que recuperou o toque de Midas e foi feliz, talvez, como nunca. Houve o bom e o mau, festa e depressão. Até alguém chamar, literalmente, a polícia. Há quem ache que é assim que, um dia, acabará o futebol. Até lá, vamo-nos entretendo. E há sempre o que contar.

Não se lembra? Ora recorde lá…

-O fim da era Lopetegui

O FC Porto entrara em 2016 como líder isolado da Liga, algo inédito no consulado de Julen Lopetegui que durava desde o verão de 2014. Mas a alegria foi de pouca dura. Em quatro dias e dois jogos, a liderança caía para o Sporting e a diferença para o primeiro posto aumentava para os quatro pontos. A 2 de janeiro, o FC Porto perde em Alvalade e cai para segundo. No dia 6 empata em casa com o Rio Ave. Três dias depois surge a confirmação: Lopetegui deixa de ser treinador do FC Porto. Nessa altura, os dragões estavam com os mesmos pontos do Benfica, que viria a ser campeão. José Peseiro demorou a chegar (Rui Barros orientou três jogos) e não conseguiu, nunca, organizar o caos. Terceira época em branco.

-Benfica volta a estar nos quartos de final da Champions

Mesmo conquistando títulos, como era exemplo os últimos dois anos antes da saída para o Sporting, havia uma crítica quase unânime a Jorge Jesus quando orientou o Benfica: as dificuldades evidentes para se impor na Liga dos Campeões. Na verdade, apenas por uma vez tinha conseguido passar a fase de grupos, chegando aos quartos-de-final em 2011/12. Rui Vitória, à primeira, iguala o feito, depois de ultrapassar o Zenit, curiosamente o mesmo adversário da ocasião anterior, com uma vitória na Rússia a confirmar o apuramento. Depois veio o «papão» Bayern Munique e o sonho acabou, embora a réplica dada tenha sido boa. De qualquer forma, quatro anos depois e apenas pela terceira vez na era Liga dos Campeões, o Benfica inscrevia o nome nas oito melhores equipas da Europa.

-O «milagre» do Tondela

Consumada no mês de maio, a epopeia do Tondela começou, contudo, a ser escrita em abril, quando Luís Alberto surpreendeu o país ao fazer o golo da vitória no Dragão. O FC Porto enfrentava uma equipa quase condenada e que já todos viam na II Liga. Antes desse jogo, à 28ª jornada, o Tondela era último com 14 pontos. Acabou a época com 30, isto é, fez 16 em seis jogos. Ganhou em Setúbal e Paços de Ferreira, bateu União da Madeira e Académica em casa, as duas equipas que viriam a descer. Das oito vitórias que teve na Liga, cinco foram a partir daquele embate na Invicta. Um «milagre», houve quem dissesse. Não terá andado muito longe, de facto...

-O escândalo «Jogo Duplo»

No mesmo dia em que o Tondela festejava a heroica manutenção, o futebol luso corava de vergonha pelo que acontecia no final da época na II Liga. Após o final dos encontros Atlético-Oriental e Oliveirense-Leixões, a Polícia Judiciária entra em ação. Oito jogadores detidos, quatro do Oriental e quatro da Oliveirense, por terem, alegadamente, aceitado luvas para prejudicar as próprias equipas nos jogos das últimas jornadas, num caso que envolvia o sempre conturbado mundo das apostas online. Presidente e diretor desportivo do Leixões também são levados, num total de 15 detenções. A viciação de resultados ataca em Portugal. O futebol envergonha-se.

-Tri-Benfica sobre a meta

Trinta e nove anos depois, o Benfica voltou a conquistar três campeonatos seguidos, vencendo ao sprint o Sporting, numa época em que fez uma corrida de trás para a frente. Chegou a parecer praticamente arredado do título, mas, paulatinamente, foi recuperando espaço e pontos, aproveitando tropeções dos rivais e mantendo firme o seu passo. Quando ganhou em Alvalade, pondo fim a uma série de três derrotas seguidas com o velho rival, saltou para o primeiro lugar e não mais o largou. Numa reta final de parada e resposta, fez sempre a sua parte, confirmando o título com uma goleada de 4-1 ao Nacional, num estádio da Luz a abarrotar. Era hora de abrir o champanhe para uma saborosa festa contra o histórico oponente e, sobretudo, contra o treinador que fora seu nos seis anos anteriores.

-Portugal tem futuro

As seleções jovens portuguesas tiveram um ano bem positivo em 2016. Mais um, aliás. O destaque maior vai, naturalmente, para a conquista do título europeu pelos Sub-17, algo que escapava desde 2003. Num torneio exemplar, em que apenas sofreram um golo (na final), os jovens lusos, orientados por Hélio Sousa, um campeão de Riade, bateram a Espanha numa final decidida apenas nas grandes penalidades. As mesmas que tinham roubado o sonho dos sub-21, um ano antes. E por falar neles, em 2016 continuaram numa marcha triunfal, agora garantindo a presença em mais um Europeu, já para o ano, na Polónia. Foi contra a Grécia, em Barcelos, com um golo de Gelson Martins que o apuramento ficou selado, depois de mais uma caminhada sem qualquer derrota. Só foi pena não ter dado para mais nos Jogos Olímpicos, nos quais a incrível convocatória de Rui Jorge, fortemente condicionada pelos clubes que recusaram ceder jogadores, ainda conseguiu meio brilharete. Deu para os quartos de final e diploma olímpico. Não houve quem não achasse que, com outros meios, poderia fazer-se bem mais...

-A Taça é do Braga

Depois do final inglório em 2015, o Sp. Braga voltou ao Jamor para…um final feliz, com contornos muito, muito parecidos. Em vez do Sporting, o rival foi o FC Porto, que se automutilou entregando uma vantagem de dois golos ao rival. Conseguiu recuperar, num jogo que catapultou André Silva, mas nos penáltis baqueou e a festa, estragada pelo Sporting nas mesmas circunstâncias um ano antes, desta vez foi mesmo para o Minho. Marafona foi o herói, travando as tentativas de Herrera e Maxi Pereira. Assim, cinquenta anos depois da primeira, a Taça de Portugal voltava a ser bracarense.

-História no feminino

Num ano de sonho para as seleções nacionais, também a sénior feminina quis juntar-se à festa. E com estrondo. Apuramento histórico para o Campeonato da Europa do próximo ano. É a primeira vez que a seleção feminina vai jogar uma grande competição, numa caminhada longa, começada a meio da década de 80 e que viu em 2016 a sua página mais brilhante. Escrita por Francisco Neto, o treinador, e por um leque de jogadoras que colocaram o nome na história, após o playoff com a Roménia. Sem golos na primeira mão, no Restelo, Portugal arrancou uma igualdade a uma bola fora, já no prolongamento, que foi suficiente para a festa. Andreia Norton, que até começou no banco, marcou o golo, num pontapé para a história. Mais um num 2016 riquíssimo...

-Ronaldo: o melhor europeu de sempre na Bola de Ouro

Não é apenas mais uma. É aquela que coloca Cristiano Ronaldo acima de todos os outros na Europa. Quatro Bolas de Ouro, depois de um 2016 absolutamente inesquecível: Champions, Europeu e Mundial de Clubes. Só faltou mesmo o campeonato espanhol, mas...alguém repara mesmo? A fechar 2016, veio então a confirmação que faltava a nível individual: a France Football entrega-lhe o prémio para melhor jogador do mundo e deixa-o na pole-position para repetir o discurso no início do próximo ano, quando a FIFA fizer as suas escolhas. Cruyff, Platini e Van Basten, cada um levou três para casa. Ronaldo chegou às quatro. Na Europa ninguém fez melhor. À frente está apenas Messi. Por muito tempo? É esperar por 2017...

-Éder chuta para a eternidade

Confessem lá: estavam à procura deste momento, não era? Não poderíamos esquecer porque será sempre INESQUECÍVEL! O minuto 109 da final do Euro 2016 terá, certamente, um lugar especial no coração de todos os portugueses que com ele vibraram. Quando Éder, o «patinho feio», acertou o remate de uma vida, o grito português ecoou por toda a Europa. Era golo. Golo de Portugal na final do Europeu, em França, contra a França. Faltavam só dez minutos para que aquela seleção conseguisse o que todos os outros sonharam e ficaram à porta. Foram eles que trouxeram a medalha, mas campeão é o país inteiro. Daquele 10 de julho em diante ficou uma certeza: nada mais será como dantes.

Agora, teremos sempre Paris.

Qual o momento do futebol nacional de 2016?

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