Mónica Jorge está habituada a ser a única mulher entre homens. A partir da próxima segunda-feira, vai repetir a experiência no curso de treinadores da UEFA (IV nível), patamar máximo que permitirá à jovem técnica estar qualificada para orientar equipas masculinas da Liga portuguesa. Mónica Jorge será a primeira mulher a atingir este patamar, desde que os cursos são certificados pela entidade que regula o futebol europeu.
Contudo, em conversa com o Maisfutebol, a actual adjunta das selecções femininas AA e sub-19 explica que o seu objectivo passa por desenvolver o futebol entre as mulheres, adiando a possibilidade de se impor entre os homens.
A paixão pelo futebol surgiu bem cedo, em Coimbra, onde Mónica Susana Carvalho Jorge começou a descortinar os movimentos tácticos dos jogadores durante as partidas da Académica, na companhia do pai. Como praticante, limitou-se ao futebol de cinco, porque o único clube a apostar no futebol feminino de onze era a União de Coimbra, o que implicava deslocações incomportáveis. «Entretanto, fui para a faculdade tirar o curso de alto rendimento, na vertente futebol. Era a única mulher nessa vertente, mas sempre me dei bem. Tinha José Peseiro como professor, nessa altura, em Rio Maior», recorda Mónica.
No terceiro ano, surgiu a oportunidade de fazer um estágio na Federação Portuguesa de Futebol. Ficou ligada ao organismo desde então. «Fui ficando. Actualmente, trabalho na selecção feminina AA e nos sub-19, com o seleccionador José Augusto. Na faculdade, também fiz um estágio em que trabalhei com futebol masculino, numa escola, mas a minha prioridade passa por desenvolver o futebol feminino em Portugal», garante.
Mónica Jorge vai ser companheira de turma de técnicos com quem tem trilhado os mesmos caminhos nos últimos tempos: «No terceiro nível, tive colegas como o Paulo Bento, o Rui Barros ou o Hélio, portanto não vai ser difícil conviver com eles. Não estou em competição com os homens, tento fazer o meu melhor e fazer boa figura, mas só isso.»
«O futebol feminino não é igual ao futebol masculino. Há diferenças físicas, emocionais, etc. Mas penso que o futebol feminino também pode ser espectacular e é com esse objectivo que trabalho», explica Mónica Jorge, afastando a possibilidade de treinar uma equipa da Liga masculina a breve prazo: «Vou, pelo menos assim espero, ficar habilitada para treinar na Liga, mas penso que a nossa mentalidade ainda não está para aí virada. Ainda não é o momento. No futuro, quem sabe?»
A Federação Portuguesa de Futebol exige que os seus técnicos possuam o nível máximo e foi nesse pressuposto que Mónica Jorge garantiu a entrada no curso que se inicia na segunda-feira. Fernando Brassard, Paulo Sousa e José Miguel (seleccionador de futebol de praia) são outros elementos dos quadros da Federação que vão frequentar o curso.
A jovem técnica espera concluir a sua formação e continuar a contribuir para o desenvolvimento do futebol feminino, área em que Portugal regista um atraso considerável em comparação com outros países. «Temos mais de vinte anos de atraso, possivelmente. Há cerca de dez anos, conseguíamos ter resultados equilibrados com equipas alemãs, por exemplo, mas entretanto os outros países evoluíram, em projectos a longo prazo, e Portugal ficou estagnado», conclui, esperançada num futuro melhor.